Berlim | ‘Where To Invade Next’
Férias pagas, almoços saudáveis para crianças, prisões sem grades, despenalização de drogas e gestão cada vez mais feminina dos governos e bancos são alguns dos segredos que Michael Moore ‘roubou’ durante o seu périplo pela Europa e que levou para a América como espólio da sua invasão da Europa, e não só.
O resultado, ainda que não isento de alguma manipulação, resulta do filme mais divertido que vimos em Berlim.
Esta operação conta mesmo com uma passagem por Portugal, onde Moore ergue o sobrolho diante dos agentes portugueses que confessam que não deteriam ninguém mesmo que tivessem 25 charros no bolso.
Na sua mais recente pedrada no charco do sonho americano, Michael Moore aponta armas para o exterior. Diz ele que mais barato que fazer novas invasões de nações estrangeiras, o governo americano deverá antes absorver os elementos mais positivos das culturas estrangeiras e reproduzi-las na América.
E, por que não até, sem pagar direitos de autor. Em vez de armamento pesado em troca de petróleo, boas ideias para aplicar internamente, em troca de usáveis melhor.
No entanto, para quem desconhece ao que vai e se baseia apenas na sugestão do título logo se rende ao quadro que mostra Moore junto de uma imagem do estado maior americano que, segundo ele, o teria indigitado para fazer a sua invasão em nome dos EUA. É assim que vemos o obeso realizador, vencedor de um Óscar, por ‘Bowling for Columbine’, a avançar mar adentro empunhando a bandeira americana.
Primeira paragem: Itália, onde este bardo americano irá inteirar-se dos prazeres dos subsídios de férias, das férias acumuladas, dos feriados religiosos, locais, das licenças de maternidade.
Benefícios sociais que os empresários assumem com naturalidade, mas que na economia privada americana seria impensável.
Duas semanas de férias pagas, no máximo, seria um benefício num emprego acima da média.
Michael desloca-se depois a França para descobrir os prazeres das cantinas gourmet em estabelecimentos de ensino público, alheias à fast food processada made in US.
Mesmo com a desconfiança de não ser propriamente o modelo, Moore pretende apropriar-se da ideia e levá-la para casa. O mesmo fará com o ensino superior maioritariamente gratuito das universidades eslovenas, com o grau de satisfação dos trabalhadores alemães, com o sistema prisional norueguês, em que os prisioneiros são enviados para uma ilha onde vivem numa espécie de comunidade onde poderão repensar a vida e aprender novos metiers.
Michael Moore mostra também que está a par da realidade portuguesa ao elogiar a política de liberalização do consumo de drogas, isto durante a deslocação ao nosso país onde o vemos em plena celebração do 1º de Maio, na Alameda, a cantar a Internacional.
E não deixa mesmo de ficar boquiaberto quando agentes da polícia lhe confirmam que não deteriam alguém mesmo que estivesse na posse de ’25 charros’… Neste caso, como em outros, Moore mostra-nos o equivalente da actuação brutal da polícia americana que estamos habituados a ver na televisão.
No entanto, a principal solução para os inúmeros descalabros das crises americanas parece vir do sucesso da implementação de equalizarias dos direitos femininos na Tunísia, bem como do crescente domínio feminino das administrações de empresas e bancos na Islândia – por curiosidade, o único banco que não foi abalado pela recente crise financeira islandesa, que derreteu a quase totalidade da banca local, foi um banco gerido por mulheres, dominado pelo credo “se não compreendemos não compramos”.
É claro que nem tudo o que Michael Moore nos mostra em ‘Where To Invade Next’ é merecedor da nossa credibilidade, já que se trata de um documentário mais destinado ao público americano, esse sim que necessita de ser confrontado com o que se passa no resto do mundo.
No entanto, é um filme que se dá bem naquela linha documental com uma vincada veia humorística e sempre acusatória em que Moore se especializou.
Nesse sentido, é até do melhor que vimos em Berlim até ao momento.