Marcelo ganha à primeira volta com 24,8% dos votos.
Leu bem: 24,8% dos votos.
Por uma lógica que me escapa as percentagens das votações são calculadas sobre os votos validamente expressos. Isso retira as abstenções, os votos brancos e os nulos porque não são considerados votos validamente expressos.
Ao não adoptar o voto obrigatório, onde todos os cidadãos são obrigados a votar (é a solução que advogo), cria-se uma situação onde uma minoria pode eleger alguém e assumir-se como maioria.
Um eleitor que não queira votar em nenhum dos candidatos não tem opção.
É um cidadão que não existe em termos eleitorais.
Mas existe em termos reais, é um cidadão de carne e osso, que paga impostos, que tem cartão de cidadão, que pode ser preso, condenado, etc.
O cidadão que se abstém pode fazê-lo por não se rever em nenhum candidato, por achar que nada muda porque todos esquecerão as promessas e farão exactamente o mesmo que têm vindo a fazer, por se estar nas tintas para eleições, e por muitas outras razões mais moderadas ou mais radicais.
O que vota nulo muitas vezes fá-lo porque é a única forma de dar vazão ao que sente escrevendo uma mensagem no boletim de voto, o que obviamente o torna nulo.
Julgo que na sua grande maioria são expressões de revolta e insultuosas: filhos disto e daquilo, vão trabalhar malandros, vocês são todos corruptos, etc. Marcam uma posição e esta é a única forma que encontram para o fazer.
O voto branco define a mesma posição mas de uma forma pacífica, não insultuosa, não provocadora ou até de uma forma tímida porque não houve coragem de o fazer de forma expressa, apesar de anónima. De certo modo é a via dos tímidos ou dos que optam por não se absterem mas não se revêm em nenhuma das opções em confronto.
Considerando que o voto de todos os cidadãos merece ser tido em conta, mesmo as abstenções, temos que o universo de eleitores era de 9 700 891 e votaram em Marcelo 2 410 130, ou seja, cerca de um quarto dos eleitores.
Ou seja o novo Presidente foi eleito por menos de um quarto dos cidadãos eleitores.
Chamar à maioria dos votos validamente expressos “maioria absoluta” é incorrecto e leva a que se pense que mais de metade dos eleitores escolheram Marcelo para Presidente da República o que não é verdade.
O que coloco em causa não é quem foi eleito (o raciocínio é igual independentemente de quem é eleito) mas sim o sistema que, em minha opinião, está errado, é enganador e não serve a eventual resposta de que em outros países é assim.
Por exemplo Marisa Matias, que fez uma excelente campanha e terminou na terceira posição, teve menos de meio milhão de votos em pouco mais de nove milhões e meio de eleitores. Votação relevante?