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Sábado, Outubro 26, 2024

‘Punto de Encuentro’, uma secção que é quase um festival

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

69ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid

Se é certo que as principais atenções do público e profissionais do cinema presentes no Festival de Valladolid se dirigem à secção oficial não se deve ignorar a existência nesta mostra de outras áreas da programação mais abertas à novidade, à experimentação e à procura de novas linguagens cinematográficas.

Desde logo “Punto de Encuentro” um espaço já com uma longa história no certame, muito centrado naquilo a que se convencionou chamar “cinema de autor” por oposição aos filmes oriundos das grandes produtoras (americanas e não só).

Habitualmente lugar de exibição de primeiras ou segundas obras dos seus autores, “Punto de Encuentro” surge agora também com alguns trabalhos de realizadores com créditos firmados mas que, de acordo com o enunciado pela equipa de selecção, ‘se destacam pelo seu olhar fresco e inovador’. Será, por exemplo, o caso de Jia Zhang-ke, figura de proa da chamada ‘sexta geração’ do cinema chinês, vencedor de um ‘Leão de Ouro’ de Veneza e também premiado em Cannes, Berlim e San Sebastián.

Com filmes premiados em Sundance, Cannes, Veneza, Berlim e Locarno ‘Punto de Encuentro’ é uma secção que é um autêntico ‘festival dentro do festival’.

Nesta 69ª SEMINCI são dezoito as longas metragens que integram este ciclo, um terço realizadas por mulheres:

  • ´A Nuestros Amigos’ de Adrián Orr (Espanha, Portugal);
  • ‘A Real Pain’ de Jesse Eisenberg (EUA / Polónia), premiado no Festival de Sundance;
  • ‘À Son Image’ de Thierry de Peretti (França), participou na Quinzena dos Realizadores de Cannes;
  • ‘Blue Sun Palace’ de Constance Tsang (EUA), premiado na Semana da Crítica do Festival de Cannes;
  • ‘Breve História de Uma Família’ de Lin Jianjie (China, França, Dinamarca, Qatar), participou no Festival de Berlim;
  • ‘Caught by The Tides’ (Apanhado pelas Marés) de Jia Zhang-ke (China), da secção oficial do Festival de Cannes;
  • ‘Edge of Night’ de Türker Süer (Alemanha, Turquia);
  • ‘Familiar Touch’ de Sarah Friedland (EUA), duplamente premiado no Festival de Veneza: Prémio ‘Orizzonti’ e Melhor primeiro filme;
  • ‘Holy Cow’ de Louise Courvoisier (França), vencedor do Prémio Jovem da secção ‘Un Certain Regard’ de Cannes
  • ‘Ivo’ de Eva Trobisch (Alemanha), premiado no Festival de Berlim;
  • ‘Les Fantômes’ de Jonathan Millet (França, Alemanha, Bélgica), premiado no Festival de Jerusalém e concorrente à ‘Câmara de Ouro’ no Festival de Cannes;
  • ‘Moon’ da iraquiana Kurdwin Ayub (Áustria), Prémio Especial do Júri do Festival de Locarno;
  • ‘Verbrannte Erde’ / Terra Queimada de Thomas Arslan (Alemanha), participou na secção Panorama do Festival de Berlim;
  • ‘The Fable’ de Raam Reddy (Índia, EUA), participante na secção ‘Encontros’ do Festival de Berlim;
  • ‘Toxic’ de Saulė Bliuvaitė (Lituânia), quatro prémios no Festival de Locarno, entre eles o Leopardo de Ouro;
  • ‘Universal Language’ de Matthew Rankin (Canadá), Prémio do Publico da ‘Quinzena dos Realizadores’ de Cannes;
  • ‘Viêt and Nam’ de Minh Quy Truong’h Quý (Vietname, Filipinas, Singapura, França, Países Baixos, Itália, Alemanha, EUA), participante em Ún Certain Regard’ do Festival de Cannes.

 

Sérgio Tréfaut no Júri de “Punto de Encuentro”

O cineasta brasileiro Sérgio Tréfaut, filho de pai português (Miguel Urbano Rodrigues – jornalista escritor e militante comunista) e de mãe francesa, é um dos elementos do júri de ‘Punto de Encuentro’. Com uma carreira muitíssimo ligada a Portugal e ao cinema português, o autor de “Lisboetas” (2004), “A Cidade dos Mortos” (2009), “Viagem a Portugal” (2011), “Alentejo, Alentejo” (2013), “Treblinka” (2016), “Raiva” (2018), “Paraíso” (2021) e “A Noiva” (2022) foi já premiado em vários festivais (por exemplo, Sevilha, Moscovo, Biarritz, San Francisco, Coimbra Indie Lisboa, Prémios Sophia…). O cinema de Sérgio Tréfaut está quase sempre com um pé no documentário e outro na ficção, no passado e no presente, e em cenários (ou territórios) difíceis e não isentos de riscos.

Acompanham Tréfaut neste júri a escritora, professora e cineasta norte-americana Bridgett M. Davis, cujo filme “Naked Acts” integra a secção ‘Memoria y Utopia’ e a actriz, cantora e música espanhola Julia de Castro.

 

‘Alquimias’, a procura de novas vanguardas

O espaço mais arrojado de quantos compõem a programação da SEMINCI, ‘Alquimias’ teve a sua estreia na edição de 2023. É uma aposta da nova equipa dirigente do festival e está particularmente dirigido a um público aberto a tomar contacto com obras mais inovadoras e que, não raras vezes, rompem com os cânones e códigos mais tradicionais. Não apenas nos temas abordados mas também pelas opções estéticas que veiculam. Da ficção científica à intervenção política contra o extremismo religioso ou à abordagem do papel da mulher numa sociedade de castas.

‘Alquimias’ é um ciclo de filmes dirigido a cinéfilos não só inveterados mas que estejam dispostos a embarcar nas naus da descoberta e da novidade.

Os filmes desta secção são:

  • “Agora” do realizador tunisino Ada Eddine Slim (Tunísia, França, Arábia Saudita, Qatar), ‘Leopardo Verde’ do Festival de Locarno;
  • “Bluish” de Lilith Kraxner e Milena Czernovsky (Áustria), Grande Prémio do Festival de Marselha;
  • “Cyborg Generation”, do espanhol Miguel Morillo Vega;
  • “Invention” de Courtney Stephens (EUA), prémio de interpretação na secção ‘Realizadores do Presente do Festival de Locarno;
  • “La Parra” do espanhol Alberto Gracia, que competiu nos festivais de Buenos Aires, Roterdão e Toullouse;
  • “The Adamant Girl” de P.S. Vinothraj (Índia);
  • “The Great Yawn of History” de Aliyar Rasti (Irão), Prémio Especial do Júri da secção ‘Encounters’ do Festival de Berlim;
  • “The Human Hibernation” da espanhola Anna Cornudella Castro, vencedor do Prémio da Crítica na secção ‘Forum’ do Festival de Berlim;
  • ‘Un Infinished Filme’ (Um Filme Inacabado) de Ye Lou (Singapura), candidato ao ‘Oeil d’Or’ do Festival de Cannes.

 

O Júri de ‘Alquimias’

Os filmes desta secção serão avaliados pelo brasileiro Gabe Klinger, o realizador de “Porto”, pelo escritor, guionista e realizador espanhol Álex Mendíbil e pela artista e cineasta alemã Helena Wittmann.

 

‘Cine Gourmet’, cinema e gastronomia

O habitual espaço que a SEMINCI dedica aos filmes em que a culinária, a gastronomia e o cinema se cruzam é este ano preenchido com dois títulos: ‘El Mago del Vino’ de David Moncasi (Espanha, 2024) e ‘The Most Remote Restaurant in the World’ de Ole Juncker (Dinamarca, 2023).

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