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João de Sousa

Sexta-feira, Julho 26, 2024

Será que o mundo é gay?

Ou andávamos todos muito distraídos? É como se de repente víssemos e assistíssemos a uma grande onda de pessoas atraídas pelo mesmo sexo, e nós que julgávamos que se tratava de uma pequena minoria. Que o homossexualismo, masculino e feminino – a palavra “homo” vem do latim que significa de igual para igual – sempre existiu, desde tempos imemoriais, é questão irrefutável. Na Antiga Grécia, era assumido publicamente sem quaisquer preconceitos ou pudores. O mesmo na Antiga Roma. Imperadores, homens comuns, militares romanos, casados, com as suas mulheres e famílias, tinham os seus amantes, jovens rapazes, companheiros de viagens e de serviço pelo Império. O homossexualismo feminino era de igual modo assumido, e só o sentimento do amor e de atração sexual por seus pares tinha importância. Safo (séc. VII e VI a. C), a mais famosa homossexual entre todas elas, natural da Ilha de Lesbos e lugar de muitas mulheres e de muitos amores – daí a terminologia e a denominação “lésbica” – embora a palavra, à época, fosse muitas vezes usada como sinónimo de cortesã. São atribuídos a Safo muitos poemas eróticos, sendo alguns dos mais famosos:

A Átis

Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:

“Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo”. “Seja feliz”, eu disse,

“E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembra-lhe
Os nossos momentos de amor.

Quantas grinaldas, no seu colo,
— Rossas, violetas, açafrão —
Trançamos juntas! Multiflores

Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros
Da sua pele em minha pele!

[…]

Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede” […}

E:

A uma mulher amada
Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.
Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frémito me abala… eu quase morro… eu tremo!

Ao longo do tempo e dos séculos, com a repressão, os conceitos de culpa e de pecado, oriundos da era cristã/judaico cristã, alterou a forma como se olhava para o homossexualismo.

O mundo de hoje entretanto mudou. As paradas gays são um sucesso e se enchem em todo o mundo; a aprovação e a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo são uma realidade em muitos países; a “saída do armário” e o assumir do homossexualismo por parte de muitos; a liberdade de hoje, nas sociedades em geral (no mundo ocidental, leia-se); o afastamento da ideia e de conceito de pecado e de depravação; todos estes fatores têm contribuído para que o homossexualismo seja visto e encarado com naturalidade e como opção/inclinação sexual, como o é no caso do heterossexualismo.

Se se trata de uma fase, com toda esta profusão toda de vaga gay que está varrendo o mundo, não sabemos ainda. Se for para ficar ou não, haverá ainda e sempre, no entanto,  quem diga perante a existência de um filho gay que é um vendaval de desgosto ter um filho assim.

E por mais que nos afirmemos tolerantes e digamos que é tudo uma questão de mentalidade, de pré conceitos culturais, sociais, e outros, certo é que quando nos toca diretamente, não há respostas. A única verdade é que recuámos muitos séculos nestes quesitos. A ponto de uma cristalização e de uma impregnação inconsciente e irracional nesse mesmo recuo. Até quando?


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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