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Sábado, Novembro 2, 2024

Quem é e o que deseja fazer a “oposição” síria liderada pela Turquia

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Após oito anos de guerra, a oposição síria anunciou que todos os grupos armados estão unidos sob o comando do Ministério da Defesa do Governo Interino da Síria forças unidas sob a bandeira do Exército Nacional. Este anúncio é um marco na jornada da oposição síria que une fileiras e é produto de um processo de mais de três anos que começou com o início da Operação Escudo Eufrates.

Com o crescente e predominante papel da Turquia como o único apoiante da oposição síria e após a sua pressão, as facões reticentes de Idlib, Afrin e norte de Alepo também se juntaram. O anúncio em si não garante a unidade da oposição síria. No entanto,  pode oferecer novas oportunidades para os atores envolvidos na Guerra da Síria. Este anúncio da unificação acrescenta que governo interino da Síria, formado pela Coligação Nacional Síria, conseguiu o comando  da oposição armada. Nesta etapa, a oposição política pode pela primeira  proclamar-se representante de toda a oposição síria.

A declaração da unificação chegou antes  da operação turca contra o odiado YPG (unidades curdas de proteção do povo / e o SDF (Forças Democráticas Sírias) no nordeste da Síria e durante o frágil cessar-fogo em Idlib e antes do início das deliberações do comité constitucional. O YPG/SDF tinham apoio americano, apoio que foi subitamente retirado para que as operações turcas avançassem.

O que é a FUNDAÇÃO SETA

Essa análise de outubro de 2019 é baseada em pesquisas em primeira mão e supostas entrevistas a membros da oposição armada e política feitas por Ömer Özkizilcik, cidadão turco que trabalha no Departamento de Segurança da Fundação SETA.

A Fundação SETA é próxima das posições, expansionistas, diria eu, do presidente turco.

Entre agosto 2017 e setembro de 2018, Omer Özkizilcik trabalhou na Middle East Foundation. Desde 2016,ele é o editor-chefe da Suriye Gündemi.

A sua visão tem interesse porque mostra como um outro lado, o turco, aprecia e é motor da guerra civil da Síria.

Segundo a análise Seta:

Em termos de força militar, no recém-formado Exército Nacional Sírio a eficiência aumentou significativamente devido ao treino turco de fações armadas no norte de Alepo e Afrin e os confrontos em curso contra o regime de Assad em Idlib.

Fações que se uniram e se transformaram neste auto proclamado Exército “Nacional” que agrega as 41 fações de combatentes de Idlib, Latakia, Hama, oeste e norte de Alepo, Afrin.

Destas, 15 são da NLF e 26 do tal Exército Nacional.

Fontes de Informação da Fundação SETA para este relatório

Todos estes dados foram fornecidos por notáveis e credíveis entrevistas dadas a Ömer Özkizilcik por um comandante anónimo do Liwa Shilam em 25 de setembro de 2019, por outro um comandante anónimo  do Ahrar al-Sham via WhatsApp. Por um membro sénior do Conselho Interino da Ministério da Defesa Sírio do governo paralelo. Por um lutador anónimo de Faylaq al-Sham, via WhatsApp, 3 de outubro de 2019. E mais um membro anónimo do Exército Nacional.

Ou seja a verdade destes factos gloriosos e perigosos baseia-se nos ANÓNIMOS!

Mas ficamos a saber que umas duas dezenas destes grupos militares eram anteriormente apoiadas pelos Estados Unidos, três deles através do programa do Pentágono de combate ao DAESH.

Dezoito destas fações eram apoiadas  pela CIA através do MOMSala de Operações na Turquia, uma manobra conjunta dos ‘Amigos da Síria’ para apoiar a oposição armada.

Quatorze fações receberam dos EUA 16TOW mísseis guiados anti-tanque.

Um olhar sobre quem eram os inimigos dessas fações mostra que eles estavam em luta  contra o regime de Assad, DAESH, o YPG / SDF e Hayat Tahrir alSham ou seu antecessor, a Frente Al-Nusra.

Mesmo assim o relator  Ömer Özkizilcik  considera  a composição geográfica e étnica do Exército Nacional é muito interessante! E acrescenta que das quarenta nas 41 fações há combatentes árabes, turcomenos e mesmo combatentes curdos. Em termos de números, o tal Exército Nacional compreende aproximadamente 70.000-90.000 homens.

As maiores fações em números deste  Exército Nacional exemplar são as Ahrar al-Sham, Ahrar al-Shaqiyah, Faylaq al-Sham, Firka Hamza, FirkaSultan Murad, Exército Livre de Idlib, Jabhat Shamiyah, Jaysh al-Islam, Jaysh al-Ahrar, Jaysh a-Nasr,Jaysh al-Sharqiya e Jaysh al-Nukhba, fações armadas que aos ouvidos europeus dizem nada. No genérico, para mim, são todas sinónimos de sangue.

Estes combatentes também tiveram  treino militar, que incluiu operações de lançamento aéreo com helicópteros turcos. Além disso, os turcos apoiam o “Exército Nacional”com material militar incluindo arsenal pesado e veículos blindados de combate. O novo Exército Nacional também  beneficia do uso de mísseis anti-tanque guiados (ATGM). As facções em Idlib podem ter os melhores operadores de ATGMs do mundo.

Este Exército Nacional também ganhou o uso de uma Unidade de Inghimasi, tropas de choque que se infiltram nas linhas inimiga para morrer em combate, sem estratégia de retirada.

O Exército Nacional, com a sua nova estrutura algo confusa, deve provar a sua capacidade de coordenar de maneira eficiente  potenciais operações conjuntas.

A iniciativa turca tem tido como se vê, excelentes resultados.

O  anúncio destas maravilhosas notícias dos senhores da guerra foi feito em Şanlıurfa, e não em Gaziantep, onde a oposição síria normalmente se reúne na Turquia.

Şanlıurfa é importante por duas razões. Primeiro, está localizado do outro lado da fronteira de Tal Abyad, uma cidade estratégica do Eufrates. Em segundo lugar, na cidade está  o Conselho Tribal e de Clãs em que muitos anciãos tribais do leste da Síria estão representados. À margem do anúncio, os líderes das fações e os líderes do Governo Interino da Síria reuniram-se com representantes do Conselho Tribal e de Clãs. Essa nova unificação e controle do Governo Interino da Síria visa enfraquecer a presença dos Estados Unidos  à frente de uma organização militar liderado pela Turquia na operação no leste do Eufrates.

A posição dos EUA

Para os EUA a Coligação Nacional Síria  e o Governo Interino da Síria ainda são os verdadeiros representantes  do povo sírio. James Jeffrey  reuniu-se recentemente com eles para discutir a situação em Idlib. Com a unificação de todas as fações sob o governo provisório da Síria, os EUA enfrentam um dilema de ter que escolher entre seus tradicionais parceiros na luta contra o DAESH e os representantes do povo sírio. Além disso, unindo as fileiras, a força da Turquia e parceiros numa operação potencial aumentam. As declarações do presidente turco Erdoğan em 5 de outubro de 2019, que criticou a articulação aérea e terrestre em patrulhas com os EUA e afirmou que uma operação militar turca é iminente,  então tudo está de acordo.

A posição da Turquia

Segundo Omer Özkizilcik a Turquia precisa ainda apoiar os esforços do Governo Interino da Síria e comunicar esses esforços aos atores envolvidos no conflito sírio.

A Rússia neste xadrez

Na sua opinião a Rússia, interveio ao lado do Regime de Assad e alienou a oposição síria. Se agora a Rússia está realmente interessada na paz na Síria, é simples: tem de rever a forma como lida com a oposição síria.

A Europa e os Países do golfo

Os estados europeu e do golfo têm pouco interesse em investir no conflito sírio e tomando ações estratégicas como por exemplo reconhecer a oposição síria como o poder legal, prestar apoio financeiro às áreas controladas pelo exército nacional, e apoiar a oposição síria a nível diplomático.

E tudo fica resolvido!

Tudo excepto os interesses do povo sírio sobre o qual neste excelente relatório não há uma palavra!


Fonte: SETA

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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