As “primárias” são um excelente caso de… total ingenuidade.
A “ideia” e a narrativa da coisa defendem que as “primárias” são a boa forma de quebrar o autismo dos aparelhos partidários, de quebrar o seu isolamento e a sua endogamia com a entrada e a participação directas dos eleitores nos processos internos de decisão dos partidos. Esta a boa intenção. Digna de um qualquer bom escuteiro. A realidade, porém, mostra-se muito diferente.
As recentes “primárias” nos partidos da direita e da esquerda governamentais de França (republicanos e socialistas) vieram pôr a nu o que já se suspeitava existir por baixo da roupagem de tal “ideia” e sua narrativa: uma intervenção violentíssima (de dimensões nunca vistas), de lobistas e outros dispositivos discretos, nos universos dos partidos e a consequente escolha de candidatos que os respectivos partidos não assumem realmente ou até se encarregam de liquidar…
A narrativa apologética das “primárias” revela, nesta campanha presidencial de França (uma república presidencialista), a sua realidade de diáfano manto de uma fantasia ocultadora da intervenção brutal, na vida política dos partidos, de aparelhos estranhos, dispositivos discretos e interesses ocultos.
Em resultado destas “primárias”, a França mergulhou na pior confusão pantanosa dos últimos 60 anos (desde 1958, pelo menos). Os candidatos escolhidos pelas “primárias” nos partidos “republicano” e “socialista” (Fillon e Hamon) fazem tristíssimas figuras, dois candidatos “populistas” (que não foram a “primárias…) lideram as sondagens (Marine e Macron) e só por milagre a esquerda e a direita governamentais não serão varridas da paisagem política.
Como acontece com todas as boas intenções sem racionalidade estratégica, o Diabo (o tal que o Vaticano já decretou não existir…) usa-as para atapetar os aposentos do seu inferno.