“Até que o novo ministro se entenda com a gigantesca máquina do ministério, teremos dias de inoperância no plano federal”
E equipe do ministro da Saúde, Henrique Mandetta, deve estar limpando gavetas novamente. Numa pasta gigantesca como a da Saúde, mesmo numa situação normal, a troca de ministros traz um hiato de gestão que, por algum tempo, paralisa as ações. No meio de uma pandemia, o lapso será ainda mais danoso.
Para alguém como Bolsonaro, que já terá tantas contas a acertar com a História, pelo conjunto da obra desastrosa de seu governo e de sua atuação inqualificável na pandemia, a demissão de Mandetta, nas circunstâncias em que deve ocorrer, será um peso a mais. O ministro tem dito que jogou limpo, deixou suas posições muito claras e a opção por tirá-lo é “deles”. Sairá atirando? Acredito que não deixará de dizer, sem baixaria, o que precisa ser dito. Vai colaborar na transição? No dia 6 ele disse que estavam lá “para ajudar”, mesmo com outro ministro. Talvez, por espírito público, alguns fiquem para garantir uma transição menos catastrófica.
O novo ministro levará algum tempo para conhecer a máquina, formar equipe, tomar pé do andamento das ações em curso. Há processos de compra em curso, há medidas sendo tomadas para socorrer os estados, há um número de processos que sofrerão algum atraso ou interrupção. Enfim, passará alguns dias experimentando os pedais e as marchas antes de começar a pilotar o carro. Teremos um “desastre” , como disse o governador João Dória, ainda que o escolhido não serra um terraplanista disposto a se dizer amém para Bolsonaro em sua cruzada contra o isolamento social.
Com o pedido de demissão do Secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, o Planalto entendeu que toda a equipe pode pedir o boné e agora estaria propenso a só demitir Mandetta quando tiver resolvido o problema do segundo escalão. Toda a equipe sairá mesmo, como foi dito no dia 6 de abril, quando Mandetta esteve com um pé fora da pasta. Bolsonaro foi contido por seus tutores militares, que agora, por conta da entrevista do ministro ao Fantástico, exigindo uma “fala única” do governo sobre isolamento social, puxaram-lhe o tapete de apoio.
Mas como podem Bolsonaro ou o “presidente operacional”, general Braga Netto, resolver o problema do segundo escalão antes da escolha do novo ministro? Pensam entregar-lhe uma pasta com os cargos de auxiliares já preenchidos? Ninguém aceitará isso, pois é receita certa para crises e desentendimentos. Os ocupantes de segundo escalão devem ter afinidade com o ministro e devem lhe dever o cargo para que possam respeitá-lo. Se forem prepostos do Palácio, vão se achar poderosos, começar a agir por conta própria e aí o ministério vai tornar-se mesmo uma casa de mãe Joana.
Então, apertemos os cincos. Redobremos nossos cuidados, cada um cuide de proteger porque, gostando ou não de Mandetta, o Brasil aprendeu a conhecer sua orientação. Até que o novo ministro se entenda com a gigantesca máquina do ministério, teremos dias de inoperância no plano federal.
Texto original em português do Brasil
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