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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Quando a paz finalmente prevalecerá?

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Cantos vindos do Brasil e da Jamaica contra todo tipo de opressão e preconceitos. São músicas que celebram a vida, mas deixam o recado: enquanto houver miséria, haverá guerra. Por que uns têm tanto e muitos não têm nada?

Quantos massacres e chacinas precisarão acontecer para a classe trabalhadora perceber que é ela que tem o poder de mudar tudo? A arte ajuda a sobreviver e entender os acontecimentos do passado e do presente rumo a um futuro mais decente para todas as pessoas.

Importante lembrar o 13 de maio, transformado no Dia Nacional de Denúncia ao Racismo, para denunciar a situação vivida pela população negra, marginalizada de todo o processo social por uma sociedade profundamente marcada pela mentalidade escravista.

Quantos Jacarezinhos serão necessários para se descobrir que já se matou demais e já passa da hora do povo brasileiro dar um basta em tudo isso? Assim como o governo de Israel massacra os palestinos. Até quando?

Brisa Flow

Filha de chilenos, fugidos da ditadura de Augusto Pinochet (1915-2006) e se estabeleceram em Belo Horizonte, Brisa Flow adotou São Paulo a partir de 2012. Bissexual assumida, a rapper mineira trata das questões de gênero, raça e classe em seu trabalho. Vale a pena conferir esse talento.

Vivência de quebrada
As mina chata enjoada fazendo dinheiro
As gata segue, segue, segue fazendo dinheiro
E nada a perder
Contas jurídicas
Com vários dígitos
Contratos líricos
Segue o jogo
Vários Logos
Logo, No Logo
Logo, no logo
Segue o jogo
Estampados no rosto
Galerias Vernissages
Teatro de Sanidades
A treta é sobre território

Jogadora Rara (2020), de Brisa Flow

 

Tribo de Jah

A banda Tribo de Jah foi criada em 1986 pelo ex-executivo de uma multinacional, Fauzi Beydoun, vindo da Costa do Marfim. Como ele mantinha um programa de reggae em São Luís, Maranhão, resolveu criar uma banda desse gênero. Desde então a Tribo de Jah se mantém fiel ao ritmo jamaicano.

Veja a face sofrida dessa gente
Tanta gente sofrida
Buscando uma vida decente
Buscando um pouco de paz em suas vidas
Mães que sofrem sós com seus filhos
Pobres e desassistidos
Pais que se escravizam sem ter sequer
O leite e o pão dos seus garantidos

Ruínas da Babilônia (1996), de Fauzi Beydoun

 

Sandra de Sá

A carioca Sandra de Sá é uma das mais importantes representantes do funk e da chamada black music no Brasil. Sua voz potente e seu talento a colocaram no time dos grandes nomes da música popular brasileira. As questões sociais, raciais e de gênero sempre estão presentes em seus trabalhos.

Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso

A verdade é que você
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará crioulo

Olhos Coloridos (1995), de Osvaldo Costa

 

Sérgio Sampaio

O capixaba Sérgio Sampaio (1947-1994) é um dos considerados “malditos” da MPB. Suas canções viajaram do samba ao choro, ao rock, ao blues e à balada. “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua” se transformou num canto de resistência de uma geração que tentava resistir e viver. Aliás o Durango Kid de sua canção é referência ao sanguinário torturador Sério Paranhos Fleury (1933-1979), que teve atuação no Dops de São Paulo.

Mesmo que em meio à pandemia não se possa realmente botar o bloco na rua como se deseja, fica a mensagem.

Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou
Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que o Durango Kid quase me pegou
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender
Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar pra dar e vender

Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua (1973), de Sérgio Sampaio

 

Jorge Ben Jor

O também carioca Jorge Bem Jor é um dos criadores do samba-rock. Talvez tenha sido o primeiro a misturar esses dois gêneros e deu no que deu. Nome certo no acervo da MPB. Apresenta um trabalho extremamente sonoro, mas com seu recado poético.

Jacarezinho! Avião!
Jacarezinho! Avião!
Cuidado com o disco voador
Tira essa escada daí
Essa escada é pra ficar
Aqui fora
Eu vou chamar o síndico

W/Brasil (Chama o Síndico, 1992), de Jorge Ben Jor

 

Bob Marley

O jamaicano Bob Marley (1945-1981) permanece como o mais importante nome do reggae, principal gênero musical de seu país. O dia 11 de maio marcou os 40 anos de sua morte. Por isso, a reverência ao seu enorme talento que faz tanta falta nestes tempos sombrios. O seu canto pela paz e pelo respeito ao diferente ainda ecoa em nossos ouvidos e mentes. Bob Marley faz muita falta.

Até que a filosofia que torna uma raça superior
E outra inferior, seja finalmente permanentemente
Desacreditada e abandonada haverá guerra

Eu digo guerra

Até que não existam mais cidadãos
De 1º e 2º classe em qualquer nação
Até que a cor da pele de um homem
Não tenha maior significado que a cor

eu digo guerra

Até que todos os direitos básicos
Sejam igualmente garantidos para todos
Sem privilégios de raça, terá guerra

War (Guerra, 1995), de Allen Cole e Carlton Carly Barrett

 


Texto em português do Brasil

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