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João de Sousa

Segunda-feira, Novembro 4, 2024

Quando a culpa é do mensageiro e não há inocentes

João de Sousa
João de Sousa
Jornalista, Director do Jornal Tornado

Desta feita a comunicação social dificilmente poderá alijar as suas responsabilidades no acto terrorista de Alcochete. E, com ela, o Presidente da República, os Deputados e o Governo.Todos são igualmente responsáveis. É claro que o grau de responsabilidade varia em cada um dos casos, mas inocentes é coisa que não há.

Desde logo a Comunicação Social, que é useira e vezeira em pedir “para não matarem o mensageiro” neste caso dificilmente poderá sustentar que as horas intermináveis de ódio dedicadas ao futebol e… ao ódio, precisamente, não tiveram qualquer influência no resultado. Desde os Directores de Informação passando pelos jornalistas ditos “desportivos”, os primeiros fazendo “grelhas de programação” onde impera o tempo dedicado a esta modalidade que de desporto ou de desportivo já há muito que deixou de ter o que quer que seja, os segundos repetindo ad nauseum as mesmas afirmações de circunstância, jogo após jogo, ano após ano.

Mas também os jornalistas e comentadores pseudo desportivos que já gostaram de futebol no passado mas agora apreciam sobretudo a intriga, a devassa e de um modo geral tudo o que permita gerar uma boa sessão de gritaria entre os convivas. Havendo pancada as audiências sobem.

De Segunda-feira de manhã a Domingo à noite, durante todo o dia, todos os dias, o espaço informativo é largamente dedicado aos dirigentes, jogadores, treinadores, à vida social destes, ao futebol como indústria, contratações, rescisões, reais ou imaginárias, pseudo-tácticas de jogo, escolhas de roupa interior e de perfumes, namoradas, possíveis namoradas, ex-namoradas, futuras ex-namoradas e à perseguição de autocarros dos hotéis para os estádios e vice-versa. Conferências de imprensa, antes e depois, antevisões e rescaldos, flash interviews, sempre com as mesmas perguntas para ouvir as mesmas respostas. Seria mais barato para todos usar sempre a primeira entrevista já que as perguntas e respostas pouco variam. Excepto na intriga. “O outro disse isto de si, como comenta?” é assim que começa o veneno que transforma o adversário em inimigo e do mesmo modo se manipulam as emoções dos adeptos gerando um tribalismo desenfreado que, a prazo, só pode gerar o tipo de ódio que acaba a espancar a própria equipa.

Três jornais diários, os dez primeiros canais de televisão, as rádios, mais o espaço em todos os restantes órgão de informação que se estendem dos generalistas aos económicos. É uma autêntica lavagem cerebral levada a cabo com o propósito de estupidificar audiências alienando-as dos problemas e perigos, reais, que a sociedade e o mundo enfrentam.

Da responsabilidade não se livram também os mais altos responsáveis políticos: desde logo o Sr. Presidente da República que numa atitude de populismo desmedido faz questão de estar à entrada, à saída e, se possível, durante, sempre encostado ao sucesso alheio condecorando e almoçando a torto e a direito numa orgia de afectos, abraços e beijinhos que já chateiam e de cuja sinceridade tenho todos os motivos do mundo para duvidar. Mas os jantares dos Deputados com os Padrin… perdão, os Presidentes dos Clubes na AR, mais os bilhetes para jogos pedidos à má fila, os autarcas que esportulam o dinheiro dos contribuintes e recebem os “heróis” da cidade no Salão Nobre das respectivas autarquias, procurando também eles associar-se ao sucesso de uma actividade que parece ter mais de mafiosa que de desportiva, são também responsáveis pelo que se passou.

Já legislar, está quieto macaquinho. Mesmo os senhores Juízes envolvidos no conjunto de anomalias que está associado ao futebol não saem nada bem na fotografia. Nem a ERC que devia regular mas não regula. Nem a comissão da Carteira Profissional de Jornalista que devia cuidar da Deontologia mas não cuida. Nem o Sindicato, que também deveria ter uma palavra a dizer acerca da pouca-vergonha em que se transformou a informação, se pronuncia acerca do quase-monopólio que o futebol, não o desporto mas o futebol, ocupa no espaço informativo.

No meio de tantos responsáveis consigo entender porque é que o Bruno de Carvalho acha que tem condições para continuar a ser o chefe daquele gangue, perdão, o Presidente daquele clube. Afinal que interessa para o caso se ele mandou, ou autorizou, o apertão, ou não!

O mensageiro anda a passar uma mensagem errada há demasiado tempo! Tem culpa!

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