Temer, o primeiro presidente da História do Brasil acusado de comandar uma quadrilha, começa o dia de hoje reunindo-se com seus líderes aliados na Câmara. Tivesse ele algum respeito pela instituição da Presidência, que usa como escudo, anteciparia aos líderes sua decisão de renunciar para estancar a sangria, não a dos investigados pela Lava Jato, mas a do país que se esvai numa crise política e econômica alimentada, principalmente, por sua vulnerabilidade. A reunião, sabemos todos, será para combinarem o enterro da segunda denúncia que está a caminho.
Afogado por uma maré de acusações nas últimas horas, Temer foi despojado do benefício de qualquer dúvida sobre a importância e a urgência de ser investigado e processado, e por decorrência afastado do cargo. E isso dependerá novamente da Câmara. A Polícia Federal o acusou de chefiar uma organização criminosa, o PMDB da Câmara, de ter recebido propinas relacionadas com a liberação de recursos do FI-FGTS da CEF, de ser o destinatário dos R$ 500 mil que a JBS entregou a Rodrigo Loures e ter ganhado R$ 20 milhões em contratos da Petrobrás/PAC SMS. Ele ganhou também em contratos para a construção da usina Angra 3, acrescentou o delator Lucio Funaro. O ministro do STF Roberto Barroso autorizou investigações sobre favorecimento à empresa Rodrimar com o decreto dos portos. Em resposta ele chamou de fascínoras os que o investigam ou delatam.
E hoje pela manhã, vai combinar com seus líderes o enterro de mais uma denúncia. É provável que tenha êxito, se der mais carne aos aliados, ampliando o rombo fiscal novamente. Enterrada a segunda, entretanto, a terceira denúncia poderá vir, subscrita por Raquel Dodge, a sucessora de Rodrigo Janot na Procuradoria Geral da República. O inquérito autorizado por Barroso, sobre o decreto dos portos, será concluído na gestão dela. Loures, antes de ser flagrado com a mala de dinheiro, tricotou a inserção de muitos interesses neste decreto. No mesmo bar em que se encontrou com Ricardo Saud, da JBS, marcou encontro com o enviado da Rodrimar. Dificilmente isso não terminará numa terceira denúncia.
Sepultada a segunda, o país continuará sangrando, à espera da terceira. O Congresso continuará travado e os agentes econômicos vão se manter tolhidos pela incerteza política. Se quisesse mesmo que o país recobrasse alguma estabilidade, até que as urnas relegitimem a Presidência, Temer faria ao Brasil o favor de renunciar.
Não haveria eleição direta, mas a escolha indireta de um presidente tampão. Seria alguém do bloco vitorioso no golpe, que tem a maioria parlamentar, mas, ainda assim, seria melhor que ter no Planalto um presidente carimbado como chefe de quadrilha.
Ele já não está no cargo para implementar a agenda que não foi aprovada pelas urnas de 2014, honrando o pacto com os que, para isso, derrubaram a presidente eleita Dilma Rousseff. A agenda avança no que depende apenas do Executivo mas já fracassou no que depende da aprovação do Congresso, como a reforma da Previdência. Usando a Presidência apenas para se defender e salvar a própria pele, Temer já deixou de ser útil até mesmo aos que o colocaram lá. Mas ele não vai renunciar, é claro, porque fora do cargo iria mais rapidamente fazer companhia a alguns de seus amigos que estão presos.
A autora escreve em Português do Brasil
Fonte: Brasil247