Cavaco Silva pressiona deputados opositores de António Costa
O Presidente da República indigitou o líder do PSD e da coligação Portugal à Frente, Pedro Passos Coelho, para formar Governo no prazo de dez dias “seguindo a regra que sempre vigorou há 40 anos”. Mas, face ao anunciado chumbo parlamentar pelo PS, BE e PCP, Cavaco Silva coloca o futuro do próximo executivo PSD/CDS nas mãos de alguns deputados socialistas que são contra a aliança do partido à esquerda.
Cavaco não só legitimou a tradição de quem vence governa mesmo em minoria como também manifestou um dura, total e absoluta rejeição à alternativa liderada pelo PS apoiada pelo Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português. “Lamento profundamente que interesses conjunturais se tenham sobreposto à salvaguarda do superior interesse nacional”, sublinhou Cavaco Silva.
E argumentou esta afirmação que mais pareceu o combate a um “golpe de Estado” da esquerda com trágicas consequências para o país, com o factor de fazer parte da União Europeia “Fora da zona euro o futuro de Portugal seria catastrófico. Nunca em 40 anos de democracia os governos portugueses dependeram do apoio de forças políticas antieuropeístas, que defendem a revogação do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental, da união bancária, do pacto de estabilidade e orçamento, o desmantelamento da união económica e monetária, da saída de Portugal da moeda Euro e a dissolução da NATO”, destacou Cavaco Silva. “Este é o pior momento para alterar os fundamentos do nosso regime democrático”, sublinhou.
Cavaco Silva considera a alternativa PS/BE/PCP “claramente inconsistente” e deixou bem clara a sua oposição a uma aliança à esquerda. “É meu dever tudo fazer para impedir que sejam transmitidos sinais errados às instituições financeiras, aos investidores e aos mercados, pondo em causa a credibilidade externa do país”, afirmou.
Cavaco lamentou ainda que o PS não se tenha entendido com a coligação PSD/CDS e perante uma rejeição maioritária do parlamento ao Governo de Passos Coelho, que implica a sua demissão, apelou à “responsabilidade” dos deputados “tendo em conta o superior interesse da nação”. As palavras de Cavaco ficaram penduradas na esperança nos socialistas que se opõem a António Costa e o manifestaram publicamente. A decisão de Cavaco foi revelada em cima da reunião da Comissão política do PS, para apresentação dos acordos políticos com o BE e PCP com vista a uma alternativa de Governo.
Esquerda pronta para fazer Governo cair
Nas reacções oficiais e imediatas, João Soares, do PS, diz que a decisão do Presidente da República representa “uma perda de tempo e que aquele que foi indigitado vai cair na Assembleia da República”. Pedro Filipe Soares considera a decisão com bases que colocam o Presidente da República “quase como um comentador de direita”. Disse ainda que o PSD e o CDS perderam a legitimidade para continuar a governar e só o presidente é que os quer salvar desta situação”. João Oliveira, do PCP, afirmou que esta decisão “revela um absoluto desprezo pela vontade expressa pelo povo português e revela total ausência de imparcialidade ao pôr-se ao serviço do PSD e do CDS”. O comunista diz que Cavaco “é o único responsável pela instabilidade que será criada”.
Já do lado da coligação Portugal à Frente, o porta-voz do PSD, Marco António Costa, espera agora que “seja possível encontrar a estabilidade que não foi encontrada nas negociações”.
Nuno Melo, do CDS, a quem coube a reacção oficial do partido afirmou que “foi um dos discursos mais corajosos dos mandatos do Presidente da República, onde traçou uma fronteira entre os que defendem a União Europeia e os outros partidos que a rejeitam”.