O ridículo da campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 24 de Janeiro não está a acontecer. Ontem, sem perceber como, viu-se Marcelo a dançar com uma senhora um hip-hop madeirense. Maria de Belém insistia que a desigualdade entre homens e mulheres se espelhava nuns bonecos articulados que mostravam a vida na aldeia, onde a boneca dava à manivela e quatro bonecos jogavam à sueca. Edgar Silva tentava entregar panfletos a Norte, sem sucesso, ia a correr atrás de operários com um camarada a gritar: “Este é o Edgar Silva, o candidato”, enquanto o comunista corria sem jeito de papel na mão.
O General Cavaco, como Eanes insultou Sampaio da Nóvoa, agora dá toques numa bola de futebol. Tino espeta paus na praia, o Sequeira vai aos lares. Já nem se sabe dos outros, que Henrique Neto está proscrito por imperativos ocultos e o outro cavalheiro, desde que se sabe que é rico, não interessa, neste lugar de patafúrdios.
Isto não está a acontecer. Como dizia Lewis Black de Sarah Palin, estas personagens são todas de ficção. É uma espécie de guião cómico para entreter. Não nos passa pela cabeça que Marcelo volte a dançar hip-hop com alguém em Belém, que Sampaio receba o presidente do Perú e troque uns pontapés nos jardins do palácio, muda aos cinco, acaba aos dez. Maria de Belém não vai exigir igualdade na bonecada e impor um presépio com, pelo menos, uma mulher por cada homem.
Isto não está a acontecer. Maria de Belém bem podia ter perguntado às operárias da fábrica Cavalinho se eram bem pagas ou pagas como os homens. Não, preferiu os bonecos. Sampaio da Nóvoa não andou a rematar à baliza para ver se o reitor da Universidade Técnica perdia nos penalties.
Isto não está a acontecer. Marisa Matias foi à Cova da Moura, carinhosa e sensível, atacou Cavaco (?) e perguntou a uma senhora de um centro de dia “Quer que eu derrube Marcelo Rebelo de Sousa ?”, como se Marcelo pudesse levar com uma entrada por trás, a pés juntos, e caísse do pedestal onde uma entidade desconhecida o tivesse posto – neste caso o dr. Nóvoa deve ter mais jeitinho para a falta.
Isto não está a acontecer porque Portugal não pode ser só isto, não é só isto. Um país não pode sobreviver a tanta demagogia e a tanto entretenimento e piadola quando estamos à beira de decidir quem será a pessoa a deter os códigos nucleares da nação.
Os candidatos são melhores que tudo isto. Tirando o Sequeira, são todos mais capazes do que estão a mostrar e que as televisões apresentam, em doses curtas e com folclore. Mas se os nove candidatos retirarem absolutamente o ridículo das suas passeatas, só restará boa mensagem. A gente precisa. Senão, mais de meio Portugal, dia 24, marimba-se. E ter um(a) Presidente eleita(o) por menos de metade dos portugueses é algo que não pode estar para acontecer.