Bernard Sanders e Jeremy Corbyn são os verdadeiros homens da revolução da actualidade. Na casa dos setenta anos (o primeiro já tem, o segundo para lá caminha), lideram nos Estados Unidos e no Reino Unido, sem pudor, o que a esquerda mediterrânica teme fazer – uma inquietação de espíritos.
Bernard Sanders concorre às eleições presidenciais, para suceder a Obama. A sua história é interessante e nunca, mas nunca, deixou de lutar pelos direitos humanos, pela igualdade e contra racismos e pensamentos conservadores. Tem que derrotar, dentro do partido, Hillary Clinton, se se quiser bater contra o candidato da direita. Sanders, em Portugal, estaria no PS, com uma simpatia muito vincada pelo socialismo democrático sem raízes laborais.
Um dos seus slogans de campanha não podia ser mais actual… aqui! “Ninguém que trabalhe 40 horas por semana pode viver na pobreza”. Tinha sido bom para o PS, digo eu, que se emaranhou em cartazes estranhos.
Já Jeremy Corbin, líder da esquerda inglesa e, grosso modo, da britânica, tem menos lutas civis mas mais combate sindical na sua história. Com posições mais extremadas do que Sanders, algumas de fazer corar Mariana Mortágua e João Oliveira, segue a linha dos Trabalhistas: ao contrário do “nosso” PS, os britânicos radicam no sindicalismo socialista e não na social-democracia, como cá.
Eu respeito pessoas que não desistem. Quando, aos 70 anos se atiram para a frente, admiro-os. Julgo que votei Henrique Neto porque aos 79 não via que fosse ganhar muito com a maçada de ser Presidente. Neto era o nosso Sanders, mas ninguém o viu, ou ouviu.
Vem tudo isto a propósito dos opróbrios maniqueístas em que a Europa se submergiu. A Europa sem a velha Grã-Bretanha, que quando o mar é crespo no canal a BBC anuncia que “o Continente está isolado”.
Renzi, o primeiro-ministro italiano, mandou ontem a União Europeia àquela parte, por causa do Orçamento de Estado. O jovem italiano tem uma arma fatal contra os burocratas: Pega nos 160 000 refugiados de Lampedusa e atira-os para França e para a Áustria, em direcção à Alemanha dos tecnocratas.
Mas tirando este momento, fraquito mas bom, os líderes europeus são uns títeres agachados e sem miolos.
O que Sanders e Corbyn nos demonstram é que a política com nobreza está na experiência e na consistência dos valores defendidos ao longo da vida. Em Portugal há ainda mulheres e homens assim. Mas mal olham para as máquinas partidárias, suas jotas e seus aparelhos, desistem, cheios de razão. Aos 50 não se começa uma carreira porque se está velho, diz-se por cá. Pobre país.
Eu gosto de gente com idade. Sabem muito. E provam-nos que a vida está sempre a começar.
[…] Source: Sanders, Corbyn, aos 70, e a revolução precisa – Jornal Tornado […]