A associação recorreu ao Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, para “travar as obras em curso pelo Município de Vila Nova de Gaia numa zona de REN (Reserva Ecológica Nacional), onde estão a ser destruídos habitats e várias espécies protegidas”, lê-se num comunicado no site da Quercus.
O tribunal decretou a suspensão de construções e terraplanagem, porque infringiam os limites da área ambiental protegida. A associação insiste que as obras que estão a ser levadas a cabo “estão a causar danos gravíssimos a espécies e habitats protegidos”, dando como exemplos a rola-brava, o gavião, o cartaxo-comum, o noitibó-europeu, a coruja-do-mato, o mocho-galego e o pica-pau verde. Também se alega que terão sido mortos os exemplares do lagarto-de-água, outra espécie protegida por lei.
“A Quercus não é contra o festival Marés Vivas, apenas contra a sua localização no limite da Reserva Natural”, frisa a associação, que sugere que “existem em Gaia excelentes espaços que podem ser usados para o festival, com melhores condições para músicos e público e sem comprometer a biodiversidade”.
Esperam-se 30 mil visitantes por dia no festival de música, que deixou de se realizar no local original, depois de um conflito com os proprietários. Os activistas temem que o ruído, luzes e presença de multidões tão próximos do estuário possa afectar o ecossistema. Alegam que os preparativos, como a terraplanagem e o corte de árvores, já começaram a causar danos.
Outro caso será ouvido na próxima semana, visando o impacto ambiental do festival na vida das aves. Bernd Markowsky, fundador do SOS Douro Estuary, acusou o presidente da câmara municipal de Vila Nova de Gaia, Eduardo Rodrigues, e a organização do festival, de “não terem preocupações com o ambiente. Eles não se importam nem querem saber”.
O activista afirma ter fotografias que provam a morte de répteis no local quando começaram os trabalhos, e que “eles disseram abertamente que não importava quantos tinham morrido, porque ainda havia milhares deles no local. Esta área está protegida por lei mas isso não os parou”, acusa Markowsky.
Autarca faz acusações e caso chega a jornal inglês
O caso chegou ao jornal britânico The Guardian, que noticia que activistas da Quercus e responsáveis do Fundo para a Protecção de Animais Selvagens, bem como biólogos, escreveram ao cantor e compositor Elton John, cabeça de cartaz, para que boicote o evento, tomando assim uma posição “contra os danos ambientais”. Para além de Elton John, esperam-se os britânicos Tom Odell e James Bay.
Por seu lado, o presidente da autarquia de Gaia negou ao The Guardian qualquer impacto ambiental afirmando ter relatórios que o provam. “Isto mostra que nós prestámos atenção à lei e ao impacto ambiental. A questão, para mim, é outra: qual é a diferença entre a localização dos últimos nove anos e a actual, perto da reserva? A minha resposta: política e manipular o medo público para obter vantagens políticas. Todos sabem que as aves migratórias passam pela reserva em Setembro e não em Julho”. Eduardo Rodrigues condenou ainda a carta dirigida a Elton John, estando descrente em quaisquer resultados práticos: “Isto não é um boicote, mas um comportamento terrorista que acredito não terá consequências sobre Elton John, que eu acredito que saiba distinguir entre uma boa argumentação e um boicote”, sublinhou.
A Quercus rebateu as acusações do autarca, que, citado pela RTP, terá mesmo dito que o município “pagaria um ‘ungido’ à Quercus que ‘estimulava’ o silêncio da Associação”, acrescentando: “é absolutamente falso que alguma vez tenha existido qualquer ‘financiamento secreto’ ou ‘unguento de 15000 euros’ de que a Quercus tenha sido beneficiária”, noutro comunicado.
“A Quercus não está, nem nunca esteve contra Gaia, município que nos habituámos a ver como um excelente exemplo de boas práticas ambientais”, afirmando ainda que “alguns envolvidos tentam negar o óbvio e tentam criar na Quercus um inimigo político que quer ‘tirar’ o festival a Gaia para o levar para outro concelho”. Os ambientalistas anunciaram que foi apresentada queixa contra o autarca, “pelo crime de ofensa ao bom nome de pessoa colectiva, agravada pelo meio e pelas especiais responsabilidades” do autarca.
Até agora, não foi feito qualquer comentário sobre o assunto pelos representantes de Elton John.