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João de Sousa

Domingo, Dezembro 22, 2024

Quer dizer que a UFRJ que riscou o fósforo?!

Em um momento de crise econômica, sempre se corre para buscar as causas de seus efeitos na realidade concreta. A honestidade intelectual exigiria que se aponta que são múltiplas. Mas, em uma era de bolhas orquestradas por frases curtas e de impacto, o oportunismo se impõe. O último exemplo é a notícia plantada pela dobradinha Ministérios da Fazenda e Cultura em veículos da grande mídia.

De um lado, um ministro da Cultura correu para criticar que museus públicos tem que buscar parcerias com a iniciativa privada e parar de depender 100% de orçamento governamental. Do outro lado, a Fazenda soltando dados de forma viesada para dar a entender que não priorizar museu foi uma escolha da UFRJ.

Esse tipo de argumento não é novidade. Já vi esse filme. Um secretário estadual de ciência e tecnologia, que não deixará saudade, repetia como um papagaio que estávamos em crise na UERJ por opções da universidade e que o problema que não buscávamos receita própria. Não irei entrar aqui em especificidades da questão UERJ, mas sim no ponto geral que se liga ao ataque a UFRJ.

O ponto geral é a cumplicidade dos gestores do executivo com o dogma de um programa de austeridade que aspiram tornar um legado. Mesmo desconhecendo como funciona uma universidade, não pretendem chamar uma discussão de como fortalecê-las. Só quer afirmar que repasses cresceram em termos nominais é chover no molhado, mas grande mídia compra a ideia e fica tudo resolvido.

Em nenhum momento se pergunta: esses recursos foram suficientes? Quais as necessidade reais da universidade? Como atendê-las? Será que o dito nos jornais garantem que foi dado prioridade razoável de dispêndio para elas? Porque se acredita a priori que se garantiu recursos além do ótimo e que foi o gestor universitário que alocou nas áreas erradas?

É mais fácil acusar de ideologia e negar a política e um debate justo e racional sobre efetividade das instituições. Um rápido olhar sobre a UFRJ se nota como tem anos que se arrasta a reforma do prédio de sua reitoria (outro incêndio). Essa é a realidade concreta, uma universidade que está sendo implodida e forçada a trabalhar em containers…. espero que não sejam para exportação.

Pois agora, após o crime civilizatório feito esse domingo, parte de nossa base de cultura e conhecimento só poderá ser feita no exterior. Teremos que viajar para fora do país para ter acesso ao que tínhamos ali do lado e produzindo conhecimento nacional. Desconfio que nossa elite vai preferir ir para Miami e o povão que ficará sem isso mesmo. O museu nacional era um museu extremamente popular, era do povo. Esse crime não é erro de rubrica alocativa, é de processo histórico, é de lógica da austeridade a pregar terror financeiro e insensatez com a prioridade do povo.

Único argumento alocativo que aceito seria que era melhor não ter perdido as múmias do museu, em troca de certas múmias de Brasília que ainda estão por aí gerando barbárie.

 

Por Bruno Leonardo Barth Sobral, Especialista em economia fluminense e professor da FCE/UERJ. Um dos autores do livro recém-lançado: “Economia para poucos: impactos sociais da austeridade e alternativas para o Brasil” (Autonomia Literária, 2018)  | Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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