Hoje é o dia marcado para sabermos as classificações das escolas nacionais. Que nos traz essa informação de realmente útil?
Recordo, há 15 anos, quando os primeiros rankings foram publicados, a curiosidade com que procurei os resultados da escola frequentada pelo meu filho e sorri, entre o mordaz e o aliviada. A escola em questão não passara do meio da tabela. Desastre de mãe, poderão dizer. Aceito, concordo e, sobretudo, agradeço.
Se me interessa que o meu filho tenha uma boa formação? Claro que sim. Não interessa a todos nós, quer enquanto pais quer enquanto pessoas que pretendemos uma sociedade melhor. A questão está em: que formação? A académica ou a de cidadania, complemento do que as nossas crias levam de casa?
E passo a contar:
Há 18 anos li uma redacção do meu filho e fiquei absolutamente apavorada. Como era possível que escorressem tantos e tamanhos erros ortográficos da caneta da criatura e, pior que tudo, aquela redacção estivesse classificada com um “suficiente”?
Corri, de caderno na mão, mais do que pronta a desancar a professora, quem a defendesse e quem mais se atrevesse. Releu calmamente a composição e olhou-me com um ar interrogativo onde, juraria, havia uma nesga de divertimento.
“Isso é redacção para um suficiente? Que exigências são feitas ao rapaz?!” Inquiri, com a voz no volume mínimo, pela ira. Quase asseguro que sorriu quando disse estar o infante perfeitamente dentro dos parâmetros requeridos pelo ministério. Deve ter notado que a resposta foi pólvora atirada para fogueira viva e tratou de me deixar com boca de peixe fora de água: “O seu filho cumpre o que é requerido mas, mais do que isso, daqui a uns anos, preferiria ser atendida por um médico com a formação de carácter que têm os nossos miúdos, mesmo dando erros ortográficos, do que por alguém que escreva correctamente mas que não tenha formação Humana. Confia em nós?”
Sentia que as chispas dos meus olhos iam perdendo força, à medida que a ouvia, apagando-se por completo com a pergunta final. Nesse preciso momento demiti-me do papel de mãe-polícia-escolar. Sabia do que ela falava, bem visível em toda aquela ”arraia miúda” que observava amiúde, no final das aulas; naquela auxiliar que não punha os putos de castigo mas “a descansar”.
Passadas quase duas décadas, durante as quais tenho sabido de alguns desses miúdos e miúdas, com mais ou menos sucesso académico e profissional, sei que há uma coisa que é comum à maioria: carácter.
Ah, a quem interesse, sabe-se lá por que mistério, o rapaz já não dá erros.
Disso não falam os rankings. Temos pena.