Referência incontornável da música e da cultura cabo-verdiana e lusófona, autor de grande parte dos temas musicais hoje considerados como clássicos na música popular do arquipélago da “Morabeza”[1], deve o “nominha” que o popularizou (alcunha, em crioulo) justamente ao seu génio musical como compositor e instrumentista. Figura central da vida musical e boémia de Mindelo no seu tempo, aí terá ganho a admiração de marinheiros brasileiros de passagem na cidade-porto, que ao ouvirem-no executar com maestria as suas “mornas” e “coladeras”, lhe terão dito: “rapaz, você toca que é uma beleza!”.
Personalidade e talento multifacetado, “B.Léza” deixou uma obra vasta e admirável, que é fundamental (re)conhecer e nunca é demais revisitar. Se na música, a sua marca maior terá sido seguramente a utilização do “meio-tom” (acorde de passagem), com o qual renovou profundamente a “morna” cabo-verdiana, merecem também destaque os seus poemas e ensaios, alguns deles inéditos até hoje, a par de artigos dispersos por várias publicações, nomeadamente pela revista “Claridade” (1936), referência histórica maior do movimento de emancipação cultural, social e política da sociedade cabo-verdiana.
António Firmino, outra referência das artes em Cabo Verde, também ele mindelense, vem de há muito imortalizando na tela o compositor de “Mar Azul”, em diversas obras da sua série “Postais Musicais de Cabo Verde” e não só. A obra que ilustra este texto, provavelmente pouco conhecida, é um painel de azulejos pintado á mão pelo autor, criado expressamente para assinalar o centenário do nascimento de B.Léza (Dezembro de 2004) e que viria a ser afixado na fachada de uma das casas em que o compositor viveu em Lisboa na década de 40 do século passado, numa homenagem de duas associações ligadas á diversidade cultural e à lusofonia, na zona de S.Bento/Poço dos Negros.
Mas o melhor mesmo é ouvir as muitas e inesquecíveis canções que o autor de “Lua Nha Testemunha”, “Eclipse”, “Trás d´Horizonte” e tantas outras nos deixou. Incluindo, claro está, as originais e nunca por demais celebradas “mornas-fado” e “mornas-tango”, expressão maior da admiração de B.Léza por a dois géneros musicais que, de um e outro lado do Atlântico, marcaram para sempre, tal como a ”Morna” o Mindelo, a identidade de Buenos Aires e Lisboa, e cujas sintonias com a “Morna” são evidentes. Sortilégios das cidades-porto, ou dos caminhos do mar, quem sabe…
Titina – Note de Mindelo, from Titina Canta B.Leza
Mar Azul Marisa Monte Cesária Evora
[1] –“morabeza – amabilidade, afabilidade, em crioulo cabo-verdiano “ in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa