Dezembro é o mês habitual deste encontro cinéfilo em Santa Maria da Feira. Desta vez em Abril, o “Luso-Brasileiro” de 2018 vai realizar-se numa semana em que o Brasil anda nas bocas do mundo, à conta de factos lamentáveis da sua actualidade política e judicial. Que o cinema, que poderá ser visto durante esta semana, possa contribuir para a recuperação da imagem (nos tempos recentes tão abalada) do maior país da lusofonia, são os votos que aqui deixamos.
A “festa” de Santa Maria da Feira começa hoje, com a abertura oficial agendada para as 21h45 no Auditório da Biblioteca Municipal. O filme de abertura é “Benzinho” de Gustavo Pizzi, com Karine Telles e Adriana Esteves como nomes principais do elenco. Com excelente acolhimento nos festivais de Roterdão e de Sundance, “Benzinho” trata de situações banais da vida quotidiana de uma família em que a mãe assume o papel central de uma trama que mistura, de forma harmoniosa, dores e alegrias, humor e poesia, amor e nostalgia.
Sete filmes brasileiros na competição de longas-metragens
Nesta edição do festival na competição de longas só há produções brasileiras. São elas: (para além do já referido “Benzinho”):
“Los Leones”
De André Lage
Documentário sobre a vida de uma travesti e do seu companheiro numa ilha argentina.
“Pendular”
De Júlia Murat
Uma abordagem sobre o amor, a arte e a incomunicabilidade (exibido na secção Panorama do Festival de Berlim.
“Fala Comigo”
De Felipe Sholl
A estranha história de um jovem que se entretem a ligar para as pacientes da sua mãe que é terapeuta e se envolve com uma delas já com mais de quarenta anos.
“A Moça do Calendário”
De Helena Ignez
Centrado na fixação de um homem com uma vida dupla (mecânico durante o dia e dançarino à noite) pela imagem de uma mulher num calendário que está afixado na sua oficina.
“Unicórnio”
De Eduardo Nunes
Exibido no Festival de Berlim é adaptação (protagonizada por Patrícia Pilar) de dois contos da escritora brasileira Hilda Hilst.
“Vermelho Russo”
De Charly Braun
Uma intriga amorosa vivida por duas atrizes brasileiras que se mudam para Moscovo para estudar o célebre método de atuação do russo Constantin Stanislavski.
24 curtas-metragens em concurso
A presença portuguesa nas áreas competitivas do Festival está este ano circunscrita às curtas-metragens, secção que teve a curadoria da realizadora brasileira Karen Black (não confundir com a famosa actriz norte-americana com o mesmo nome falecida em 2013). A lista dos trabalhos em competição é a seguinte:
Portuguesas
- “Água mole” de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires (Xá)
- “Altas cidades de ossadas” de João Salaviza
- “Andorra Liechtenstein”, de João Costa
- “Habitado” de Daniela Fortuna
- “Hoji nu sta li, manhã nu ca sta” de Daniel Veloso
- “Laura” de Tânia Diniz
- “O homem eterno” de Luís Costa
- “Tudo o que imagino / All I imagine” de Leonor Noivo
- “Ubi Sunt” de Salomé Lamas
- “Vou-me despedir do rio” de David Gomes e Pedro Cruz
Brasileiras
- “A poeira não quer sair do esqueleto” de Daniel Santiso e Max William Morais
- “De tanto olhar o céu gastei meus olhos” de Natália Tereza
- “El meraya” de Gustavo Jahn e Melissa Dullius
- “Maria” de Elen Linth
- “Minha única terra é na lua” de Sérgio Silva
- “Nanã” de Rafael Amorim
- “Oceano” de Renato Duque
- “Superpina” de Jean Santos
- “Tente não existir” de Amanda Devulsky
- “Terra Não Dita Mar Não Visto” de Lia Letícia
- “Torre” de Nádia Mangolini
- “Travessia” de Safira Moreira
Luso-brasileiras
- “Semente exterminadora” de Pedro Marques Neves
- “Tabu, propriedade privada” de Maria Ganem
Homenagens e destaques
Marco Martins, Rogério Sganzerla…
Com os primeiros cinco dias integralmente ocupados com trabalhos em competição, os últimos três dias da mostra feirense serão também tempo de homenagens e de sessões especialmente dedicadas às obras de cineastas, portugueses e brasileiros.
Palas 16 horas de sábado, 14, Marco Martins estará presente para debater com os espectadores a sua primeira obra de ficção, o excelente “Alice” de 2005, agora apresentado em nova versão digital.
Às 19h30 do mesmo dia será homenageado o cineasta brasileiro Rogério Sganzerla (1946-2004) com a exibição da cópia restaurada de “O Bandido da Luz Vermelha”. A sessão contará com a presença daquela que foi sua mulher, a actriz e realizadora Helena Ignez, diva do cinema marginal brasileiro e que, como já foi dito participa na competição de longas-metragens.
… Salomé Lamas…
No domingo, 15, pelas 18h30, na penúltima sessão do festival o foco estará em Salomé Lamas, um dos nomes mais seguros da nova geração de cineastas portugueses. Multi-premiada em Portugal e no estrangeiro dela serão exibidos “Golden Dawn”, “A Comunidade”, “A Torre” e “Coup de Grâce” num programa com o significativo título de ‘Sangue Novo’.
… e Fellipe Barbosa
O cineasta brasileiro Fellipe Barbosa será outro nome em destaque no ‘Luso-Brasileiro’. Nascido em 1980 no Rio de Janeiro é um autores mais renomados do cinema brasileiro dos anos mais recentes. Dele serão exibidos “Laura” (2011), na sexta-feira,13, às 18h30 e “Casa Grande” (2014), no domingo, 15, às 16 horas.
“Gabriel e a Montanha” no encerramento
Será também de Fellipe Barbosa o filme da sessão de encerramento do Festival a ter lugar no domingo, 15, pelas 21h30 e na qual será feito o anúncio e a entrega dos prémios. Trata-se de “Gabriel e a Montanha”, realizado em 2017, e que tivemos oportunidade de ver na competição de Valladolid. É o relato da viagem aventureira e trágica de um jovem brasileiro, Gabriel Buchmann, que antes de iniciar a sua vida académica nos Estados Unidos resolve empreender uma longa viagem por vários países africanos mas evitando os roteiros turísticos mais tradicionais. Acaba por morrer em circunstâncias trágicas no Malawi, com Moçambique à vista. Um filme que recebeu dois prémios na Semana da Crítica do Festival de Cannes.
Para finalizar uma nota de muito apreço para o trabalho dos organizadores do Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira e, em particular, para o Américo Santos e a Cristina Mota que, para além do excelente trabalho que estão a realizar no Cinema Trindade, no Porto, ainda encontram tempo e ânimo suficientes para manter um certame já histórico e de grande importância nas relações culturais entre Portugal e o Brasil.