O dia em que Marcelo se calar será o dia em que António Costa se deve preocupar. O Presidente da República escolheu falar todos os dias, provavelmente dos cem primeiros em que está em Belém. Vai a todo o lado, dá recados, faz mochilas e entra com 150 paus para um quadro que está a ser comprado em crowdfunding. Ocupa o espaço que estaria reservado a Costa e a Passos, e faz um favor ao Governo e um mal ao PSD. Ao primeiro alivia-o de comentar as coisas, ao segundo, ofusca-o, até à derrota final de Passos – que é o primeiro ponto na agenda de, como diria Pedro, “Rebelo de Sousa”.
Marcelo vai calar-se, não tenhais dúvidas. Depois da tempestade semântica, verbal, virão os dias do silêncio. A sociedade, que entretanto se habituou a essa patranha dos “afectos”, ficará órfã de um Presidente que estava sempre lá. Mesmo que na cabeça de Marcelo o silêncio seja uma impossibilidade, a festa irá acabar. Soares percebeu-o, Sampaio nunca o praticou, Cavaco coiso.
O primeiro silêncio virá quando a União Europeia torcer o nariz ao Pacto de Estabilidade. Depois, quando as autárquicas começarem a apertar e Marcelo for avisado pelo PSD que não se meta, sob pena de não o respeitarem mais. O Presidente sabe que o PS e a restante esquerda podem até sossegar enquanto estiverem no poder. Mas uma derrota nas autárquicas levará os socialistas, bloquistas e comunistas a odiarem Marcelo – a não ser que o PSD tenha novo líder. E é por isso que Marcelo quer Passos na rua e deitar abaixo o Parlamento em data que não colida com a sua reeleição.
Está tudo pensado, até a data em que se calará.
É bom, o rapaz.
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