“Senhora ministra, mas quanto é que vão receber os refugiados? Quantos euros? Quanto, quanto?”, berravam os jornalistas enquanto dez almas da Eritreia rodeadas pela PSP caminhavam Olivais adentro, esta quinta à hora da sopa, gente que chega sem saber o que os espera.
“Quanto? Quanto?”, assomavam-se os repórteres de moral pobrecita em riste. A ministra, Constança Urbano de Sousa, com um ar desempoeirado, dava para trás aqueles trumps, dizendo que “o direito de asilo é consagrado na carta de direitos humanos”, a ver se as almas dos jornalistas percebiam o que era um refugiado. Ainda adendou, quando do “quanto” se passou a perguntar “quem são, quem são?” – “São da Eritreia e são todos cristãos”.
O meu cão, que vai nos vetustos 15 anos, nunca me perguntou se eu era rico ou cristão. Falamos de coisas mais importantes, como termos mais cabelos brancos ou não gostarmos de lulas. Mas nunca debatemos se ganhávamos muito ou que fé (ou falta dela) teríamos. Não sei quanto terá ele recebido na vida nem ele sabe quanto ganhava eu… E somos felizes.
A tacanhez de se perguntar quanto vão receber os refugiados só existe porque as mentezinhas das crianças que andam com microfones na mão não atingiu que estas pessoas levaram com bombas e passaram fome, que defecaram no chão durante anos, que não tiveram água para beber e que viram dezenas, centenas de amigos e familiares mortos por uma gripe, por uma doença que aqui se trata com um Dolviran.
A mentalidade daqueles cuscos hertezianos, para frustrado fastio da ministra, é perigosíssima. Eu, que nunca serei ministro a não ser numa ditadura de um amigo, teria respondido, mentindo, assim: “São dez islâmicos radicais da ISIS que vamos acolher na quinta da Marinha para treinar os senhores do PNR e do MRPP, no intuito de, até ao final da legislatura, nos ficarem com o dinheiro todo do Banif, do BPN, do BES e nos converterem ao imbecilismo. Se os senhores quiserem ir, já que estão qualificados, podem entrar ali na carrinha branca que diz Santa Casa”.
Mas não. A ministra é educada. É pena.