A reunião ordinária da Assembleia Municipal de Torres Vedras, a 25 de Novembro, Quarta-feira, foi a última onde participou Carlos Miguel como presidente da Câmara. No dia seguinte tomou posse como secretário de Estado das Autarquias Locais.
Para um amante da fotografia e de arte contemporânea, que anda frequentemente de máquina em punho a desfrutar tranquilamente da sua cidade, foi uma semana louca. O convite para o Governo surgiu na Terça-feira à noite, na Quarta-feira foi anunciado publicamente e esteve na Assembleia Municipal, no dia seguinte foi para o Palácio da Ajuda tomar posse. Como líder da Federação Regional do Oeste do Partido Socialista foi apoiante de António Costa nas primárias do partido. Nas eleições legislativas foi convidado para candidato a deputado, mas recusou.
“Vou continuar a servir a minha terra, servindo o meu país”, disse Carlos Miguel na hora da despedida. Na Assembleia Municipal declarou que na Câmara passou os melhores anos da sua vida, num discurso em jeito de balanço, após mais de uma década no cargo. Confessou também estar assustado, porque “saio da minha área de conforto e não sei o que me espera”.
Carlos Miguel entrou na política lentamente. Filho de pai cigano, feirante de calçado, prosseguiu os estudos e licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa. Montou um escritório de advocacia na sua cidade com bastante sucesso e ficou conhecido pelo ser o “advogado dos ciganos”. O seu percurso académico e profissional não foi estranho em Torres Vedras, onde existe uma grande comunidade cigana. São quase todos feirantes, mas estão perfeitamente integrados na sociedade sem qualquer tipo de preconceitos.
Em jovem jogou basquetebol na Física, associação da qual viria a ser presidente da direcção anos mais tarde. Sempre assumiu orgulhosamente a sua origem, mas também nunca fez questão de usar a sua ascendência familiar para se destacar. Preferiu sempre ser reconhecido pela competência e não por pertencer a uma minoria.
Na Câmara Municipal de Torres Vedras começou por ser vereador. Em 2001 o PS, que tem controlado sempre a autarquia desde 1976, apanhou um susto. Ganhou as eleições com apenas 71 votos sobre o PSD. Sem maioria absoluta, em Maio de 2004 o presidente reeleito, Jacinto Leandro, renunciou ao mandato a favor do seu número dois, Carlos Miguel.
O resto do mandato correu bem, porque nas eleições de 2005 Carlos Miguel alcançou a maioria absoluta com quase 50 por cento dos votos. Com uma imagem discreta e tímida, foi ganhando confiança e tornou-se num forte combatente político. Mesmo dentro do PS não era figura de destaque, mas foi conquistando o seu espaço e acabou por ser presidente da Concelhia e da Federação Regional do Oeste.
Nas eleições autárquicas de 2009 alcançou a melhor votação do PS, com 61 por cento dos votos. Elegeu seis vereadores, contra três da oposição. Em 2013, o último em que se podia candidatar, manteve os resultados, embora com uma percentagem um pouco menor em virtude do aparecimento de um número recorde de sete candidaturas. Em 2013 foi também eleito presidente da Comunidade Intermunicipal do Oeste. Um cargo que agora vai ter de abandonar, uma vez que o órgão executivo é constituído pelos 12 presidentes das câmaras do Oeste.
Em todos estes mandatos tem tido como seu braço direito aquele que agora vai assumir a presidência da Câmara, Carlos Bernardes, actual líder da Concelhia socialista. Hugo Lucas, filho de um antigo vereador da autarquia, já foi chamado a ocupar o lugar vago.
É o sexto presidente da Câmara de Torres Vedras em democracia, depois de Carlos Miguel e Jacinto Leandro e, antes destes, os também socialistas José Augusto de Carvalho (renunciou ao ir também para secretário de Estado) e Alberto Avelino (foi deputado e governador civil do distrito de Lisboa). Entre 1974 e 1976 a Câmara foi liderada pelo comunista Francisco Manuel Fernandes.
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