Desilusão com PàF reforça vontade de Costa em derrubar o muro à esquerda desde 1975
António Costa saiu desiludido da reunião com a coligação PSD/CDS e mais disposto a pôr fim ao “muro que persiste na esquerda portuguesa desde 1975”. Sobre as propostas da coligação à direita considera que “o documento não traduz um esforço suficiente nem revela uma mudança de política que reduza a austeridade e o empobrecimento dos portugueses”. Já Passos Coelho acusou o líder do PS de não apresentar contrapropostas e de falta de vontade política para um entendimento, avisando ainda que tem a expectativa de que Cavaco Silva chame o PSD e o CDS a formar Governo.
No final da reunião na sede do PS, António Costa concretizou a desilusão: “o documento que apresentaram ignora a prioridade que deve ser dada ao combate ao desemprego, ao combate à pobreza infantil, à alteração dos escalões do IRS, ignora a importância da reposição dos salários dos funcionários públicos, ignora a redução do IVA na restauração, a redução das taxas moderadoras. E infelizmente não encontramos eco nas críticas que fizemos”.
Costa referiu ainda a ausência de informação indispensável ao suporte financeiro das medidas que apresentaram como por exemplo deixar cair o plafonamento das pensões, entre outras matérias.
António Costa afirmou várias vezes: “A coligação tem que ter a humildade democrática de perceber que o quadro parlamentar mudou”. Acusado por Passos Coelho de não apresentar propostas, Costa respondeu: “Iremos por escrito responder a este documento sobre aquilo que fizemos oralmente nesta reunião, para que a coligação tenha mais uma oportunidade de ponderar”.
Já quando questionado pelos jornalistas sobre a vontade de ser primeiro-ministro respondeu: “Não estamos a negociar nem o meu cargo nem os interesses do Partido Socialista. Nós estamos a trabalhar por aquilo que é o interesse de Portugal e dos portugueses e poder dispor de uma solução estável para os próximos quatro anos”.
Mas sublinhou também várias vezes que defende uma solução governativa estável que corresponda à vontade inequivocamente expressa pelos eleitores “e que é a grande ambição de uma mudança política”.
António Costa respondeu também aos críticos de uma coligação à esquerda, incluindo os do PS, quando referiu uma reunião técnica já realizada com o PCP para convergir politicas.
“Criar condições para pormos fim a um muro que persiste na esquerda portuguesa desde 1975 e permitir ao país novas condições de formação de governo estável para além daquelas que têm sido habituais”.
Passos Coelho ainda espera que Cavaco dê posse de governo à PàF
Passos Coelho: “não avançámos rigorosamente nada sobre a matéria concreta. Registámos que o documento não a satisfez e é insuficiente para o Partido Socialista. Não aconteceu uma contraproposta. “A reunião terminou absolutamente inconclusiva”.
Passos Coelho acusou várias vezes António Costa de não fazer contrapropostas. “O PS pôs-se numa posição passiva. Aguardamos agora que o PS nos faça chegar uma contraproposta”.
Contudo frisou: “Creio que para o país é fundamental chegarmos a um entendimento”. Quanto à possibilidade de Costa optar por uma solução de Governo, Passos foi afirmativo ao dizer que “quem ganhou as eleições não foi o PS, foi a coligação que integra o PSD e o CDS”.
Passos sublinhou ainda que na noite eleitoral comunicou ao país o propósito de formar governo. “É natural, portanto, que a aspiração legítima de quem ganha seja poder governar. E revelou o que espera de Cavaco Silva após a análise dos resultados eleitorais já fechados e após ouvir todos os partidos.
“A expectativa legítima que tenho como presidente do PSD é de que o PSD e o CDS sejam chamados a formar governo porque foram quem conjuntamente ganhou as eleições”.
Paulo Portas salientou “o esforço que nós fizemos foi sério, denso, construtivo e de aproximação de posições”. Referiu propostas na área social mais justas no complemento social do idoso, mais médicos de família, salário Mínimo Nacional, eliminação mais rápida da sobretaxa.
Portas salientou no entanto, defender uma política para “não pôr em causa a confiança da nossa economia e não haver riscos políticos dentro do arco europeu”.
Negociações à esquerda continuam
A comissão política do PS agendada para esta terça-feira à noite foi entretanto adiada para que as negociações possam continuar sem interferências. Depois da reunião técnica entre dirigentes do PS e do PCP, segue-se igual encontro com elementos do Bloco de Esquerda. Ambas para tratar sobretudo de divergências a nível da União Europeia. Com a coligação PSD/CDS não ficou marcado um terceiro encontro.