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Sábado, Novembro 2, 2024

Quando os meus anjos me chamarem irei despedir-me de ti

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Irei garantidamente despedir-me de ti, mas apenas quando os anjos me chamarem.

Um velho rio sob estas pontes de cidade nação onde mora menos a menos a noção. Escorre num leito lento os seus cansaços fatigados, um perfume de fim nas margens que o desorientam como fuga segue ainda assim cansado. Esta cidade nação é a pátria dos meus pesadelos encostados a todas bermas de ruas onde percorro sozinho.

E por aqui caminho, nesta velha rua dos Aliados onde ignoro a luz e o vento, sinto apenas os meus passos quebrantes que rasam cansados o solo velho deste tempo quase morto já.

“quando os meus anjos me chamarem irei despedir-me de ti”

Estas coisas imediatas e previsíveis são como a cola que seca nos sapatos, espalham lanho por todos os lados.

E quase sob todos os solos os rios que a invenção me desperta, correm quase nunca escorreitos, lambem as arestas do nefasto e quantos morrem ainda antes de qualquer outro fim. Não sei em que cidade estou, sei apenas que neste mesmo país que arrebatou qualquer vontade de nascer, viajar, voar, sentir fluíres pelas árvores pássaros brilhantes com chilreares de músicas olímpicas.

Irei garantidamente despedir-me de ti, mas apenas quando os anjos me chamarem.

Perguntam-me os meus silêncios:

“mas que tu afinal?”

Poderiam ser todas as Cláudias que se cruzam comigo nestas heresias, cientistas que recriam cálculos, jogadores que marcam golos ou sabedores que criam ideias e coisas que me façam pensar e reflectir, ler, imaginar talvez outros mundos, quem sabe existam, poderiam ser as minhas próprias nuvens das quais fujo e evito, este abrasados sol que me queima neurónios, ou o cansaço terrível desta sempre tão longa caminhada, ou talvez por tudo isto ou mais, ou menos, ou nada.

E não consigo responder aos meus silêncios.

Sinto-os calados de mais, pensaria o quanto me incomodam, mas não, penso nos rios que a ponte seca, a velha ponte que nos leva aos anjos que um me indicarão o caminho para que me despeça de ti com toda a dignidade que mereces!

“talvez consiga, sei lá, responder aos meus silêncios!”


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