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Domingo, Novembro 17, 2024

Pregar abstinência ou desbunde não resolve o problema da gravidez precoce

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

A proposta da Ministra Damares Alves de incentivar a abstinência sexual para inibir a gravidez precoce e todos os problemas que dela advém, não apresenta soluções efetivas e responsabiliza os indivíduos.

Em entrevista para o Estúdio CBN, dia 2 de dezembro de 2019, o infectologista Ricardo Diaz falou sobre a disseminação e a busca de soluções para o controle da AIDs. Segundo ele, nos últimos anos a epidemia teve um salto e, posteriormente, uma sensível queda, entre homens jovens. Isso se deu possivelmente como consequência do advento de um medicamento chamado PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) que previne a contração do HIV, assim como um anticoncepcional previne a gravidez.

Diaz afirmou que esses remédios estão pela primeira vez mudando a epidemia de forma efetiva e reconheceu que o Estado e agentes de saúde não foram competentes em mudar a sexualidade das pessoas só com base em campanhas alertando para o problema das DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).

Segundo ele “a despeito das atividades das pessoas a gente tem que oferecer essa condição de ela não pegar o HIV”. E concluiu dizendo que: “É a mesma coisa que eu chegar para um paciente e falar: ‘Seu colesterol está alto, mas não vou te dar um remédio para o colesterol porque antes quero que você pare de fumar’. Isso não é ético”. Ou seja, não cabe ao Estado culpar o indivíduo por um problema que se tornou coletivo. O que o poder publico precisa é buscar uma solução efetiva.

Na contramão de inovações como esta, a proposta da Ministra Damares Alves de incentivar a abstinência sexual para inibir a gravidez precoce e todos os problemas que dela advém, não apresenta soluções efetivas e responsabiliza os indivíduos. No caso, os jovens, muitas vezes carentes de recursos e de informações. A ministra lida com o assunto reforçando o discurso dos segmentos mais conservadores da sociedade. Em pouco tempo, porém, a realidade mostrará da pior forma que uma proposta como esta está fadada ao fracasso.

Não vai funcionar porque, a exemplo do que já ocorreu nas tentativas de controle da epidemia da AIDs, ela não vai convencer os jovens a praticarem a abstinência sexual. Ela não vai, enfim, colocar-se, como Estado, no momento íntimo em que o jovem escolhe o que faz com seu corpo.

E, de pouco adianta o deboche de nichos dos setores ditos progressistas, que gostam de exibir sua pretensa superioridade comportamental. Assim como a ministra não vai conseguir se impor nas relações sexuais de cada jovem brasileiro, tais nichos de evoluídos do comportamento vão se alienar cada vez mais se continuarem a debochar da mentalidade conservadora de muitos cidadãs e cidadãos brasileiros.

Mais do que isso, esta resposta debochada e exibicionista à ministra Damares tem um lado perverso e nocivo. Pregar o incentivo a uma sexualização exacerbadamente liberal é o outro lado da moeda da pregação da abstinência e castidade, igualmente patrulhador pois sinaliza ao jovem que se ele não for liberal e permissivo sexualmente ele pode ser visto como careta, esquisito e fora de moda. É como se de um lado o sexo fosse proibido e do outro, obrigatório.

A solução está no acesso a informações confiáveis e ao conhecimento atualizado e, principalmente, no incentivo ao senso crítico para que os jovens possam compreender as questões psicológicas, sociais e de saúde envolvidas na iniciação e desenvolvimento da vida sexual.

Está também no acesso à contraceptivos, para homens e mulheres, e na oferta de meios legais e que respeitem a saúde da mulher de evitar uma gravidez inoportuna, considerando que isso pode também decorrer da violência sexual.

Tais soluções estão nas mãos do Estado, mas também das famílias, das escolas e de entidades de classe que podem também exercer esse papel de fomentar o debate e a busca de informações entre os trabalhadores.


Texto em português do Brasil


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