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João de Sousa

Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

“Eles são uns lutadores”

Desenho de Mónica Cid, Urban Sketchers Portugal
Desenho de Mónica Cid, Urban Sketchers Portugal

Vanda Nascimento está na direcção da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa (ESD-IPL) há dois anos. Quando questionada acerca das principais dificuldades que o ensino da Dança atravessa num panorama nacional, a resposta é simples: “financiamento”. A falta de verbas gera, na ESD, uma ginástica e um esforço comum de docentes, não-docentes e alunos para que tudo corra bem.

Desenho de António Araújo, Urban Sketchers Portugal
Desenho de António Araújo, Urban Sketchers Portugal

“Enquanto directora eu só tenho que  agradecer e que louvar o trabalho enorme de entrega que têm, quer os funcionários da escola, os nossos colaboradores em todos os serviços quer os professores que estão sempre disponíveis para que a escola não pare”, elogia a directora.

Apesar da vocação e empenho, os alunos apercebem-se das menores condições a que estão sujeitos, como explica Vanda Nascimento:  “são os primeiros a perceber as dificuldades porque eles sofrem-nas na pele. Se, por um lado, os faz desmotivar, eu penso que não”. Por ser um ensino artístico e vocacional, a directora acredita que os alunos estão ali porque querem e lutam diariamente contra as adversidades como a chuva que por vezes entra nos estúdios ou os fungos que nascem nas paredes do edificio. “Os nossos alunos são, de facto, lutadores”, afirma a directora e acrescenta, “estão disponíveis para se apresentarem e para colaborarem uns com os outros nos projectos e têm um envolvimento grande na escola”.

Vanda Nascimento mostra paixão ao falar da sua escola, que foi também onde se formou. Mas a paixão não começa aqui.

 

Desenho de Teresa Ruivo, Urban Sketchers Portugal
Desenho de Teresa Ruivo, Urban Sketchers Portugal

“Eu sou do ensino”

As palavras são da própria directora que admite que desde pequena gosta de ensinar. O gosto pela dança também vem da infância embora, efectivamente, só tenha começado a frequentar uma escola especializada na adolescência.

Vanda Nascimento nasceu em Luban (Angola) e só por volta dos 13 anos se mudou para a capital, Luanda, onde começou a frequentar uma escola especializada e a levar a sério a dança.

Depois de uma carreira com algumas lesões e muitos espectáculos dentro e fora do seu país natal, Vanda decidiu optar pelo ensino. Ao mesmo tempo que praticava, ainda num período de formação, começou a dar aulas aos alunos mais pequenos.

Em 1987, entra para a Escola Superior de Dança, onde faz o bacharelato para depois regressar a Angola, por mais dois anos. Nessa altura conhece o marido, razão que a leva a voltar para Portugal e integrar a Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, como professora, onde permaneceu  6 anos. “Continuo ligada à Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, porque foi a minha primeira escola que me acolheu em Portugal, no ano em que eu cheguei vinda do nada e aí tive logo o meu primeiro emprego. Foi muito positivo”, relembra.

A seguir começa o seu percurso na ESD, onde depois de tirar a licenciatura, foi convidada a ficar como professora-assistente.  Passou um pouco por todos os órgãos da escola e, há dois anos, depois de concluir o doutoramento em Ciências da Educação na Universidade de Sevilha, “era o momento da minha missão, candidatei-me à direcção da escola”, lembra.

 

Desenho de António Araújo, Urban Sketchers Portugal
Desenho de António Araújo, Urban Sketchers Portugal

Uma mensagem de esperança

Apesar das dificuldades que a Dança atravessa actualmente, enquanto arte e ao nível do ensino, Vanda Nascimento acredita que ainda há público e interessados em lutar por esta arte.

A escola tem, anualmente, mais candidaturas que vagas disponiveis  quer para as licenciaturas quer para o mestrado que chega este ano à 5ª edição. “Portanto, nós temos população a chegar-nos. Quer dizer que as pessoas se interessam apesar disso”, refere a directora.

Quanto aos mais novos, que ainda estão a iniciar o seu percurso na dança, Vanda Nascimento recorda a mensagem que transmitiu também à sua filha, na altura em que esta quis seguir uma carreira como bailarina: “Segue o teu sonho! É trabalhoso, temos de trabalhar todos os dias, temos que superar-nos todos os dias mas vale a pena”.

Desenho de Eduardo Salavisa, Urban Sketchers Portugal
Desenho de Eduardo Salavisa, Urban Sketchers Portugal

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