É possível que seja e o romance com que a 20Ι20 Editora nos brinda, O Trilho da Morte, não desilude e é uma boa história que só consolida essa mais que provável posição no trono dos autores de policiais no norte da Europa.
A outra autora que lhe poderia disputar o trono, Camilla Läckberg, embora esta reine na Suécia, coloca-a entre as melhores. Concordamos. O que não pode deixar, contudo, de nos interrogar, é como em poucas décadas, os países do norte da Europa forneceram-nos excelentes autores de policiais e quase sempre mulheres.
Será que o Inverno e o isolamento convidam ao género, à lenta elaboração de macabros e sanguinários enredos? De qualquer modo, o patrono do género nos gelados países do norte da Europa, é Henning Mankell, sueco, casado com a filha de Ingmar Bergman, com ligações a Moçambique, e entretanto já falecido aos 67 anos, em 2015. Mankell tem os seus livros editados entre nós na Ed. Presença. Alguns dos seus livros foram adaptados para televisão e já passaram entre nós.
Já agora, outro homem com excelente investida no romance policial e também editado entre nós, é Jo Nesbo, oriundo da Noruega, também economista de formação como Camilla Läckberg. Os seus romances têm uma componente política bastante forte e talvez seja essa uma das suas marcas distintivas (embora também encontremos essa dimensão bem acentuada em Henning Mankell).
De assinalar, entre as estrelas do policial nórdico, o casal (não é caso único) de autores Maj Sjöwall e Per Wahlöö. Pesquisavam juntos e escreviam os capítulos alternadamente. Foram editados entre nós, pela primeira vez, nas décadas de 80 e 90 do século passado pela Editorial Caminho, uns excelentes livros de capa negra (colecção Caminho de Bolso) com espectaculares capas com ilustrações de Henrique Cayatte, como não podia deixar de ser recordando as também imaginativas capas da colecção Vampiro com ilustrações, nomeadamente, de Lima de Freitas e que era editada ao mesmo tempo que uma extraordinária colecção de capa azulada do mesmo formato mas no âmbito da ficção científica.
Vários livros de Maj Sjöwall e Per Wahlöö foram editados na Caminho, como por exemplo, um título inesquecível, Desapareceu um Carro dos Bombeiros (1992).
Quanto a mulheres escritoras não deixa de ser interessante (embora também possa ser irrelevante) o grande número de mulheres escritoras. Aqui, o nome da já referida Camilla Läckberg talvez seja o mais sonante, conhecida dos portugueses desde que foi publicado o seu Princesa de Gelo em 2010, apesar de ser de 2003.
Quanto a Sara Blaedel e O Trilho da Morte, deve-se desde já dizer que está à altura de As Raparigas Esquecidas, da mesma autora, também editado pela 20Ι20, em 2015.
Novamente temos uma pequena comunidade, os seus segredos inconfessáveis e, desta vez, uma espécie de desaparecimento dum adolescente. Não desaparece completamente. Mas também se recusa a aparecer.
Só pode haver aqui qualquer coisa que nos está a escapar e que só desvendaremos aos poucos. Ora, enquanto os dias chuvosos não nos abandonarem, será que poderemos recusar a sua cativante história?
Sara Blaedel, O Trilho da Morte, 20Ι20 Editora, 284 pp.