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Domingo, Novembro 3, 2024

Salazar e a Maçonaria: uma estória mais velha que “o Diabo”

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

O jornal “O Diabo” descobriu, para manchete desta semana, uma estória de “toda a gente” conhecida e com a provecta idade de coisa de um século: Bissaia Barreto, um grande amigo pessoal de Salazar e seu médico de confiança, era maçon! Oh, diacho…

A capa de “o Diabo”…

Maçon e destacado obreiro da “Loja”, poderiam acrescentar. Mas, se quiserem entrar por aí, os jornalistas de “O Diabo” têm à sua espera grandes surpresas. E, essas, não, não são do conhecimento de “toda a gente”. Sem esgotar a matéria, aqui lhes deixamos algumas pistas.

Quem foi, pessoalmente, a casa de Salazar convencê-lo a vir para o Governo como ministro das Finanças, foi um alto dirigente da Maçonaria, líder do golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 e com quem Salazar se solidarizou quando esse dirigente foi afastado por Gomes da Costa.

E foi um dos escassíssimos ministros que abandonaram o governo em solidariedade com o almirante Mendes Cabeçadas. Enquanto o general Gomes da Costa esteve à frente do governo, Salazar manteve-se afastado, por terras de Coimbra, e só depois do golpe palaciano do general Carmona ter afastado Gomes da Costa – exilando-o para os Açores – é que aceita regressar ao ministério das Finanças. E, de novo, pela mão de um maçon: o próprio general Carmona.

Reunião do Governo a 7 Junho 1926. Vários maçons sentados a esta mesa presidida por alto responsável do GOL e Presidente da República, almirante Mendes Cabeçadas. A 12 Junho, Salazar já aqui se sentará…

Vários dos seus colaboradores directos – alguns mesmo nas funções de chefe de gabinete – eram maçons. E, durante décadas, maçons foram presidentes da Assembleia Nacional… Salazar sabia-o? Pelo menos, nem sempre o terá sabido… Esses maçons estavam lá apenas para o assessorar ou estavam a executar uma estratégia de containment? É sabido (pelo menos, por algumas pessoas ainda vivas) que Salazar sempre se queixou, na intimidade, da falta de amizade e até de apreço pessoal que lhe votava o general Carmona…

General Carmona a fuzilar Salazar com o olhar…

Um Carmona que, à revelia de qualquer membro dos seus governos, sempre controlou, com homens da sua confiança pessoal e política, os aparelhos de informação e de segurança: Até colocou Delgado a “conter” a Legião Portuguesa e Galvão a dirigir e orientar a nóvel Emissora Nacional (homens que após a morte de Carmona se revoltarão contra a o “novo rumo” de Salazar…). Pela área da segurança se chega  ao caso caricato do homem a quem a propaganda da área do PCP apelidou de “o Anjo Negro de Salazar” (e a quem os “files” da americana OSS chamam “Jimmy” e identificam como um colaborador precioso em operações americanas de “deception”…).

Esse homem (oriundo do grupo do fundador da República, o carbonário almirante Machado dos Santos, líder da Alta Venda e que Carmona agracia com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a título póstumo, a 4 de Setembro de 1926), o capitão Agostinho Lourenço é uma das peças decisivas do dispositivo de comando, controlo e containment montado pelo general Carmona e é também amigo de um alto dirigente da Maçonaria e interlocutor privilegiado da Grande Loja Unida de Inglaterra em Lisboa.

Cap. Agostinho Lourenço (fardado) e Ramon Nonato de La Fério (de óculos), em cerimónia republicana, 1931.

Em resumo, Salazar esteve sempre de tal modo rodeado de maçons que até já houve quem (desafiando qualquer réstia de bom senso e sem sombra de prova aceitável…) se atrevesse a declará-lo um “iniciado”… Enfim, “o Diabo” abriu uma caixinha da Pândora e até poderia agora, nesta matéria, passar da “estória” para a “história”. Mas isso são já “outros quinhentos”!

Salazar, o Maçon, by Costa Pimenta (magistrado e investigador da Universidade de Lisboa)

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