Um golpe de sorte tornou um candidato menos votado em Presidente de uma potência (mais do que perigosamente) poderosa no mapa do mundo; um homem sem cultura, sem moral, sem princípios que alguns admiram pelo efeito populista dos discursos, onde o nacionalismo – o “América primeiro!”, o “make America great again” – é mais intenso do que se possa supor. Porque figuras assim, ocas, primárias, estão na moda – os povos temem que possa ir mais longe e mais fundo nas renovações e sobretudo temem as mudanças – Trump está lá, no primeiro lugar do pódio.
Os cordéis que agitam, puxam e mantêm ativa a marioneta Trump, esses estão no mundo dos negócios. A começar pelos próprios negócios de Donald Trump.
Sem o menor sentido de ética, Trump aplicou um princípio de cosmética aos seus interesses: os filhos tratarão das suas empresas dentro dos EUA. Fora do território, Trump continua. Por isso, quando proibiu a cidadãos de sete países entrarem nos Estados Unidos – para alimentar a sede de alguma parte do seu eleitorado e mostrar-lhes que cumpre o que promete quando andou “na estrada” – não incluiu a Arábia Saudita nem o Egito na ordem executiva – ficando-se por sete países que não o incomodam enquanto empresário: na lista estão Síria, Iraque, Irão, Líbia, Somália, Sudão e Iémen, nações predominantemente muçulmanas. Os seus cidadãos estão impedidos durante 90 dias de entrar nos EUA. Período suficiente para a ação maquilhadora, uma golpada americana com a assinatura Donald Trump.
No documento presidencial alude-se a questões de segurança, porque “vários indivíduos nascidos no exterior têm sido condenados ou implicados em delitos relacionados com o terrorismo desde o 11 de setembro de 2001”. Vários membros da Al-Qaeda que atacaram os EUA em 2001 vieram da Arábia Saudita (onde residem grandes investidores, alegadamente, da instabilidade mundial) e do Egito – países onde Trump (também) tem interesses.
“É interessante que, dos sete países da lista, não há registo de alguém (desses países, reforça-se) realizar um atentado contra os EUA”, afirmou Ibrahim Cooper, diretor de comunicação do Conselho de Relações Americanas-Islâmicas, ao apresentar uma queixa legal contra a ordem de Trump.
Donald nega que a medida tenha motivação religiosa
A motivação de Trump prende-se, obviamente, com a política interna e com negócios pessoais.
Trump impediu também a imigração, com a suspensão da entrada de refugiados aos EUA durante 120 dias. A ordem foi assinada pelo presidente ainda na sua primeira semana no cargo. E muitos observadores pensam tratar-se de mais cosmética.
Aliás, se formos a ver bem, repare-se como os indivíduos que atacaram Orlando e San Bernadino (dois ataques em solo norte-americano que estiveram na origem de alguns dos argumentos extremos de Donald Trump eram norte-americanos pois nasceram nos EUA (filhos de pais afegãos e paquistaneses, respectivamente). Já a mulher que participou do atentado em San Bernadino nasceu no Paquistão e viveu na Arábia Saudita (nenhum dos países vetados pelo presidente).
No caso de Arábia Saudita, Paquistão e Egito, cujos cidadãos foram relacionados com atividades terroristas, mas que ficaram de fora de ordem de Trump, trata-se de países com os quais os EUA têm relações próximas em questões de política e segurança, que querem proteger.
A razão principal parece ser mais simples: Trump fez negócios na Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos, Turquia, Índia e Filipinas, países omitidos no veto.
Existe, aliás, nos tribunais uma ação contra o presidente ressaltando que os pagamentos que as suas empresas recebem de governos estrangeiros são inconstitucionais.
Nas mãos do grande capitalismo estão outros cordéis que mexem a marioneta Trump. Como as dos fabricantes de armas, que irão manifestar-se com mais intensidade a muito curto prazo. Por enquanto, as indústrias mais poluentes do mundo, com chancela americana, puxaram outros cordéis e Trump assinou de cruz legislação que permite os seus interesses inumanos.
Donald John Trump está em cena no teatrinho de fantoches, alarve e sorridente, com uma moca na mão e a cabeça oca ao serviço de quem mais puxar – e pagar.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90