A Colômbia vive um momento chave da sua história. Será a primeira vez após ter sido firmado um marcante Acordo de Paz (AP) com a guerrilha das FARC-EP que 36 milhões de colombianos serão chamados às urnas, domingo, 27 de Maio, para elegerem o próximo Presidente, que sucederá ao actual incumbente e Prémio Nobel da Paz, em 2016, Juan Manuel Santos. Quando já se vota no exterior uma panorâmica sobre a eleição e os candidatos.As principais preocupações actuais dos nacionais da pátria de Gabriel García Márquez são a corrupção, a insegurança nos maiores aglomerados urbanos, provocada pela delinquência comum, a desconfiança no sistema judicial, e o desemprego, que gera uma maior desigualdade social. De notar que a implementação do AP não está no topo das apreensões dos colombianos. Não é de estranhar que o desinteresse pela política seja dominante, fruto da incapacidade dos políticos em resolverem os desafios com que a maioria da população depara-se no seu quotidiano.
O sistema de eleição funciona a duas voltas, se necessário. Se nenhuma candidatura obtiver mais de metade dos votos, os dois candidatos mais votados a nível nacional nesta primeira volta irão novamente às urnas a 17 de Junho. O vencedor será empossado a 7 de Agosto. Ao contrário do que tem acontecido com os dois últimos Presidentes, o novo eleito irá cumprir um mandato único de quatro anos.
Há sete candidaturas que irão submeter-se ao veredicto dos eleitores, mas só cinco são realmente competitivas. Segue-se uma breve apresentação de cada uma.
Iván Duque, candidato pelo Centro Democrático (direita), é acompanhado por Marta Lucía Ramírez como candidata vice-presidencial. O pretendente a ocupar a Casa de Nariño foi escolhido pelo ex-Presidente Álvaro Uribe, figura tutelar da direita e o Senador que recolheu mais votos nas Legislativas, realizadas em 11 de Março. Assinale-se que a sua experiência política é diminuta, tem 41 anos, e que nunca desempenhou nenhum cargo político de liderança. A sua candidatura é uma confluência das forças que apoiaram o “Não” no Plebiscito ao Acordo de Paz, realizado no início de Outubro de 2016. Representa os sectores mais conservadores da sociedade e que apostam inequivocamente na manutenção do status quo. Propõe alterações significativas ao AP, nomeadamente no que concerne à aplicação de penas aos ex-guerrilheiros. Deseja unificar os vários tribunais do país num só. No sector económico, aposta no desenvolvimento da ‘Economia Laranja’, que combina diversas actividades artísticas e culturais para produzir riqueza, mas também nas infraestruturas estatais e nos sectores extractivo (petróleo e minas).
Gustavo Petro, 58 anos, pelo Movimiento Colombia Humana (esquerda), tem Ángela María Robledo, Representante ao Congresso do Partido Alianza Verde, como sua candidata a Vice-Presidente. Pertenceu à extinta guerrilha M-19 e foi presidente da câmara de Bogotá. Assenta o seu programa no combate à corrupção, às elites políticas instaladas e ao status quo. Aposta na mudança do modelo económico, materializada através do desenvolvimento de programas de apoio social às camadas mais desfavorecidas, no ensino superior gratuito, na reforma do sector agrícola, em que as terras sem produção serão taxadas, e nas fontes renováveis de energia, afastando o país da dependência das exportações do petróleo e do carvão. É acusado pela direita de ser um candidato Castrochavista, que iria levar a Colômbia pelo mesmo caminho da Venezuela. Tem gerado simpatias principalmente nos mais jovens que vivem nos grandes centros urbanos.
A candidatura de Sergio Fajardo, de 61 anos, doutorado em Matemática, ex-presidente da câmara de Medellín e ex-governador de Antioquia, pela Coalición Colombia (centro-esquerda), formada pela Alianza Verde, o Polo Democrático Alternativo e o Compromiso Ciudadano, tendo como candidata a Vice-Presidente Claudia López, assenta em cinco pontos basilares: reconciliação, cultura cívica, segurança, combate à corrupção e educação. Representa uma opção para os votantes que rejeitam em simultâneo Santos e Uribe.
Germán Vargas Lleras, 56 anos, pelo movimento Mejor Vargas Lleras (centro-direita), tem Juan Carlos Pinzón como candidato a Vice-Presidente. De entre todos é aquele sobre quem recaem mais suspeitas de ligações aos sectores mais corruptos da Colômbia. Mudou de opinião acerca do AP, passando de crítico a apoiante, o que fez com que passasse a contar com o apoio do Partido de la U (centro), do Presidente cessante, de quem foi Vice-Presidente. Não aceita as conversações de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha activa no país, propondo o reforço das forças de segurança. Quer estimular o crescimento económico através da agilização da pesada máquina burocrática, que é um obstáculo ao investimento, principalmente estrangeiro, e apresenta um programa massivo de construção de habitações.
Pelo Partido Liberal (centro) concorrem o veterano da política Humberto de la Calle, com 71 anos, ao cargo de Presidente e Clara López a Vice-Presidente. Ele foi o chefe negociador por parte do Governo nas conversações de paz com as FARC-EP, que decorreram em Havana, Cuba, de 2012 a 2016. É o concorrente que mais apoia inequivocamente o AP, o que acaba por ser-lhe, paradoxalmente, desfavorável. Promete reduzir a desigualdade, um dos mais graves problemas do país, e tornar a Colômbia mais competitiva
De notar que a FARC, o partido político que resultou da extinção da guerrilha marxista com a mesma sigla, desistiu de concorrer devido ao seu líder Rodrigo Londoño, mais conhecido como Timochenko, ter sido submetido a uma intervenção cirúrgica ao coração.
Com excepção de uma fórmula presidenciável, quatro das candidaturas principais são mistas, sendo que o candidato masculino é em todas, mesmo nas mais pequenas, o pretendente presidencial.
O ELN decretou um cessar-fogo para vigorar durante o período eleitoral. Todavia, pairam sombras sobre o processo. À semelhança do que sucedeu nas mais recentes Legislativas, há acusações, proferidas principalmente por Gustavo Petro, de possível fraude. Porém, elas têm sido prontamente desmentidas pelo Governo, que garante que estas serão as Presidenciais mais transparentes de sempre.
Com base nas sondagens que têm vindo a público, não se espera que a eleição fique resolvida este domingo. Os favoritos a passarem à segunda volta são Iván Duque e Gustavo Petro. As chances dos restantes candidatos são escassas. Contudo, convém ressalvar que as sondagens na Colômbia são pouco fiáveis e que a compra de votos é, lamentavelmente, uma prática comum. Donde, é possível que Gérman Vargas Lleras possa ainda ter algumas hipóteses, segundo o próprio afirma.
O que o barómetro da opinião pública mostra é que os candidatos nos extremos do espectro político sejam os escolhidos para passarem à segunda volta, em detrimento dos que pertencem ao centro, mais moderados. Não se trata de uma novidade para aquele país da América do Sul, visto o confronto, muitas das vezes violento, entre os dois polos políticos mais extremados tem sido, infelizmente, uma constante ao longo da sua história.
Esperemos que os colombianos participem em número significativo neste acto eleitoral e que decidam em consciência qual é o melhor líder para dirigir-los neste momento de charneira para o seu martirizado país. Oxalá que os candidatos estejam também eles à altura das necessidades da Colômbia.
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