A pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio o planeta e como disse em entrevista à BBC Brasil, o médico Drauzio Varella, a desigualdade está sendo avassaladora contra os mais vulneráveis, num dos países mais concentradores de riquezas do mundo, como é o Brasil.
Mesmo nos Estados Unidos são os negros estão entre os mais atingidos pela doença, num país, dito democrático, mas que não tem sistema universal público de saúde e deixa os mais pobres ao deus-dará. E Donald Trump, assim como Bolsonaro, minimizam os fatos devastadores da pandemia.
Em meio a tudo isso, a arte nos redime e ajuda-nos a enfrentar os dilemas da vida com mais sobriedade. Por isso, nesta seleção de canções, o sentimento de esperança que sejamos melhores dos que temos sido após a pandemia.
Novo Tempo, de Ivan Lins e Vitor Martins
A canção Novo Tempo, de Ivan Lins e Vitor Martins, de 1980, se transformou numa espécie de hino da crença de que muita coisa mudará após vencermos a Covid-19. Enquanto isso não acontece, fique em casa e lute pela vida de todas as pessoas.
“Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer”
Novo Tempo
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça
Kevin Johansen
O argentino Kevin Johansen canta em espanhol e em inglês, algumas vezes até mistura as duas línguas em uma única canção. Com bastante humor retrata as mazelas de um mundo desigual e injusto.
Entre 1990 e 2000 Kevin Johansen morou em Nova Iorque. Canta em espanhol e inglês, misturando estilos muito variados, e suas canções têm humor.
“Por que você quer mais?
se você já tem tudo
para que? sim depois
você não levará nada.”
À Terra
Pelo que eu vou falar?
se você não vai ouvir
para que? se você não quiser
nem me dê esse lugarEu lembro de você feliz
com um pouco assim
não para mim
muito já
que você estava rindo de vocêÀ terra
não é tão terrível morar aqui
eu te recordo
quando você parecia estar feliz.Por que você quer mais?
se você já tem tudo
para que? sim depois
você não levará nada.À terra
não é tão terrível morar aqui
eu te recordo
quando você parecia estar feliz (x2)Pelo que eu vou falar?
se você não vai ouvir
para que? se você não quiser
nem me dê esse lugar.À terra
não é tão terrível morar aqui
eu te recordo
quando você parecia estar feliz
Bia Ferreira e Carú Bonifácio
Bia Ferreira é uma cantora mineira, criada em Aracaju, capital de Sergipe, que adotou São Paulo com objetivo de cantar para o mundo com um trabalho urbano e engajado contra o racismo e o machismo.
Aqui Bia canta com Carú Bonifácio “Negra Tinta”, de 2018 com a temática preferida das duas. As mazelas da periferia e da desigualdade estão neste poema.
“O mundo com seu tom
Que essa tua negra tinta
Fará brotar a cor nesta cidade, cinza
Que tanto te negou, mas, ô, preta, pinta”
Negra Tinta, de Carú Bonifácio; canta com Bia Ferreira
Preta, pinta
O mundo com seu tom
Que essa tua negra tinta
Fará brotar a cor nesta cidade, cinza
Que tanto te negou, mas, ô, preta, pintaCarta marcada e calada, infância tão sabotada
Pinta de arte amada, nessa cidade cercada de dor
Cor preta da pele, história que cê sabe de cor
Quem desconhece olha estranho e ainda sente dó
Eu to cansada com esse papo de quem sente dó
No fim das contas
Percebemos que ainda estamos só
Mas eu espero que essa força venha da união
E que a tigresa possa mais que porra do leãoPreta, pinta
O mundo com seu tom
Que essa tua negra tinta
Fará brotar a cor nesta cidade, cinza
Que tanto te negou, mas, ô, preta, pintaEstrela que brilha, clareia a trilha
Ilumina e guia o meu caminhar
Alumeia um pouquinho esse meu caminho
Me dê uma luz, é difícil enxergar
Quanto mais eu ando, mais escuro fica
Me dê uma dica pra poder seguir
Não sei o que faço
Se ando, se paro, se corro, se sento ou se fico aqui
Tome minha boca
Pra que que eu só fale
Aquilo que eu deveria dizer
Tome a caneta, a folha, o lápis
Agora que eu comecei a escrever
Que eu nunca me cale
O jogo só vale quando todas as partes puderem jogar
Sou mina, sou preta essa é minha treta
Me deram um mic e eu vou cantar
Canto pela tia que é silenciada
Dizem que só a pia é seu lugar
Canto pela mina que é de quebrada
Que é violentada e não pode estudar
Canto pela preta objetificada
Gostosa, sarada, que tem que sambar
Dona de casa limpa lava e passa
Mas fora do lar não pode trabalharPreta, pinta
O mundo com seu tom
Que essa tua negra tinta
Fará brotar a cor nesta cidade, cinza
Que tanto te negou, mas, ô, preta, pintaPreta, pinta
O mundo com seu tom
Que essa tua negra tinta
Fará brotar a cor nesta cidade, cinza
Que tanto te negou, mas, ô, preta, pintaPreta, pinta
O mundo com seu tom
Que essa tua negra tinta
Fará brotar a cor nesta cidade, cinza
Que tanto te negou, mas, ô, preta, pinta
Ava Rocha
Ava Patrya Yndia Yracema Gaitán Rocha ou simplesmente Ava Rocha é cantora, compositora e cineasta. Com uma formação musical sólida mistura sons inimagináveis em um trabalho único na MPB. Filha do cineasta Glauber Rocha (1939-1981) e da artista plástica francesa Paula Gaitán.
Em Beijo no Asfalto, de 2015, denuncia a miséria de milhões para o regozijo de bem poucos e a miséria da alma de muitos que apequenam a vida.
“O beijo no asfalto
A eternidade do rato
Boca sem dentes
Os bichos do mato
O espelho da noite
A morte sem nome”
Beijo No Asfalto, de Ava Rocha
O beijo no asfalto
A eternidade do rato
Boca sem dentes
Os bichos do mato
O espelho da noite
A morte sem nome
Marinheiros que tombam no forte
A luz do farol acesa ao norte
O pranto das mulheres saudosas
O silêncio do vento
A dança do ventre
O desejo do peito
A dor e a razão
O reflexo na água
Da chuva que cai
Os pingos dos sons
As gotas de notas
As luzes, as ruas, as sombras
Vivo pensando
Vivo pensando
Vivo pensando
Vivo pensando
Vivo pensando
Vivo pensando
Milton Nascimento
Para encerrar esta seleção om canto alegre, sensível e esperançoso de Milton Nascimento, mineiro de coração na música “Nada Será Como Antes”, em parceria com Ronaldo Bastos. Música que integra o álbum Clube da Esquina, de 1972, em pleno vigor dos anos de chumbo, os mineiros do clube mais famoso do país, trouxeram esse brinde ao sonho de um futuro com menos dor.
“Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol”
Nada Será Como Antes, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos; Milton canta com Beto Guedes
Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Texto em português do Brasil
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