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Sábado, Dezembro 21, 2024

Bolsonaro, um criminoso em fuga

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Nos dois discursos que fez para suas falanges extremadas, nas manifestações de ontem,  ao fazer do  ministro Alexandre de Morais um alvo tão claro e direto, Jair Bolsonaro se entregou: toda a encenação golpista decorre de seu pavor de ser preso. Ele sabe que, como chefe do inquérito que investiga atos antidemocráticos, Morais já desvendeu todos os crimes cometidos por ele, seus filhos e aliados, de 2018 até hoje. Bolsonaro é um criminoso tocando fogo na cidade para fugir.

Ele mostrou sua força, sem dúvida, principalmente na Paulista, mas não foi o ronco prometido, e a participação pode ter sido até frustrante,  diante do aparato utilizado por governo e aliados para arrebanhar apoiadores em diversos estados. Mas foi o suficiente para gerar imagens de impacto e permitir-lhe a retórica de que ali estava “o povo brasileiro”, embora saibamos, pelas pesquisas, que hoje menos de 30% o apoiam e nele votariam  em 2022.

A compreensão de seus motivos, das razões do desatino, não nos permite, entretanto, subestimar o perigo que ele continua representando para a democracia e a estabilidade, e os danos que vem causando ao pais com a estrepolia radical.

Neste 8 de setembro ouviremos mercado e investidores acordarão de ressaca, espantados com tamanha anormalidade política: o presidente se coloca fora da lei, desafia a Justiça e comete crimes de responsabilidade a céu aberto.  Não dá para confiar num país assim.

Neste dia seguinte, 8/9, temos que ter uma resposta das instituições. Esperar até quando e o quê mais? Os ministros do STF conversaram por videoconferência ontem. O presidente Fux fará um pronunciamento sóbrio e duro mas eu espero que o Supremo possa encontrar, na Constituição, um remédio eficaz e rápido contra quem ameaçou o poder Judiciário.

A frase mais greve de Bolsonaro foi esta, que disse após  atacar Morais no primeiro discurso:

– Ou o chefe deste poder enquadra o seu, ou este poderá sofrerá as consequencias que não queremos.

Ou seja, ou STF dá um sumiço no inquérito (enquandrando Alexandre), ou sofrerá uma intervenção.  Mais tarde diria em São Paulo que não acatará decisões de Morais e que ninguém o prenderá. Ele sabe o que fez e o que está sendo descoberto, inclusive como foi financiada sua eleição, movida a fake news. E quem bancou, em 2020, os atos que embalaram o neofascismo, no inicio da pandemia. Se ela não tivesse vindo, onde eles teriam chegado?

A resposta mais concreta do STF pode ser também a aceleração das conclusões do inquérito que aterroriza Bolsonaro.

Mas o que ele cometeu ao vivo foi um crime de responsabilidade, e isso é com o Congresso, dirão alguns. Ah, mas tem o Arthur Lira sentado sobre a pilha de pedidos de impeachment que não despacha. Hoje saberemos o quanto mudou, ou não, a disposição do Congresso e dos partidos para nos livrar de Bolsonaro via impeachment. Há partidos, como o PSDB, marcando discussão do assunto. Os do Centrão estariam balançando na lealdade alugada.

O 7 de setembro continua hoje, portanto. Bolsonaro também vai se reunir com o Conselho de Governo (e não da República), composto por seus ministros e o vice. Sabe-se lá o que sairá daí.

Mas é chegada a hora. Esperar mais o quê? Não repitamos o velho hábito de colocar cadeado em porta arrombada.


Texto original em português do Brasil

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