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Sábado, Novembro 16, 2024

Quais as vantagens e desvantagens do home office no Brasil?

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

A pandemia do coronavírus obrigou muitas empresas a adotar o home office por causa do isolamento social determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para impedir a disseminação muito rápida da Covid-19.

Desabituados de trabalhar em casa, a maioria das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros que têm essa possibilidade estão aprendendo a lidar com esse regime de trabalho a duras penas.

A questão ganhou tanta projeção que o estudo “Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade Redefinida e os Novos Negócios”, do executivo da Infobase, André Miceli, coordenador de curso de MBA da Fundação Getulio Vargas, acredita num crescimento de 30% do home office após a pandemia.

Grande parte de quem está nessa prática encontra dificuldades de adaptação por falta de condições estruturais e psicológicas. No caso da educação, as professoras e professores enfrentam acúmulo excessivo de trabalho, por causa do ensino remoto de apoio pedagógico implantado em grande parte dos estados, sem nenhuma estrutura, como mostra a reportagem “Trabalhar em casa significa fazer tudo ao mesmo tempo agora para os profissionais da educação”.





Para o coordenador-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), Gilson Reis, o trabalho remoto deve ser entendido como uma medida emergencial e de “forma alguma pode substituir as aulas presenciais”.

Ele não é contra, mas defende uma boa utilização das novas tecnologias como complemento do processo de ensino-aprendizagem. “O problema”, diz, “é que o ensino remoto atende ao projeto político ultraliberal e antidemocrático em marcha no país”. Na verdade, reforça, “querem reduzir o orçamento da educação pública e destinar o dinheiro ao mercado e não à políticas públicas”.

Já a assistente-administrativa, Leila Alves, conta estar em home office desde março e vem tentando se adaptar à nova rotina. “Não ter que me deslocar de casa para o trabalho e voltar me dá um ganho de cerca de 4 horas diárias”, afirma.

Leila revela ainda ter diminuído seus gastos e estar com uma alimentação muito mais saudável sem comer na rua, “ganhei em conforto, horas de sono, flexibilidade de horários e de se sentir menos estressada, porque o deslocamento nesse transporte caótico que temos é terrível”.

Como desvantagens ela sinaliza estar “trabalhando muito mais e encontrar muita dificuldade em desconectar do trabalho”, além disso, sente falta do “convívio social com os colegas” e “os horários de trabalho ficam totalmente indefinidos”.

Uma sindicalista e militante partidária, que preferiu não se identificar, diz “acordar com a cara no computador e dormir com a cara no celular”. Essa pessoa ressalta que “até para manter os horários das refeições e preparar a comida” enfrenta dificuldade porque “a demanda não está permitindo manter uma rotina adequada à saúde física e mental”.

De acordo com ela, “o home office invade a vida privada. O telefone toca em horários inapropriados, as mensagens de WhatsApp, SMS ou por e-mails são sempre urgentes e exigem respostas imediatas”.

Para ela cai por terra o preconceito de que sindicalista não trabalha porque “nós do movimento sindical entramos nesse ritmo alucinado porque temos que dar as respostas e orientações à categoria que representamos”.

Uma professora da rede estadual paulista, que também preferiu não se identificar, conta estar enfrentando muitas dificuldades em trabalhar em casa. “Não temos estrutura, a internet é muito ruim e ainda temos que conciliar com o trabalho doméstico”, a professora diz sentir falta do contato com os amigos e alunos”, além de “muitos alunos desejarem fazer as atividades mas não conseguem por falta de condições materiais adequadas”.

A rotina do advogado Sergio Pardal Freudenthal mudou pouco. “Eu sempre trabalhei bastante em casa, fazendo texto. O que mudou foi o atendimento de clientes e os contatos com juízes e desembargadores”, assinala. Mas neste momento, “meu escritório está funcionando cada um na sua casa e eu sinto falta desse contato presencial com colegas de trabalho e clientes”.

Para Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “estamos aprendendo a ressignificar a utilização da tecnologia, mas esse uso somente será eficaz quando beneficiar todas as pessoas”.

Segundo ela, “parte do empresariado brasileiro quer retornar ao século 19 nas relações de trabalho e abolir todas as conquistas que tivemos para melhorar a nossa qualidade de vida”.

Nesse quadro, “trabalhar em casa pode acarretar redução salarial e trabalho excessivo, o que pode causar adoecimentos maiores, do que os que foram trazidos pela reforma trabalhista de 2017”.

Fernando Angelieri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades, defende em depoimento ao UOL, que não se trata de “dar um notebook para o colaborador”, mas “também criar protocolos de compartilhamento de informação para quando a pessoa estiver trabalhando em casa”.

Para especialistas, a adoção do home office pode tirar carros da rua, pessoas do transporte coletivo e diminuir a poluição, mas é necessário preocupar-se com o bem-estar físico e mental das trabalhadoras e trabalhadores.

Ronaldo Leite, secretário de Formação e Cultura da CTB acredita faltar muito para “as funções, que possam ser feitas em casa, sejam realizadas sem prejuízo para as trabalhadoras e trabalhadores”.

Para ele, “O Brasil tem muito a caminhar em direção a ter relações de trabalho saudáveis sem causar transtornos e adoecimentos a quem vive de sua força de trabalho”, portanto “a implantação do home office não pode significar a retirada de direitos de quem trabalha”. Precisa também “ser uma solução consensual com determinação de parâmetros muito bem definidos que não pesem no bolso e na cabeça do trabalhador”.


Texto em português do Brasil


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