A morte bate à porta, nem sempre com aviso prévio, e nem sempre apanhando os que cá ficam preparados para isso. Assim foi em Ponta Delgada, no Domingo passado, com o avô paterno das minhas netas por via materna.
O pai das crianças meteu-se logo no avião, com a mãe e as crianças a planear ir no dia seguinte, mas eis que os bilhetes de identidade das meninas não aparecem, e torna-se necessário proceder como se faz em todo o mundo, declarar perante as autoridades policiais o extravio dos documentos oficiais, a fim de que estas forneçam o documentação provisória para a viagem.
Do outro lado, uma avó que todo o Natal tinha já chorado a ausência das netas, a mais nova ainda com dois anos e a mais velha com cinco, ambas nascidas em Ponta Delgada, mas que as vicissitudes da vida trouxeram com os pais para Lisboa, afastando-as assim dos seus avós paternos.
Dois dias depois, tudo parece resolvido, bagagens embarcadas e check-in feito, na companhia Ryanair. Eis senão quando a funcionária da companhia resolve barrar a entrada das crianças na aeronave. Seguem-se cenas de terror traumático. As crianças não conseguem entender por que razão não podem ir à sua terra ter com o seu pai e ver a avó Nemésia, gritam e choram na indiferença da representante da Ryanair.
A PSP presente no aeroporto constata que todos os dias há passageiros que embarcam na Ryanair em condições idênticas – com documentos provisórios por extravio dos originais – mas confessa-se impotente para alterar o humor dos representantes da companhia.
A minha filha faz queixa que endereça ao único contacto disponível da companhia. Cinco dias passados, a companhia nem sequer um aviso de recepção da queixa envia, menos ainda qualquer forma de minimizar a dor que causou ou indemnizar por danos sofridos, preparando-se para expropriar as quantias pagas.
Enquanto medito aqui em Bruxelas em como se deve sentir em Ponta Delgada a avó Nemésia que a lei da vida privou do seu companheiro e que a arbitrariedade e prepotência privaram das suas netas quando mais necessitava da sua presença, medito sobre quem zela para que os mais basilares direitos humanos de quem vive ou quem nasceu nas ilhas dos Açores não seja espezinhado desta forma.