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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

O preocupante silêncio de Sérgio Inocente

Luís Fernando, em Luanda
Luís Fernando, em Luanda
Jornalista, correspondente do Tornado em Angola

Sérgio Inocente desapareceu dos radares da política doméstica por várias semanas. Ninguém mais o viu desde aquele dia em que Joni Lô, o candidato que mais medo mete, entrou a matar com o seu discurso demolidor e a roubar, para si, todo o protagonismo, o que lhe era devido e o que se pensava reservado aos adversários.

A notícia naquela terra agitada pelas eleições a caminho é um não acontecimento: ninguém sabe de Sérgio Inocente.

Os que pensam a sua campanha, espertinhos, optaram por uma retirada sabática. Ninguém os vê, tal como o candidato. De Zumba, a mulher com sonhos de primeira dama, sabe-se igualmente pouco. Apenas que não abandona o seu querido, numa hora que os exagerados interpretam como um KO irrecuperável mas que, em bom rigor, é apenas um parêntesis que se fechará a qualquer momento. Porque a batalha não pode ser deixada a meio.

– Deixai-os que digam o que entenderem. Quando reaparecermos até vão ter saudades destes dias de silêncio – sossegou Sérgio Inocente a companheira de toda a vida, na última vez em que quis falar de política em casa.

– Marido, não podes ficar mais tempo sem dar sinal. Não te esqueças das bases. Ainda pensam que te acobardaste e que os largaste à sua sorte – permitiu-se aconselhar Zumba, a medo. O esposo-candidato não anda muito receptivo, ultimamente, a palpites de fora, nem mesmo os que lhe chegam da mulher.

– Zumba, se continuas a atrapalhar os meus planos de campanha, não vai haver nem palácio nem esta casa. Pões em perigo o teu «posto» de mãe-grande – ameaçou um Sérgio Inocente visivelmente enfurecido.

Sem hipóteses nem tempo para réplicas verbais, Zumba recolheu-se à pressa na cozinha, convencida de que recuperaria o humor do seu amado Sérgio dali a instantes. Ser «mãe-grande», isto é, a mulher de toda a vida, confere-lhe um estatuto que nem a lógica por vezes irracional da política consegue subverter. O Amor, aprendeu desde muito cedo quando uniu o seu coração ao daquele político perdedor, acalma até as mágoas mais tormentosas, como parece ser a que devasta por estes dias o marido: lidar com a quase certeza de que, mais uma vez, o palácio continuará no mesmo sítio mas para outra família!

– Querido, este licor de múcua com gengibre, que é um grande relaxante, vai trazer de volta a tua boa disposição. É uma fórmula nova criada pela tua Zumbinha e traz o sabor especial do mês da mulher. Dá lá um beijinho, meu candidato!

-Ah Zumba Zumba, se não fosses a mãe querida dos meus ricos herdeiros, juro que acreditava que eras uma agente infiltrada para dar cabo da minha carreira política!

O Autor escreve em português de Angola

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