O caso Feliciano Barreiras Duarte (FBD) é um exemplo de como algum jornalismo se deixou capturar por interesses alheios à função de informar com rigor e isenção.FBD foi secretário de Estado do governo de Passos Coelho durante vários anos e nunca ninguém se lembrou de analisar o seu currículo, do qual constavam já os elementos falsos, nem de verificar a informação sobre a sua morada que não era no Bombarral como declarou ao Parlamento.
Como outros já escreverem Daniel Oliveira (Expresso) e Fernanda Câncio (DN), até FBD ser escolhido por Rui Rio como secretário-geral do PSD, nenhum órgão de comunicação social se lembrou de investigar o seu currículo académico nem a veracidade das informações prestadas sobre o seu local de residência. Bastou porém que Rui Rio fosse eleito como secretário-geral do PSD para que o semanário Sol e o jornal electrónico Observador, assumidamente críticos da liderança de Rui Rio, trouxessem a público os dados que agora se conhecem sobre as irregularidades cometidas por FBD.
É evidente que a divulgação das irregularidades praticadas por FBD faz parte do escrutínio dos agentes políticos que cabe ao jornalismo fazer. É porém legítimo perguntar porque razão não foram divulgadas antes, quando FBD era membro do governo de Passos Coelho, já que ser secretário-geral de um partido não é mais relevante do que ser membro do governo.
A conclusão é óbvia: FBD foi “protegido” enquanto foi membro do governo de Passos Coelho e deixou de o ser quando se tornou secretário-geral com Rui Rio na liderança do partido. Continuasse Passos a ser líder do partido e FBD teria escapado ao escrutínio do Sol e do Observador.
Ao contrário do que se escreve João Miguel Tavares (Público), não é irrelevante que um jornalista se questione sobre os objectivos de uma fonte que, sob anonimato, lhe fornece uma informação que foi convenientemente escondida durante anos, apesar de o visado ser há muito um político conhecido. Independentemente da veracidade da informação que lhe é oferecida, ao aceitar divulgá-la omitindo a fonte o jornalista está objectivamente a servir os interesses obscuros dessa fonte que no caso de FBD são óbvios, isto é, criar dificuldades ao novo líder do PSD.
Tivessem o Sol e o Observador explicado porque só agora na liderança de Rui Rio divulgaram as irregularidades de FBD e teriam agido com transparência. Não o tendo feito, nem tendo identificado a fonte que os conduziu à “descoberta” das falcatruas de FBD, prestaram-se um “servicinho” aos adversários de Rui Rio.
Aliás, do ponto de vista jornalístico não sei o que seria mais bombástico: saber que FBD falsificou o currículo ou conhecer quem o quis tramar e a Rui Rio. Agora que a primeira “bomba” produziu efeitos, seria interessante despoletar a segunda: “quem tramou Rui Rio?”
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