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Terça-feira, Julho 16, 2024

São Paulo S.A.: Desenvolvimentismo e industrialização no filme de Luiz Person

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

O filme retrata o começo do sonho do “Brasil Grande”, do desenvolvimento vivido sob Juscelino Kubitschek (entre 1957 e 1961), depois aprofundado pela ditadura de 1964, com base no arrocho salarial, no desprezo aos direitos dos trabalhadores e na rendição às imposições do capital estrangeiro.

A instalação de indústrias automobilísticas estrangeiras no Brasil na euforia desenvolvimentista, no final dos anos 1950, trouxe grandes mudanças na sociedade e na organização do trabalho.

Em São Paulo S.A., Carlos, um jovem da classe média paulistana, começa a trabalhar numa grande empresa e ascende na profissão, tornando-se gerente em uma fábrica de autopeças, da qual se torna gerente. Seu patrão é um canalha, sonegador de impostos e tem várias amantes.

Mas parece que isto não importa, e Carlos torna-se um típico chefe de família da sociedade burguesa: trabalha muito, ganha bem, consome bens da indústria, mas vive insatisfeito. Um chefe de família típico de classe média, que não é nem bom filho, bom marido, bom amante ou bom pai.

Perambulando pela represa Guarapiranga, praia de São Vicente, Interior e centro de São Paulo, ou pela fábrica da Volkswagen na beira da Rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), Carlos pode ser visto como o protótipo do profissional de classe média, insosso e sem graça, que se submete a tudo para “vencer na vida”.

Ajuda o patrão, o ítalo-brasileiro Arturo, em suas falcatruas para sonegar impostos, burlar a legislação trabalhista, a manipular os empregados – tudo dentro de uma típica estratégia de acumulação capitalista primitiva.

O filme retrata o começo do sonho do “Brasil Grande”, do desenvolvimento vivido sob Juscelino Kubitschek (entre 1957 e 1961), depois aprofundado pela ditadura de 1964, com base no arrocho salarial, no desprezo aos direitos dos trabalhadores e na rendição às imposições do capital estrangeiro.

Embora bem-sucedido, Carlos dá sinais de que entende que aquela riqueza material é vazia de sentido se for desprovida de aspirações mais profundas nessa vida. Em diversos momentos ele parece ser um mero espectador de sua própria vida. Sem um projeto de vida ou perspectivas para fugir da condição que rejeita, só lhe resta fugir.

 

Veja o filme na íntegra:

 

São Paulo Sociedade Anônima

Brasil, 1965
Direção: Luiz Sergio Person
Elenco: Walmor Chagas, Eva Wilma, Darlene Glória, Otello Zeloni, Etty Fraser, Sérgio Hingst


Texto em português do Brasil


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