… o que manifesta em público ou o que é dado ao Expresso?
O Expresso é geralmente tido como um jornal muito bem informado sobre “Belém”, leia-se, sobre o Presidente. De facto, é rara a semana em que não traz informação privilegiada sobre o que o Presidente diz ou pensa acerca dos mais variados assuntos da vida política nacional.
O Expresso é uma espécie de “explicador” para se saber o que o Presidente na verdade quer dizer quando faz declarações públicas. Não direi que mais vale ler o Expresso do que ouvir o Presidente mas é preciso ler o Expresso para saber o que Presidente quer que se saiba sobre o verdadeiro significado do que diz em público.
As fontes do Expresso não são regra geral identificadas mas são atribuídas a colaboradores do Presidente, sempre sem nomes. Como se sabe, o Presidente tem fortes ligações ao Expresso desde a sua fundação, tendo desempenhado funções na direcção do jornal e do grupo. Não admira, pois, que o Expresso tenha acesso a informação privilegiada sobre o Presidente.
O problema surge quando se lê no Expresso que o Presidente diz uma coisa ao seu staff e outra em público. Em quem acreditar, então? Vejamos a edição desta semana: Diz o Expresso sobre os incêndios de Pedrógão e o roubo de armas em Tancos que o Presidente critica o Governo em privado mas continua a segurá-lo em público“. E sobre as férias do primeiro-ministro escreve o Expresso que o “PR discordou das férias de Costa“. Ora, como o próprio Expresso reconhece, o Presidente “desdramatizou” as férias do PM ao dizer aos jornalistas:
“Tudo o que tenho a tratar sobre assuntos do Estado, tenho tratado com o substituto do primeiro-ministro, o ministro dos Negócios Estrangeiros”. “Há uma continuidade constitucional”, “mais complicado seria se o Presidente estivesse em férias”, porque há uma série de decisões que só ele pode assinar. “Quando o primeiro-ministro não se encontra em território português é substituído pelo ministro dos Negócios Estrangeiros”.
O Expresso diz também que o PR “avisou” Assunção Cristas (na audiência que esta lhe pediu) de que “os pedidos de demissão em cadeia de ministros levam a uma moção de censura”, o que para o Expresso mostra que o PR “valoriza os riscos de desgaste político da actual maioria” .
As informações privilegiadas dadas ao Expresso pelas “fontes de Belém” têm um efeito perverso porque em vez de favorecerem a imagem do Presidente dão dele uma imagem de cinismo e calculismo na sua relação com o governo (a quem “critica em privado e seguraem público”) e com a oposição (o Presidente diz que “isto pode alterar a situação política e falou com Cristas na moção de censura”).
Afinal, perguntar-se-à: qual é o verdadeiro pensamento do Presidente? o que manifesta em público, ou o que é dado ao Expresso?
Exclusivo Tornado / VAI E VEM
Foto: Palo Novais/EPA