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Terça-feira, Julho 16, 2024

Rogério Fernandes

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1933 – 2010)

Professor, pedagogo, investigador, ensaísta e jornalista, foi um militante destacado da Resistência, que colaborou desde jovem nos movimentos da «Oposição Democrática», nunca se afastando da preocupação de questionar a Sociedade, interrogar a História e (re) pensar a Educação. Investigou, ensinou e escreveu nas áreas de História e Filosofia da Educação, organização de sistemas educativos e política educativa.

Foi sub-director e director da revista Seara Nova. Foi dirigente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa e Presidente do Instituto Irene Lisboa. Era um homem afável e de uma modéstia invulgar num intelectual com a sua obra e envergadura[1].

Professor, pedagogo, investigador, ensaísta…

Rogério Fernandes nasceu em Lisboa a 12 de Outubro de 1933 e faleceu na mesma cidade a 4 de Março de 2010. Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que frequentou de 1951 a 1955, participou no movimento estudantil e foi eleito para a «Comissão Pró-Associação». Foi nessa faculdade que se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas e se doutorou em Educação (História e Filosofia da Educação), tornando-se a seguir professor do Ensino Técnico e do Ensino Secundário Particular. Em 1957 regressa à Faculdade de Letras como segundo assistente de Filosofia. Porém, proibido por Salazar de leccionar, Rogério Fernandes ingressou no jornalismo (Seara Nova, Vértice, República, A Capital, O Professor) e foi então autor e co-autor de várias obras e ensaios, tradutor e consultor editorial.

Em 1962 foi, primeiro, sub-director da Seara Nova (quando Augusto Casimiro era o director) e, depois, seu director. Permanece na Seara Nova até 1967, ano em que é convidado para a redacção do vespertino A Capital, onde começa por coordenar a secção de Educação e mais tarde se torna chefe de redacção. Fez parte de comissões editoriais das revistas Inovação, O Professor, Revista Brasileira de História da Educação, entre outras.

De 1972 a 1974 foi professor do Instituto Superior de Serviço Social e do Instituto Superior de Psicologia Aplicada.

… e jornalista

Na campanha eleitoral das legislativas de 1969 apoia a CEUD de Lisboa. Nesse mesmo ano, apresenta uma comunicação no II Congresso Republicano de Aveiro, assina um Manifesto dos Escritores Oposicionistas e subscreve um abaixo-assinado de jornalistas. Em 1973 faz parte da Comissão Nacional do III Congresso da Oposição Democrática.

Durante o período marcelista apoiou os Grupos de Estudo do Pessoal Docente – uma organização ilegal que esteve na origem dos sindicatos dos professores, que iriam ser criados nos primeiros dias após a Revolução – e foi também editor da Revista O Professor (dois fortíssimos instrumentos da transmissão, a nível nacional, das reivindicações sócio profissionais dos docentes, duas estruturas muito perseguidas pelo regime).

Questionar a Sociedade, interrogar a História e (re) pensar a Educação

Entre Agosto de 1974 e Agosto de 1976, a convite do então ministro Vitorino Magalhães Godinho foi director-geral do Ensino Básico e a ele se ficaram a dever importantes reformas nesta área. Afastado do cargo em 1976, foi-lhe atribuída função de inspector-geral da Junta Nacional de Educação, que iria deixar para leccionar a disciplina de História e Ciências da Educação na Universidade de Lisboa e colaborar com a Fundação Calouste Gulbenkian. Concorreu depois para o lugar de professor associado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, onde veio a terminar a sua carreira já como Professor Catedrático.

Após o 25 de Abril de 1974 aderiu ao PCP[2]. Foi deputado (PCP) à Assembleia da República na III Legislatura (1983 – 1985) e na VI Legislatura (1991-1995).

O seu nome ficou ligado a diversos projectos educativos. Autor de uma vasta obra científica, Rogério Fernandes, foi voz fundamental na reflexão sobre os sistemas educativos e a formação de professores.

Foi presidente do Instituto Irene Lisboa. Já Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, foi professor visitante nas Universidades de São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na Universidade Metodista MacKenzie e na Universidade Federal de Minas Gerais. Foi coordenador do projecto Museu Vivo da Escola Primária, na cidade do Porto.

Uma das suas últimas intervenções públicas decorreu na Universidade Popular do Porto, a convite da Seara Nova, revista em que, enquanto sub-director e director, tinha tido um ímpar papel dinamizador, não só como redactor, mas também na chamada de muitos jovens intelectuais progressistas às suas páginas.

Pertenceu aos corpos sociais do Sindicato do professores SPGL, como Presidente da Mesa da Assembleia Geral, em sucessivas mandatos.

Em 2002, foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública[3].

Quando morreu, em 2010, era professor catedrático (jubilado em 2003) da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, onde continuava a trabalhar.

Homenagem a Rogério Fernandes

O voto de pesar pelo seu falecimento, da iniciativa do PCP na Assembleia da República, foi aprovado por unanimidade.

Em Outubro de 2010, a Universidade de Lisboa e a Universidade Lusófona prestaram homenagem ao emérito Professor, investigador, homem de cultura e cidadão pleno que foi Rogério Fernandes. Realizaram-se também homenagens em Famalicão, Castelo Branco e no Maranhão, por ocasião do VIII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação; e outras se seguiram, nomeadamente na Universidade do Porto. Também amigos, colegas, companheiros de diferentes épocas e lutas têm procurado lembrar e dar a conhecer o trabalho e o significado da acção de Rogério Fernandes[4].

 

Rogério Fernandes – Vida e Obra

Em Outubro de 2011, em Palmela, no cine-teatro S. João, foi inaugurada a exposição “Rogério Fernandes – Vida e Obra – 1933/2010”, integrada no programa da Recepção à Comunidade Educativa, promovido pela Câmara Municipal de Palmela.

 

Escreveu nas áreas de História e Filosofia da Educação

Rogério Fernandes deixou centenas de textos escritos. Em 1969 edita o seu livro de contos “Três tiros e uma Muralha”. Na sua bibliografia contam-se inúmeros ensaios e textos, tais como a intervenção proferida no 3º Congresso da Oposição Democrática (Aveiro, 1973), “A Batalha Socialista pela Democratização do Ensino”, publicado pela “Seara Nova”. Na sua obra destacamos:

  • Ensaio sobre a obra de Trindade Coelho (1961);
  • Ensino – sector em crise (1967); Situação da educação em Portugal / Rogério Fernandes (1973);
  • Aspectos do ensino na República Democrática Alemã (1976);
  • O pensamento pedagógico em Portugal (1978);
  • A pedagogia portuguesa contemporânea (1979);
  • Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque e as reformas do ensino em 1835-1836 (1983);
  • Bernardino Machado e os problemas da instrução pública (1985);
  • O pensamento pedagógico em Portugal (1992);
  • Uma experiência de formação de adultos na 1a República: a universidade livre para educação popular, 1911-1917 (1993);
  • “Os Caminhos do ABC. Sociedade Portuguesa e o Ensino das Primeiras Letras” (Porto editora, 1994).

 

Percorreu o tempo longo da elaboração do pensamento pedagógico entrecruzado com o tempo curto das conjunturas que os actores viveram[5].

 

 

[1] Do trabalho conjunto de cerca de 16 anos como orientador, consultor, coordenador de projectos, organização de livros e encontros e de escrita de artigos, permanecem vivas as suas qualidades pessoais onde prevalecia uma oralidade expressiva, por vezes provocadora, acompanhado por um fino e acutilante sentido de humor. Na sua expressão havia um quê da tradição oral, do contador de histórias que captava e encantava o interlocutor. A sua bonomia e generosidade e o seu jeito de nos provocar brincando tornavam as suas posições mais sedutoras e desbloqueadoras de monolitismos conceptuais ou de divergências organizacionais.

Dele podemos dizer que não se deixou definir pelos lugares e filiações que manteve, actuando sempre com grande independência de pensamento, sem se intimidar por qualquer tipo de autoridade. A crítica metódica a que submetia a realidade levava-o a expressar as suas ideias sem no entanto se fechar à argumentação dos que de si discordavam.»

[2] Partido de que nunca saiu, ainda que nos últimos anos de vida se tenha mantido afastado da militância.

[3] Quando foi distinguido com a Grâ Cruz da Ordem da Instrução, confessou a amigos que se alguma condecoração achava que hipoteticamente lhe pudesse ser atribuída, a que lhe daria mais prazer, mais do que a Ordem da Liberdade, seria sem dúvida a que recebeu – a da Instrução – pois que correspondia à causa que lhe era mais cara desde a sua juventude e pela qual sempre se batera, ao longo da vida.

[4] Durante anos e anos trabalhei com o Rogério em «O Professor» e depois numa revista da FCUL. Muito mais que um bom director, ele era um companheiro de trabalho que ajudava, ensinava, substituía, adivinhava. Profundamente conhecedor da organização e administração do ensino, como da pedagogia e da psicologia devo-lhe o que sei sobre o ensino e as escolas, Mas ainda assim, com o seu desaparecimento, perdi um irmão mais velho honesto, verdadeiro e sábio a quem não era preciso explicar para que entendesse, Quem conheceu o Rogério e a sua família não pode ser imparcial na recordação do Rogério. O Rogério era, tal e qual, o que transparece nesta fotografia; na família, no trabalho, na amizade, jornalista, chefe de redacção ou director, Doutor, Professor Dr., ou o que fosse, o Rogério era … o Rogério!»

[5] Obras como As Ideias Pedagógicas de Adolfo Coelho (1973), O pensamento pedagógico em Portugal (1978), A pedagogia portuguesa contemporânea (1979), Bernardino Machado e os problemas da Instrução Pública (1985), Bernardino Machado. O Homem, o Cientista, o Politico e o Pedagogo (2001), dão conta dessa preocupação com a estruturação de um pensamento em Portugal sobre a educação. Ensaio sobre a obra de Trindade Coelho (1961), João de Barros – Educador Republicano (1971), Cartas de António Sérgio a Álvaro Pinto (1972), O Despertar do Associativismo Docente em Portugal (1989) são exemplos do rigor da demonstração, assente na prova e baseada na análise detalhada dos testemunhos. Em Rogério Fernandes a teoria confronta-se com a realidade ou elabora-se a partir dela; não se lhe impõe, não a distorce nem a aprisiona»

Dados biográficos


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