… projectos que têm que interessar e servir da mesma forma os dois ou mais destinos que ligam. Projectos ponte que não serão de um ou de outro lado, mas sim um espaço do entre, mestiço, que vai contribuir para a emergência de uma realidade outra que já não é de cada um dos destinos, mas sim da língua portuguesa, da pátria de que falava Pessoa.
Se para o desenvolvimento desta ideia de pátria da língua necessitamos de cidadãos globais, os cromos da língua portuguesa, como já o afirmámos, para suportar as pontes necessitamos de pilares que, em cada país ou comunidade, sejam espaços e projectos de convergência e cruzamento de culturas, tenham já no seu adn os germens deste mundo global da língua.
Para que os diferentes pilares se encontrem e descubram quais os interesses comuns, é necessário apostar na criação de plataformas que potenciem o encontro e o confronto entre pessoas, parceiros e projetos. A casa de Mário Andrade em Goa, a Pensão Central da Dona Berta em Bissau, o café Peter na Horta, ou o Festival da Baía das Gatas no Mindelo, a revista Pessoa e o Museu da Língua em São Paulo, foram e são bons exemplos de espaços plataforma.
Os Cafés Delta, com café das diferentes proveniências do espaço lusófono, que para potenciar essa diversidade foi obrigado a por em pé uma estrutura que junta especialistas desses diferentes lugares, ou o projecto da Red Bull que deu origem ao filme Lusofonia A (R) Evolução, que incentivou o encontro e a criação conjunta entre músicos de língua portuguesa, são exemplos paradigmáticos[1] da importância destas plataformas e de como elas podem ser essenciais a vários níveis.
Cartografia para o Universo Lusófono
Hoje já é possível identificar algumas cidades e/ou estados que são exemplos de sociedades de fronteira, de mestiçagem, e que podem servir de âncoras para a construção dos primeiros esboços de uma cartografia do e para o universo que pensa e fala em português:
- São Paulo, esta cidade que tem todo o mundo dentro dela;
- São Salvador, a cidade mais africana do Brasil;
- Manaus que, ao lado da Reserva da Biosfera da Ilha do Príncipe, hoje pode ser o grande centro internacional da ecologia e do ambiente e da defesa das culturas e das língua minoritárias e em vias de extinção;
- Lisboa que desde os descobrimentos tem sido uma cidade de encontro e cruzamento de culturas;
- Goa a cidade/estado de encontro entre o ocidente e o oriente;
- Macau, o entreposto de ligação de Portugal e do universo lusófono com a China;
- As cidades das diásporas como são Paris, Newark e Santos (portuguesas), Londres e Nova Iorque (brasileiras) e Antuérpia (cabo-verdiana);
- Cabo Verde e São Tomé que foram entrepostos do tráfico de escravos e hoje são países mestiços por excelência;
- A Ilha de Moçambique que é um efetivo espaço de contaminação entre culturas e religiões, a Ilha de Tanegashima (onde chegaram os Portugueses) e Nagasaki (com uma forte presença do Cristianismo) no Japão;
- E o Faial, com o Café Peter e o centro de Oceanografia, tal como Cabo Verde, uma verdadeira plataforma no Atlântico.
[1] -Lusofonia, A (R)Evolução – O documentário Lusofonia, A (R)Evolução, produzido pela Red Bull Music Academy, é um documentário que conta o imenso potencial musical que reside no espaço lusófono. O seu objecto foi a fusão entre elementos musicais autóctones de Portugal, Brasil e PALOP (Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau) e a sua integração em géneros de música urbana actual.