“São Jorge”, retrato de um pesadelo que ainda aí está.O filme “São Jorge”, de Marco Martins, foi o grande vencedor dos Prémios Sophia 2018, instituídos pela Academia Português de Cinema. A Gala de divulgação e entrega dos galardões teve lugar na noite do passado domingo no Casino Estoril. Muitos dos principais nomes do cinema português dos nossos dias encheram a sala para esta sessão de exaltação e homenagem aos que, em Portugal, insistem em transportar para o ecrã, através da ficção ou do documentário, a sua criatividade e o modo como vêem a História (remota ou recente), as sociedades, as relações entre as pessoas e os seus problemas do quotidiano.
Marco Martins, Nuno Lopes e José Raposo
“São Jorge”, essa bela e trágica abordagem de um Portugal mergulhado numa crise que ainda resiste em múltiplas evidências, como muito bem referiu o actor Nuno Lopes, era à partida o mais forte candidato à conquista de várias distinções. Estava nomeado para treze prémios. As previsões confirmaram-se e o filme de Marco Martins venceu em sete categorias: melhor filme, melhor realizador, melhor actor (Nuno Lopes), melhor actor secundário (José Raposo), melhor fotografia (Carlos Lopes), melhor argumento original (Ricardo Adolfo e Marco Martins) e melhor direcção artística (Wayne dos Santos).
Carlos Lopes, Rita Blanco e Isabel Abreu
Rita Blanco em “Fátima” de João Canijo foi considerada a melhor actriz e Isabel Abreu em “Uma Vida à Espera” de Sérgio Graciano, a melhor actriz secundária. É também deste filme a melhor canção original, ‘Fim’ de Lúcia Moniz.
“A Fábrica do Nada” de Pedro Pinho saiu da gala também com dois Prémios Sophia – melhor argumento adaptado e melhor montagem – e “Peregrinação” de João Botelho com três, em categorias tidas como secundárias: melhor guarda-roupa, melhores efeitos especiais/caracterização e melhor maquilhagem/cabelos.
A destacar ainda a melhor banda sonora, de Rita Redshoes e The Legendary Tigerman, em “Ornamento e Crime” de Rodrigo Areias e o melhor som de Pedro Melo, Elsa Ferreira e Branko Neskov em “Al Berto” de Vicente Alves do Ó.
O melhor documentário foi “Nos Interstícios da Realidade ou o Cinema de António de Macedo, de João Monteiro.
Lauro António, Ana Lorena e Artur Correia
De referir ainda os Prémios de Carreira atribuídos ao realizador (mas sobretudo homem de cinema) Lauro António, à caracterizadora Ana Lorena e ao pioneiro do cinema de animação em Portugal, Artur Correia, recentemente falecido.
Uma nota ainda para dar conta de algum amadorismo ou pouca atenção da maioria dos apresentadores que anunciavam os prémios referindo o nome dos premiados sem dizerem o filme em que tinham feito o trabalho distinguido. Acontecendo que a responsável de guarda-roupa Sílvia Grabowski estava nomeada em dois filmes, o seu nome como vencedora foi referido por entre gritinhos estridentes ficando por se saber em qual dos filmes ganhou o prémio. Também de notar o gosto muito duvidoso (ou se quiserem, mau gosto) das graçolas do apresentador Manuel Marques, como muito bem fez notar um dos intervenientes em “A Fábrica do Nada”.
Finalmente, e no que diz respeito à realização televisiva – foi através dela que segui a gala – é preciso ser muito distraído para durante a evocação das pessoas de cinema desaparecidas em 2017, que se seguiu à bela intervenção de Maria do Céu Guerra, se ter optado muitas vezes por fazer grandes planos da guitarrista Marta Pereira da Costa ou então planos de toda a sala, afastadíssimos do ecrã, não permitindo ao espectador de televisão ver os nomes de várias das personalidades evocadas.
- Prémio Mérito e Excelência – Lauro António (realizador), Ana Lorena (caracterizadora) e Artur Correia (realizador de cinema de animação)
- Melhor Filme – “São Jorge”
- Melhor Realizador – Marco Martins, “São Jorge”
- Melhor Actriz Principal – Rita Blanco, “Fátima”
- Melhor Actor Principal – Nuno Lopes, “São Jorge”
- Melhor Actriz Secundária – Isabel Abreu, “Uma vida à espera”
- Melhor Actor Secundário – José Raposo, “São Jorge”
- Melhor Fotografia – Carlos Lopes, “São Jorge”
- Melhor Som – Pedro Melo, Elsa Ferreira e Branko Neskov, “Al Berto”
- Melhor Montagem – Cláudia Oliveira, Edgar Feldman e Luísa Homem, “A Fábrica de Nada”
- Melhor Direcção Artística – Wayne dos Santos, “São Jorge”
- Melhor Argumento Original – “São Jorge”, de Ricardo Adolfo e Marco Martins
- Melhor Argumento Adaptado – “A Fábrica de Nada”, de Pedro Pinho, Luísa Homem, Leonor Noivo e Tiago Hespanha, baseado na peça original The Nothing Factory, de Judith Herzberg
- Melhor Banda Sonora Original – Rita Redshoes & The Legendary Tigerman, “Ornamento e Crime”
- Melhores Efeitos Especiais/ Caracterização – Nuno Esteves “Blue”, “Peregrinação”
- Melhor Guarda Roupa – Sílvia Grabowski, “Peregrinação”
- Melhor Maquilhagem e Cabelos – Rita Castro, Felipe Muiron, “Peregrinação”
- Melhor Documentário em Longa-Metragem – “Nos Interstícios da Realidade ou o Cinema de António de Macedo”, de João Monteiro
- Melhor Documentário em Curta-Metragem – “O homem eterno”, de Luís Costa
- Melhor Curta-Metragem de Ficção – “Coelho Mau”, de Carlos Conceição
- Curta-Metragem de Animação – “A Gruta de Darwin”, de Joana Toste
- Melhor Canção Original – “Fim”, de Lúcia Moniz, “Uma Vida à Espera”
- Melhor Série – “Madre Paula”
- Prémio Sophia Estudante – “Snooze”, de Dinis Leal Machado (ESMAD)