Nas urnas, e seguindo todos os trâmites legais, a vitória de Lula nas eleições presidenciais brasileiras parece consolidada. Agora, resta a pergunta: o que será feito da direita xiita que saiu do armário com Bolsonaro e se armou até os dentes?
No Brasil é difícil encontrar alguém que não tenha um vizinho, um parente ou mesmo um amigo próximo que durante toda a vida se colocou distante de qualquer discussão ou posicionamento político e que, em um repente, se tornou um adorador de Bolsonaro e defensor ardoroso de tudo de ruim que ele representa e defende.
Confesso que tenho familiares e ex-amigos que se enquadram perfeitamente nesse perfil e passam os dias reproduzindo notícias falsas ou manipuladas pelo “gabinete do ódio” coordenado pelos filhos do ainda presidente. Um deles chegou até a expressar que hoje se sente empoderado e capaz de defender as suas posições. Essas pessoas que eu “conhecia” se tornaram violentas, agressivas, irracionais… e, armadas.
O número de pessoas registradas como CAC (colecionadores de armas, atiradores e caçadores) passou de 117 mil em 2008 para mais de 673 mil hoje, quase o mesmo do que o conjunto de todos os policiais militares do país somados ao contingente de nossas Forças Armadas. Esse número é ainda mais preocupante se considerarmos que cada atirador pode ter até 60 armas, sendo 30 de uso restrito, como fuzis, e comprar 180 mil balas por ano; os caçadores podem comprar 30 armas, 15 delas de uso restrito, e 6 mil balas; já para os colecionadores podem comprar até 6 mil balas por ano e não tem um limite para a compra de armas, desde que não ultrapassem 5 peças de cada modelo. Vale lembrar que cada cidadão pode se registrar em uma ou até nas três categorias, somando, portanto, as quantidades previstas para cada uma: atirador, caçador e colecionador.
Durante toda a sua vida Bolsonaro deu sinais de sua insanidade, mas ele era uma voz isolada e a sua eleição foi um mero acidente circunstancial. Hoje, ele não tem a menor condição de se reeleger, mas o seu discurso conquistou uma parcela representativa da população, que pode variar entre 10 e 25%, mas parece disposta a segui-lo e que não se mostra confortável em retornar às sombras onde sempre se esconderam. É para esse seu “público” que Bolsonaro discursa e é para eles que são norteados a maioria de seus atos. Ele já deixou claro que não gosta de nada ligado à Cultura e em especial à leitura. Nos últimos anos quase 800 bibliotecas foram fechadas e agora não passam de 5.293 em todo o país, enquanto o número de clubes de tiro, onde as pessoas vão para efetuar disparos com suas armas, cresce assustadoramente no país. Apenas nos três primeiros meses desse ano foram abertos 268 novos clubes de tiro, uma média de três ao dia.
Os dias e as semanas que se seguirem a 2 de outubro, caso o pleito se resolva em primeiro turno, ou 30 de outubro, caso nenhum candidato conquiste mais de 50% dos votos válidos, serão determinantes para o processo de estabilidade democrática no Brasil e para o estabelecimento de um novo modelo de convívio social.
Enquanto isso, Bolsonaro segue batendo nas mesmas teclas. Recentemente ele utilizou as suas redes sociais para falar dos riscos de uma eventual vitória de Lula nas próximas eleições. Ele disse: “Se Lula vencer as eleições vai transformar todos os clubes de tiro em bibliotecas”.
Tomara que isso aconteça, de verdade!
Texto em português do Brasil