Cantos vindos do Brasil e da Jamaica contra todo tipo de opressão e preconceitos. São músicas que celebram a vida, mas deixam o recado: enquanto houver miséria, haverá guerra. Por que uns têm tanto e muitos não têm nada?
Quantos massacres e chacinas precisarão acontecer para a classe trabalhadora perceber que é ela que tem o poder de mudar tudo? A arte ajuda a sobreviver e entender os acontecimentos do passado e do presente rumo a um futuro mais decente para todas as pessoas.
Importante lembrar o 13 de maio, transformado no Dia Nacional de Denúncia ao Racismo, para denunciar a situação vivida pela população negra, marginalizada de todo o processo social por uma sociedade profundamente marcada pela mentalidade escravista.
Quantos Jacarezinhos serão necessários para se descobrir que já se matou demais e já passa da hora do povo brasileiro dar um basta em tudo isso? Assim como o governo de Israel massacra os palestinos. Até quando?
Brisa Flow
Filha de chilenos, fugidos da ditadura de Augusto Pinochet (1915-2006) e se estabeleceram em Belo Horizonte, Brisa Flow adotou São Paulo a partir de 2012. Bissexual assumida, a rapper mineira trata das questões de gênero, raça e classe em seu trabalho. Vale a pena conferir esse talento.
Vivência de quebrada
As mina chata enjoada fazendo dinheiro
As gata segue, segue, segue fazendo dinheiro
E nada a perder
Contas jurídicas
Com vários dígitos
Contratos líricos
Segue o jogo
Vários Logos
Logo, No Logo
Logo, no logo
Segue o jogo
Estampados no rosto
Galerias Vernissages
Teatro de Sanidades
A treta é sobre território
Jogadora Rara (2020), de Brisa Flow
Tribo de Jah
A banda Tribo de Jah foi criada em 1986 pelo ex-executivo de uma multinacional, Fauzi Beydoun, vindo da Costa do Marfim. Como ele mantinha um programa de reggae em São Luís, Maranhão, resolveu criar uma banda desse gênero. Desde então a Tribo de Jah se mantém fiel ao ritmo jamaicano.
Veja a face sofrida dessa gente
Tanta gente sofrida
Buscando uma vida decente
Buscando um pouco de paz em suas vidas
Mães que sofrem sós com seus filhos
Pobres e desassistidos
Pais que se escravizam sem ter sequer
O leite e o pão dos seus garantidos
Ruínas da Babilônia (1996), de Fauzi Beydoun
Sandra de Sá
A carioca Sandra de Sá é uma das mais importantes representantes do funk e da chamada black music no Brasil. Sua voz potente e seu talento a colocaram no time dos grandes nomes da música popular brasileira. As questões sociais, raciais e de gênero sempre estão presentes em seus trabalhos.
Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorrisoA verdade é que você
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará crioulo
Olhos Coloridos (1995), de Osvaldo Costa
Sérgio Sampaio
O capixaba Sérgio Sampaio (1947-1994) é um dos considerados “malditos” da MPB. Suas canções viajaram do samba ao choro, ao rock, ao blues e à balada. “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua” se transformou num canto de resistência de uma geração que tentava resistir e viver. Aliás o Durango Kid de sua canção é referência ao sanguinário torturador Sério Paranhos Fleury (1933-1979), que teve atuação no Dops de São Paulo.
Mesmo que em meio à pandemia não se possa realmente botar o bloco na rua como se deseja, fica a mensagem.
Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou
Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que o Durango Kid quase me pegou
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender
Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar pra dar e vender
Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua (1973), de Sérgio Sampaio
Jorge Ben Jor
O também carioca Jorge Bem Jor é um dos criadores do samba-rock. Talvez tenha sido o primeiro a misturar esses dois gêneros e deu no que deu. Nome certo no acervo da MPB. Apresenta um trabalho extremamente sonoro, mas com seu recado poético.
Jacarezinho! Avião!
Jacarezinho! Avião!
Cuidado com o disco voador
Tira essa escada daí
Essa escada é pra ficar
Aqui fora
Eu vou chamar o síndico
W/Brasil (Chama o Síndico, 1992), de Jorge Ben Jor
Bob Marley
O jamaicano Bob Marley (1945-1981) permanece como o mais importante nome do reggae, principal gênero musical de seu país. O dia 11 de maio marcou os 40 anos de sua morte. Por isso, a reverência ao seu enorme talento que faz tanta falta nestes tempos sombrios. O seu canto pela paz e pelo respeito ao diferente ainda ecoa em nossos ouvidos e mentes. Bob Marley faz muita falta.
Até que a filosofia que torna uma raça superior
E outra inferior, seja finalmente permanentemente
Desacreditada e abandonada haverá guerraEu digo guerra
Até que não existam mais cidadãos
De 1º e 2º classe em qualquer nação
Até que a cor da pele de um homem
Não tenha maior significado que a coreu digo guerra
Até que todos os direitos básicos
Sejam igualmente garantidos para todos
Sem privilégios de raça, terá guerra
War (Guerra, 1995), de Allen Cole e Carlton Carly Barrett
Texto em português do Brasil