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Sábado, Dezembro 21, 2024

A (pouca) importância de Hillary Clinton e Donald Trump

Carlos Narciso
Carlos Narciso
Jornalista

trump-clinton

Mas foram 10 anos esquisitos e que deram início a uma desagregação lenta mas progressiva do sistema político dos EUA, apesar de Obama deixar a economia saudável quase sem desemprego e com um crescimento acima dos 3%. Há cada vez mais americanos a pensar em apoiar o surgimento de um terceiro partido político que venha terminar de vez com a tradicional bipolarização político-partidária entre democratas e conservadores.

Nestas eleições surgiram dois sinais nesse sentido, um foi o candidato Bernie Sanders que tentou ser nomeado pelo Partido Democrata mas perdeu para Hillary Clinton, o outro foi Donald Trump que cilindrou todos os oponentes da direita e obteve a nomeação pelo Partido Conservador.

Outsiders

Tanto Sanders como Trump são outsiders partidários e ambos começaram logo por chamar a atenção ao criticarem veementemente o sistema político em vigor, nomeadamente no que respeita à promiscuidade entre a política e a finança, entre os partidos e as grandes corporações.

Bom, mas quem vai vencer estas eleições? A senhora Clinton foi considerada vencedora nos três debates televisivos que se realizaram entre ela e Trump. Mas, em algumas sondagens, Trump surge em vantagem na intenção de voto dos americanos.

Na verdade, os americanos não votam directamente no Presidente dos Estados Unidos. Eles votam na eleição de delegados do Colégio Eleitoral que, estes sim, irão eleger o Presidente. Acontece que os candidatos a esse Colégio Eleitoral estão já referenciados como apoiantes de um ou outro dos candidatos presidenciais e, portanto, a composição do Colégio Eleitoral tem uma relação directa com a eleição do Presidente. Os membros do Colégio Eleitoral são eleitos em cada um dos Estados da União e é por isso que há Estados mais importantes que outros, os mais populosos elegem mais membros do Colégio.

Media

Outro factor de peso nestas eleições é o apoio que os candidatos recebem dos media. Nos Estados Unidos é tradição jornais, rádios e canais de televisão revelarem que apoiam um ou outro candidato.

É evidente que quando um dos candidatos tem mais apoios nesta área acaba por ser favorecido e, aqui, Hillary também tem vantagem uma vez que recebeu apoios de 184 orgãos de comunicação social e Trump apenas teve cinco.

Até mesmo dentro do Partido Republicano, Donald Trump continua até hoje a ser motivo de dissensões, com congressistas e senadores republicanos a anunciarem que irão votar em Clinton.

Quer isto dizer que Trump já perdeu? Não, de todo. Em algumas sondagens ele surge como potencial vencedor e, na verdade, este candidato tem imenso apoio popular, nomeadamente na chamada América profunda, na população rural e mais tradicionalista e, eventualmente, menos permeável às influências dos media.

Trump tem manipulado com alguma eficácia o argumento de que ele será um Presidente de ruptura com o sistema, nomeadamente na desregulação da actividade empresarial, uma ideia que agrada às corporações e a uma boa parte dos milhões de pequenos e médios empresários que não se importariam nada de ter menos impostos para pagar e menos controlo ambiental e menos regras de conduta.

Para quem olha para a política americana à distância, é nítido que a popularidade de Trump deve-se também, em parte, à própria Hillary Clinton, considerada um ícone da decadência política e uma representante dos interesses corporativistas. Na América e no Mundo, Hillary Clinton já criou demasiados anticorpos devido a muitas evidências dessa promiscuidade semelhante à corrupção.

Se a candidata do Partido Democrático vencer é porque junto dos americanos Trump ainda tem menos crédito que ela, numa luta eleitoral onde, para o resto do Mundo, o ideal seria que nenhum deles lá estivesse.

Um presidente, por si só, vale de pouco

Mas enfim, mesmo sem ter bola de cristal para vos dizer como será o Mundo com Hillary Clinton ou Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos da América, digo-vos que não acredito que algum deles venha a ser um bom presidente.

Trump é um acelerador de racismo e xenofobia, de ignorância e prepotência, é um construtor de muros, um cowboy bronco que vive para matar índios.

Clinton é uma “boneca” nas mãos das corporações financeiras, da máquina de guerra, ela representa a decadência da classe política tradicional, mentirosa e egoísta.

Mas enfim, o que vale é que um presidente, por si só, vale de pouco como, de resto, se viu durante os consulados de Barack Obama. Qualquer que seja o vencedor, o verdadeiro poder político na América está no Senado e no Congresso, na máquina burocrática de Washington e, ainda, no Supremo Tribunal. São estes os filtros que dissipam iniciativas “fora da caixa” dos presidentes, ou seja de quem for, e que têm conseguido manter o sistema em funcionamento.

Quando o vencedor das eleições de amanhã for empossado vai jurar cumprir a Constituição dos Estados Unidos da América, com a ajuda de Deus. Mais do que um juramento, é um acto de submissão às regras do sistema.

Nota do Director

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