Em Janeiro, como era costume, assinariam o ponto, dado que não se tratava de “gozar férias”, mas de uma “interrupção de actividade lectiva”.
Por acaso, ou talvez não, a directora leu a acta. Furiosa, consultou burocráticos aliados. Aconselharam-na a chamar as professoras, durante o período de “férias”, para que assinassem o livro de ponto e juntassem à acta uma declaração de apoio à senhora directora.
Todas assinaram o ponto dos dez dias de “férias”. Excepto a Maria.
No retomar das aulas, encontrou a sua folha de ponto “trancada”, com dez faltas “a vermelho”. Foi informada de que seria objecto de processo disciplinar, por ter faltado à escola durante duas semanas.
Durante o período de suspensão com que foi punida, os dias da Maria foram feitos de insônia, choro, doses maciças de ansiolíticos e frequentes visitas ao psiquiatra. Após uma longa via-sacra, mudou de profissão.
Entretanto, misteriosamente, o livro das actas levou sumiço. E a senhora directora continuou sendo vendeira, mantendo um segundo emprego: o de professora.
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