Foi talvez a decisão óbvia. Outra coisa não seria de esperar por parte do PR, sendo ele quem é e sendo a tradição política portuguesa o que é.
Mas a acrimónia manifestada para com um conjunto de partidos que, juntos, representam mais de metade do eleitorado, não é própria de alguém que é suposto ser o presidente de todos os Portugueses.
Foi uma intervenção amarga, de quem está descontente com os resultados eleitorais e não sabe dialogar com os seus oponentes políticos. Lamentável.
Mas a intervenção do PR não é só lamentável. É também inaceitável porque tende a gerar um clima de intolerância totalmente injustificado.
Portugal não vive em regime de excepção e que me conste as liberdades não estão suspensas. Não há partidos com mais direitos do que outros e não é por alguns questionarem a NATO ou a UE que podem ser marginalizados do exercício do poder.
A própria França, com governos de direita, já esteve longos anos fora da estrutura militar da Aliança Atlântica e agora é o Reino Unido, também com a direita, que se prepara para fazer um referendo sobre a pertença ou não do país à União Europeia.
Por outro lado, há partidos comunistas, em países europeus, que já tiveram ou têm acesso ao poder.
Marginalizar a esquerda à esquerda do PS, como hoje fez o PR, é portanto manifestamente inconstitucional e um caminho perigoso, que nem no 25 de Novembro de 1975, quando Portugal esteve à beira da guerra civil, foi seguido.
Ao rejeitar à priori uma solução à esquerda que pode ser tanto ou mais estável que um governo de direita, o PR arrisca-se a provocar no pais a instabilidade que afirma querer evitar.
E chega, até paradoxalmente, a induzir uma reacção negativa dos mercados que estes, por si mesmos, até agora não manifestaram, dando a entender que consideram sérias as garantias que têm sido dadas pelo líder da Oposição.
Nestas circunstâncias, nomear um governo de gestão desacreditado no Parlamento, à espera de novas eleições daqui a seis meses, seria pior a emenda que o soneto. Sem garantias, aliás, de que os resultados viessem a ser muito diferentes.
Não, não estamos em guerra civil e o país pode bem conviver com as suas duas grandes correntes políticas. Na condição de que não se aticem os ânimos e se cultive a tolerância, o que implica que não pode haver anátemas sob o falso pretexto de algumas vacas sagradas que há muito deixaram de o ser.