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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Renovar MAIO

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Comemorar o 1º de Maio nos tempos actuais pode ser considerado quase um anacronismo; não fossem os registos históricos (e a memória de um ou outro dos mais velhos) e seria quase impossível explicar aos mais novos as razões para semelhante efeméride.

O absurdo não resulta apenas do facto de há muito o trabalho ter deixado de constar entre as actividades que enobrecem o Homem, substituído pelo expediente fácil e o enriquecimento sem causa, mas também das lamentáveis políticas que foram minando os recursos e uma justa melhoria da qualidade de vida aos que continuam a praticar a honesta tarefa de ganhar o sustento diário graças ao seu esforço pessoal. E não uso esta figura de estilo senão para tornar ainda mais evidente o que distingue os que usam as suas capacidades (sejam elas de natureza física, intelectual ou de empreendedorismo) para produzirem riqueza, dos que usam meros expedientes ou influências para a obtenção de ganhos.

Quando há décadas se assiste à paulatina degradação do poder de compra dos assalariados e se vêem florescer eminentes impérios industriais e comerciais apoiados na protecção dos governos que o que deviam era terem assegurado uma melhor redistribuição da riqueza que se dizia existir, quem pode, de boa fé e cara descoberta, afirmar que se assinala hoje uma data relevante?

Que novos embustes nos esperam nos discursos (e nas práticas) daqueles que, eleitos para representarem e defenderem o interesse-geral, talvez hoje se façam ouvir para louvar o Dia do Trabalhador?

Que novas benesses distribuirão entre os mais favorecidos enquanto anunciam novas medidas de protecção aos que mais sofreram com as crises económicas para as quais pouco ou nada contribuíram ou para os que estão agora a sofrer com uma crise sanitária para qual nada contribuíram?

Não tardaremos a conhecer a resposta a esta dúvida! Mas… e as que diariamente formulamos sobre as crescentes incertezas quanto ao nosso futuro próximo? Continuaremos a assistir à sistemática corrosão da sociedade por aqueles que tudo lucram e nada partilham ou lograremos, ao invés, pôr um travão a este estado de coisas?

Para isso não poderemos continuar a confiar no sistema político-económico que permitiu o alcandorar no poder de um grupo de arrivistas, vazio de outros interesses que não o da sua autopreservação.

Quando voltamos a ver-nos confrontados com mais uma crise económica que volta a pôr a nu o que aquele grupo representa de mais desprezível, se nada fizermos, estaremos a desperdiçar uma excelente oportunidade para alterar um rumo que manifestamente não serve o interesse geral.

É indispensável aproveitarmos a oportunidade que a evidente falência do modelo neoliberal de desenvolvimento económico nos proporciona e exigirmos dos políticos que pretendem representar-nos programas e compromissos claros, ideias concretas e devidamente fundamentadas e não tolerarmos mais os discursos pomposos e populistas, plenos de promessas, mas vazios de métodos e aqueles que dizem agora o contrário do que já disseram. Cansados de logros e demais estratagemas devemos mostrar aos que nos têm conduzido até ao precipício que apenas lhes resta saltar… mas sozinhos, porque o nosso rumo tem que ser outro bem diverso.

Perdida a hipótese de voltarmos hoje a ter um 1º de Maio como o de 1974, quando milhares e milhares de portugueses desfilaram pelas ruas do país chorando a alegria e cantando a revolta, esta é a oportunidade para exigirmos àqueles que elegemos um compromisso e um rumo diferentes. Um compromisso de seriedade e de vontade de trabalharem em prol da maioria e um rumo que decididamente nos oriente numa via de bem-estar e de respeito entre todos, na qual os ganhos desproporcionados de uns quantos não sejam os prejuízos da vasta maioria condenada a sobreviver nas infames margens da opulência dos primeiros.

Reprodução

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