Depois de uma década de avanços, o projeto da integração latino-americana de Simón Bolivar sofre um novo retrocesso. Os governos do Brasil, Argentina e Paraguai protagonizam um processo de ataque e enfraquecimento às instituições integracionistas, entre elas o Mercosul e a Unasul. Para o doutor em Integração da América Latina, Alexandre Ganan de Brites Figueiredo, “reivindicar Boliviar” neste momento “é um ato de resistência”.
A pesquisa de Alexandre sobre o empenho do libertador em fomentar a integração continental para sua tese de doutorado em Integração da América Latina pelo Prolam-UPS resultou no livro “Bolivar – fundações e trajetórias da integração latino-americana” que será lançado nesta quarta-feira (30), na capital paulista. A obra traz um estudo profundo sobre o pensamento político de unidade dos Estados soberanos latino-americanos.
Segundo o especialista, “é errado imaginar que a integração seria apenas um sonho de Bolívar, no sentido de algo impossível”. A tese destaca que antes da libertação a América já era, de certa forma, integrada, pois respondia ao império espanhol, cuja capital era do outro lado do oceano. A proposta de Bolívar, neste aspecto, foi construir um continente unido, porém livre.
Alexandre explica que este projeto de integração latino-americano pode ser desmembrado em dois momentos: o primeiro logo após a libertação, quando Bolívar e outros expoentes dos exércitos libertadores entendiam que o continente precisava de “soluções globais”. “A solução institucional para a América após o fim do império espanhol era baseada em um modelo de integração”. E o segundo são os desdobramentos deste projeto já nos séculos 19 e 20.
O processo começa a ter bases sólidas com o Congresso do Panamá (1826) e os movimentos bilaterais que o antecedem. Grande parte do livro foca neste momento. Segundo Alexandre, é um período fundamental da história do continente que cimentou os alicerces do Direito Internacional latino-americano. “A ONU reconheceu em uma de suas Assembleias, em 1976, e celebra Bolívar como autor de uma unidade de Estados em torno de uma organização internacional, que até então não existia”.
Já nos séculos 19 e 20 o projeto ganha fôlego novamente. Alexandre alerta, porém, que “é comum se imaginar que o pensamento de integração regional latino-americana tem origem por volta dos anos 40, ou no pós-guerra”. Ele explica que neste segundo momento novos elementos ganham força, entre eles a questão econômica, mas o conceito de integração para a autonomia tem “raiz muito anterior”. São essas raízes que o livro resgata num momento que o continente sofre novamente uma contraofensiva de agentes externos não interessados na unidade do bloco.
O pensamento vivo de bolívar
Por muito tempo o pensamento de Bolívar esteve em disputa. O ex-presidente venezuelano Hugo Chávez foi fundamental para retomar o conceito de integração pelo viés da esquerda latino-americana – focado não só em questões econômicas, mas também culturais e sociais. Desde então, com os governos progressistas do Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai o continente avançou no fortalecimento da unidade regional.
Para Alexandre “a história da integração é pendular: há momentos que avança e há momentos que retroage, depende de muitos fatores”. Depois de uma década de avanço, volta a retroceder a passos largos, não só pelo interesse externo de não permitir o fortalecimento do bloco, mas pela própria atuação das elites locais que ainda agem de forma coloniza ao trair a soberania regional.
Diante deste cenário, o especialista não titubeia ao afirmar que cabe a esta geração de latino-americanos “insistir que Bolíviar é um caminho para nossa independência de fato”.
Lançamento do livro “Bolivar – fundações e trajetórias da integração latino-americana”
Local: Livraria Martíns Fontes – Avenida Paulista 509
Horário: 19
Por Mariana Serafini | Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado