Vanda Nascimento está na direcção da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa (ESD-IPL) há dois anos. Quando questionada acerca das principais dificuldades que o ensino da Dança atravessa num panorama nacional, a resposta é simples: “financiamento”. A falta de verbas gera, na ESD, uma ginástica e um esforço comum de docentes, não-docentes e alunos para que tudo corra bem.
“Enquanto directora eu só tenho que agradecer e que louvar o trabalho enorme de entrega que têm, quer os funcionários da escola, os nossos colaboradores em todos os serviços quer os professores que estão sempre disponíveis para que a escola não pare”, elogia a directora.
Apesar da vocação e empenho, os alunos apercebem-se das menores condições a que estão sujeitos, como explica Vanda Nascimento: “são os primeiros a perceber as dificuldades porque eles sofrem-nas na pele. Se, por um lado, os faz desmotivar, eu penso que não”. Por ser um ensino artístico e vocacional, a directora acredita que os alunos estão ali porque querem e lutam diariamente contra as adversidades como a chuva que por vezes entra nos estúdios ou os fungos que nascem nas paredes do edificio. “Os nossos alunos são, de facto, lutadores”, afirma a directora e acrescenta, “estão disponíveis para se apresentarem e para colaborarem uns com os outros nos projectos e têm um envolvimento grande na escola”.
Vanda Nascimento mostra paixão ao falar da sua escola, que foi também onde se formou. Mas a paixão não começa aqui.
“Eu sou do ensino”
As palavras são da própria directora que admite que desde pequena gosta de ensinar. O gosto pela dança também vem da infância embora, efectivamente, só tenha começado a frequentar uma escola especializada na adolescência.
Vanda Nascimento nasceu em Luban (Angola) e só por volta dos 13 anos se mudou para a capital, Luanda, onde começou a frequentar uma escola especializada e a levar a sério a dança.
Depois de uma carreira com algumas lesões e muitos espectáculos dentro e fora do seu país natal, Vanda decidiu optar pelo ensino. Ao mesmo tempo que praticava, ainda num período de formação, começou a dar aulas aos alunos mais pequenos.
Em 1987, entra para a Escola Superior de Dança, onde faz o bacharelato para depois regressar a Angola, por mais dois anos. Nessa altura conhece o marido, razão que a leva a voltar para Portugal e integrar a Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, como professora, onde permaneceu 6 anos. “Continuo ligada à Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, porque foi a minha primeira escola que me acolheu em Portugal, no ano em que eu cheguei vinda do nada e aí tive logo o meu primeiro emprego. Foi muito positivo”, relembra.
A seguir começa o seu percurso na ESD, onde depois de tirar a licenciatura, foi convidada a ficar como professora-assistente. Passou um pouco por todos os órgãos da escola e, há dois anos, depois de concluir o doutoramento em Ciências da Educação na Universidade de Sevilha, “era o momento da minha missão, candidatei-me à direcção da escola”, lembra.
Uma mensagem de esperança
Apesar das dificuldades que a Dança atravessa actualmente, enquanto arte e ao nível do ensino, Vanda Nascimento acredita que ainda há público e interessados em lutar por esta arte.
A escola tem, anualmente, mais candidaturas que vagas disponiveis quer para as licenciaturas quer para o mestrado que chega este ano à 5ª edição. “Portanto, nós temos população a chegar-nos. Quer dizer que as pessoas se interessam apesar disso”, refere a directora.
Quanto aos mais novos, que ainda estão a iniciar o seu percurso na dança, Vanda Nascimento recorda a mensagem que transmitiu também à sua filha, na altura em que esta quis seguir uma carreira como bailarina: “Segue o teu sonho! É trabalhoso, temos de trabalhar todos os dias, temos que superar-nos todos os dias mas vale a pena”.