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Domingo, Dezembro 22, 2024

Prof com cancro agredida. Anda violência à solta

João Vasco Almeida“A violência vem aí”, avisava Mário Soares, ironicamente, no encontro da Aula Magna onde lançou Sampaio da Nóvoa para a presidência. Mário dizia, bem, que a pobreza, a falta de objectivos, o desespero acabaria por entornar-se na rua, colocar pessoas contra pessoas por motivos inúteis. Criaria o medo.

Esta terça soube-se, através do JN, que “uma professora com 55 anos, da EB 2,3 de Nogueira, em Braga, foi insultada e agredida por duas alunas, de 15 e 16 anos”.

A docente é doente oncológica mas o facto não travou uma das discentes de lhe arrancar cabelos do escalpe. Não é inédito. No mesmo dia o eventual sucessor de Passos Coelho, Morais Sarmento, desabafou na emissora católica portuguesa um “dava dois murros ao Carrilho”, por causa de umas bocas com anos. Um futebolista que deu uma cotovelada noutro é considerado inocente da agressão. Discutível o facto porque pertence ao tenebroso mundo do futebol, onde muitas vezes a resposta parece ser mais compadecida com a murraça do que com o debate.

Até uma “rixa” entre estudantes acaba em morte e a semântica parece fazer desaparecer a agressão.

Já a Associação de Apoio à Vítima revela que os agressores são mais os licenciados, casados e entre os 35 e os 44 anos. A ideia de que são os analfabetos (ou “analfabrutos”, como se diza d’antes) perde-se na estatística.

As agressões físicas não merecem sequer grande verbo. São cobardes e antanhas, desmoralizadas pela sociedade civilizada algures no tempo do bronze, apesar de pouca gente observar tal regra.

A violência verbal, a psicológica, a coacção, o assédio moral, a tentativa de retirar dignidade, a soberba ou o egoísmo que sorve dos outros tempo, energia e fulgor são regra aceite – da escola ao lugar de trabalho há um entendimento surdo sobre a exploração da pessoa pela pessoa. Os chefes, os patrões, os donos, os leaders que enfiam toda a gente nas salas de team building criaram um ambiente de medo e competição até aos cabelos.

Esse ambiente e o outro, aquele dos aflitos sem emprego e sem ideia de futuro, somam-se nesta tensão que vai passando pelos dias. Degenera em primárias agressões. Todos os lugares passam a ter carta verde de ringue: a Escola, a casa, a rua, o local de trabalho.

Em vez de serenar, a sociedade consome cada vez mais ansiolíticos e antidepressivos. Mascara-se de zombie e, na falta da droga, passa a vias de facto. A linguagem e o tempo não estão a ajudar. Como dizia Mário Soares.

 

 

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