Com um índice de confiança de apenas 6%, os políticos praticamente não têm qualquer apoio do público em Espanha, França e Brasil. Entre os 27 países analisados, os alegados defensores da “coisa pública” ficam mais uma vez na cauda do “ranking”, ocupando o último lugar em 22 países incluídos no estudo.
Por que motivo os políticos não merecem respeito e não são dignos de confiança?
Foi esta a questão que o TORNADO colocou ao politólogo Luís de Sousa, presidente da TIAC – Transparência e Integridade, Associação Cívica.
“Este mal-estar e desconfiança crónica dos cidadãos com os seus políticos é bastante complexo e não pode ser interpretado de uma forma linear”, começa por referir o investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS).
“É preciso ter em consideração que os políticos são facilmente censuráveis pela opinião pública pelo incumprimento de promessas eleitorais, que muitas das vezes são fantasiosas ou irreflectidas e criam falsas expectativas, mas que por vezes também não são passíveis de ser cumpridas devido à alteração de um conjunto de factores que os políticos não conseguem controlar” afirma ao dar como exemplo, uma crise financeira global, uma calamidade natural ou um conflito armado num país vizinho.
O politólogo sublinha que também é preciso ter em conta que os cidadãos não acreditam que os políticos na realidade sejam seus representantes fidedignos.
“Isto é, acham que os políticos só querem o seu voto e não são responsivos às suas carências, problemas e interesses, mas respondem apenas aos interesses de grupos económicos de maior relevo na definição e implementação de políticas públicas”, explica ao sublinhar: “Isto cria um sentimento de desafeição no eleitor”.
Por outro lado, muita desta falta de confiança também “resulta de comportamentos impróprios no exercício de funções por parte dos eleitos e da ausência de regras e mecanismos eficazes que os disciplinem e responsabilizem eticamente”. Luís de Sousa adianta que “não tem que ser necessariamente corrupção quid pro quo” mas conflito de interesses, favorecimentos de familiares e amigos, entre outros.
Por último, o investigador do ICS da Universidade de Lisboa conclui: “em democracia é normal que os cidadãos nutram alguma desconfiança nos eleitos, quanto mais não seja porque lhes confiam o voto e os seus impostos e portanto, não querem que estes interpretem a confiança como uma confiança cega, um cheque em branco”.
Bombeiros são os mais confiáveis
Depois de analisar o nível de confiança em 32 profissões, dos sectores público e privado, com as quais os cidadãos lidam directa ou indirectamente, a empresa mundial de estudos de mercados GfK Verein refere que o índice médio de confiança dos políticos é 30%, registando uma diminuição de um ponto percentual face a 2014. No final da tabela aparecem ainda os presidentes de câmaras, agentes de seguros e publicitários.
Nos cinco países que não colocam os políticos na cauda do “ranking”, as profissões menos confiáveis são muito diversificadas: para os Nigerianos são os polícias a profissão menos confiável, na África do Sul os taxistas, na Rússia os publicitários, na Suécia os vendedores e na Indonésia os Padres.
Com um índice de confiança de 90%, os bombeiros, mais uma vez, mantêm-se em primeiro lugar, à semelhança de 2014. Na lista de credibilidade das chamadas profissões incontroversas seguem-se os enfermeiros e professores com 89% e os médicos com 88%.
Profissões como juízes (70%), bancários e vendedores (67%) e polícias (63%), embora estejam no meio da tabela, parecem causar alguma controvérsia em termos de confiança, pois os seus índices variam muito de país para país, oscilando entre 20% a 80%, revela ainda a GfK Verein.
O Estudo “Confiança nas Profissões” de 2016 tem por base cerca de 30 mil entrevistas a cidadãos com idade superior a 18 anos, de 27 países de todos os continentes, representando 2,4 biliões de pessoas em todo o mundo. Em cada país, os dados são ponderados, pelas variáveis idade e género, para refletir a sua composição demográfica.
A nível global, a média reflecte a dimensão demográfica de cada país, isto é, os dados são ponderados pela população de cada país. A recolha da informação foi realizada através de entrevistas pessoais e directas e entrevistas telefónicas, no final de 2015.