Reclamar o direito à cidade em jeito de parada é o que propõe o movimento Rock in Riot que marcou uma concentração para este sábado, 24 de Março, em Lisboa, contra a subida do preço das habitações, o aumento dos despejos e a privatização dos espaços culturais.Este é o primeiro evento de vários colectivos sócio-culturais, entre eles a associação Habita e o Regueirão dos Anjos 69, que querem trazer para a rua a voz de cidadãos revoltados com as políticas e gestão da capital. Em comunicado divulgado nas redes sociais pode ler-se: Uma perspectiva alargada da cidade torna claro que o aumento dos preços da habitação é fruto dos negócios partilhados entre banca, fundos imobiliários e o poder autárquico”.
O Rock in Riot defende que “o espaço urbano tornou-se numa máquina produtora de capital” com a “expulsão das populações mais pobres e marginalizadas do centro; a gestão policial dos bairros das periferias e o policiamento de comportamentos e expressões corporais no espaço público; ou a privatização de ruas, praças, jardins e teatros municipais”.
Com o lema “Ocupar as ruas, Reclamar a cidade”, a organização da “festa-protesto” distancia-se de qualquer conotação política e desafia todos aqueles que não concordam com as políticas e a gestão que os poderes públicos têm feito na Área Metropolitana de Lisboa a trazerem para o percurso bicicletas, skates, patins, música, faixas, cartazes ou adereço. O encontro está agendado para a Alameda D. Afonso Henriques, pelas 14 horas, com descida até ao Intendente.
Conforme indicam os organizadores da iniciativa, nas últimas décadas “a modernização de Lisboa tem vindo a redesenhar o território metropolitano enquanto um gigantesco negócio”. “Os espaços que outrora eram vividos colectivamente estão agora reconfigurados enquanto mero meio de criar dinheiro e as infraestruturas que visavam organizar a vida colectiva parecem agora apenas organizar a velocidade das interacções económicas”.
O preço da habitação disparou, assim como dispararam os despejos. Encontrar casa para viver é difícil e nenhum inquilino se sente seguro. A habitação deixou de ser o local onde vivemos para se tornar num investimento. Por isso há cada vez mais casas não habitadas, casas com janelas emparedadas e cada vez menos sítios para viver” Pode ler-se ainda no comunicado.
“O preço da habitação disparou, assim como dispararam os despejos. Encontrar casa para viver é difícil e nenhum inquilino se sente seguro. A habitação deixou de ser o local onde vivemos para se tornar num investimento”, diz o comunicado do movimento Rock in Riot
“A cidade é um bem comum, colectivamente produzido por todos os que nela habitam. Um pouco por todo o lado surgem processos de resistência que procuram salvaguardar e organizar os restos de comunidade que sobrevivem por entre a especulação e a comercialização de todos os aspectos da vida. Contra eles, o poder encontra sempre novas formas de sistematizar, separar, atomizar e dividir as populações”, conclui.
Viver em Lisboa está a tornar-se um luxo ao alcance de muito poucos e é duas vezes mais caro que a média do resto do País. Recorde-se os números divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatísticas: Na capital, o metro quadrado já custa 9,62 euros e verificaram-se, no ano passado, valores de arrendamento por metro quadrado superiores ao valor nacional em 37 municípios, tendo o valor médio nacional ficado nos 4,39 euros por metro quadrado.
O Parque das Nações foi considerada a zona com rendas mais elevadas: 11,70 euros por metro quadrado. Segue-se a freguesia da Misericórdia, onde se situa o Bairro Alto e o Cais do Sodré, (11,64 euros por metro quadrado), e a freguesia de Santa Clara é a mais acessível, com um custo de 6,82 euros. As associações de inquilinos já vieram frisar que os valores são bem mais altos que os divulgados pelo INE.