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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Saúde Social e Mental nas Organizações

Isabel Rodrigues
Isabel Rodrigues
Escritora, licenciada em Psicologia Clínica, Poeta, Contista, Ensaísta, Assistente técnica

saude-mental-social

 

Reflexão:
A sociedade não se ajusta e não se reforma, são estruturas que se renovam em ciclos, onde essas estruturas envelhecem: se não há mudança sufocam como dentro de uma “camisa de forças”onde não se respira as novas atitudes e não se adquirem novas estratégias. As sociedades ou se renovam através da sua destruição ou da sua reconstrução.

Um sistema político com o tempo perde o vigor, a elasticidade, a flexibilidade, a capacidade de auto-regularização.

As elites de momento já não respondem aos pedidos que as pressionam internamente, se não as souberem escutar “novas e corruptas formas a que assistimos todos os dias tomam conta desses circuitos que podem levar à destruição silenciosa, total e maciça de um todo já há muito tempo elaborado e já verificado que funciona destruindo a raiz base de algo já construído e que não precisava ser renovado, as premissas paradigmáticas e duradouras”. (Rodrigues, I.)

Pode ser, por sua vez, feito de forma saudável de outra forma, esse poder é substituído por novas formas de solidariedade, outros grupos, outros líderes, que expulsam e tomam o lugar dos antigos líderes obsoletos que definham, e criam novas estruturas funcionais dentro da sociedade.

Estas novas entidades emergentes surgem nos movimentos e novos grupos que se afirmam em novas formas de ser e de pensar os novos valores, porque a sua importância reside na intervenção destas “mutanti operandi” que sacodem o velho Mundo para não se tornar rígido como pedra. As pessoas que compõem a sociedade passam por uma morte renascida, uma metanóia, um estado nascente para que seja possível essa regeneração. Geralmente chama-se revolução espiritual e possivelmente social, não uma morte física.

A revolução social, passa por passos quase imperceptíveis, é natural, daí a sua importância, uma adaptação quase inconsciente à transformação sócio-económica a uma realidade produtiva onde são superadas provas, tarefas e estudos inovadores. “A progressão científica e tecnológica num novo clima político de confiança das organizações que estabilize as correntes que nos sustentam e que dê possibilidade a outras de serem criadas de forma a que novos valores sociais sejam viáveis e visíveis a partir de um todo antes imperceptível e que agora surge coerente a nível das populações e das organizações.

A saúde mental de um sistema complexo necessita disso mesmo. A estabilidade duradoura de confiança, de criar núcleos comunitários de percepção do real de forma a que se organizem mentalmente sobre premissas que resultam, declinando as anteriores que levaram à destruição de estruturas base e que permita novas formas e pontos de vista emergentes da capacidade humana que têm ainda de reconstruir-se e reconstruir uma sociedade já abalada por erros sistemáticos e que não resultam. Estes erros que nada formaram, esses sim, deverão ser destruídos, porque não permitiram o tal renascimento das ideias e das vontades de fazer os novos caminhos.” (Rodrigues, I.)

A Reflexão da Psicologia Social Europeia

Que resulta, resultou ou está a levar à desintegração da velha Europa?

Que saúde e confiança temos nas Instituições, nas premissas dos velhos tratados, dos critérios das cartas comunitárias e dos direitos sociais?

Vejamos…

De um sonho e dos acontecimentos mundiais partiu esta adesão, Vítor Hugo, “imaginou os estados activos e unidos da Europa a pôr fim a antagonismos específicos e unidos num ideal humanitário”.

Mas foi das cinzas da Segunda Guerra Mundial em que depois de alguns líderes terem resistido ao totalitarismo durante essa guerra que estavam determinados, a pôr fim aos antagonismos nacionais e a criar uma paz duradoura. Entre 1945 e 1950 um punhado de estadistas corajosos, como Robet Schuman, Konrad Adenauer, Alcide de Gasperi e Winston Churchill empenharam-se em persuadir os seus povos a iniciarem uma nova era.

No dia 9 de Maio de 1950, Robert Schuman, Ministro dos Negócios Estrangeiros Francês, profere um importante discurso em que avança propostas inspiradas nas ideias de Jean Monnet. Propõe que a França e a República Federal da Alemanha ponham em comum os seus recursos de carvão e aço, numa organização aberta aos outros países da Europa.

Este dia teve um valor simbólico neste acto pragmático ou seja, como as matérias-primas da guerra foram transformadas em instrumentos de reconciliação da paz.

Aqui nota-se uma tentativa do pós-guerra de encontrar a saúde mental e organizacional das instituições mundiais e dos países na tentativa de reconstrução das nações unidas da seguinte forma: ao unir as matérias-primas às necessidades das populações deixava este acto de ter em si, a função bélica anterior, que levava à destruição dos indivíduos. Este acto foi deveras importante para entender e aplicar essa nova forma de ver a sociedade da altura na criação dos novos estados membros, o que na realidade veio a acontecer. (Rodrigues, I.)

Durante:

A União Europeia é um pacto entre nações soberanas, decididas a partilhar um destino comum e a exercer em conjunto uma parte crescente da soberania, que incide sobre os valores mais profundamente prezados pelos povos da Europa e da paz, o bem-estar físico e económico, a segurança, a democracia partidária, a justiça solidariedade.

Este pacto está a ser reforçado e confirmado em todo o continente: 500 milhões de seres humanos optaram por viver sob o primado da lei e em harmonia com valores seculares humanitários e de dignidade humana. (Fontaine, P.)

Devemos realçar a importância do bem-estar mental, assistimos hoje a novas doenças do foro psicológico, megalomanias, extremismos exacerbados e recrutamentos de pessoas para ingressar em linhas de destruição, novas formas de violência, formas diferentes de pobreza devido à deterioração dos estados sociais que não dão resposta eficaz a muitos casos. Surgiram expectativas frustradas de esperanças que não foram renovadas, seja a nível europeu seja a nível pessoal. (Rodrigues, I.)

Premissa: Excerto da Declaração de Copenhaga.

“Les neuf États européens, que leur passé et la défense égoïste d’intérêts mal compris auraient pu pousser à la division, ayant dépassé leurs antagonismes, ont décidé de s’unir en s’élevant au niveau des nécessités européennes fondamentales, pour assurer la survie d’une civilisation qui leur est commune. Désireux d’ assurer le respect des valeurs d´ ordre juridique, politique, auxquels ils sont attachés, soucieux de préserver la riche variété de leurs culturales nationales…et du respect des droits de l´homme, qui constituent des éléments fondamentaux de l´identité européenne…
(Parlement Européen, bulletin 1973-1974, n.os 43/73, pp. 8-9Cf Pamela Sticht, ob. Cit., p 46.)
Retirado de Europa em Mutação (Ribeiro, T. M. Maria. na altura Professora Associada da Universidade de Coimbra) A Europa da unidade e da diversidade culturais.

Até que ponto foi eficaz ou não a integração a nível de criação de uma nova identidade social? Que vertentes faltam verificar para manter os princípios básicos de convivência mundial dentro do caminho de uma saúde mental, física e social eficaz?

Nos dias de hoje…que futuro?

O processo da integração europeia afecta presentemente todo o continente que, por seu turno, faz parte de um mundo em mudança acelerada e radical que precisa de encontrar uma nova estabilidade. A Europa é afectada por acontecimentos registados noutros continentes, sejam eles os decorrentes das relações ou impossibilidade de qualquer negociação com o mundo islâmico neste momento devido às acções extremistas, da doença e fome em África, das tentações do unilateralismos dos E.U.A e agora a nova definição do seu papel junto da Europa, quais as novas politicas de cooperação e o dinamismo e crescimento na Ásia, qual a sua importância e interesse numa relação saudável com os estados membros. (Fontaine, P.)

Ter em conta…

A Europa não se pode concentrar só no seu próprio desenvolvimento mas como é feita a deslocalização global das indústrias e as normas taxativas impostas nos países membros para os bens essenciais, como são feitas as amortizações dos capitais devedores e de uma forma viável de manter a coesão europeia.

As instituições comunitárias deram já boas provas da sua importância junto das populações e da sua responsabilidade junto das comunidades.

As reformas devem concentrar-se no processo decisório, no assumir das responsabilidades e na não repetição de erros sistemáticos. O referendo britânico sobre a sua saída da União Europeia e as possíveis alterações de políticas anteriormente aceites, quais as saídas e as suspensões de entradas na União Europeia e quais as causas profundas de tudo isto a longo prazo. Como as gerações futuras vão reagir aos avanços da ciência e da tecnologia e quais os benefícios e perigos que dai advêm em termos éticos e sociais e na saúde das organizações e dos próprios indivíduos.

Concluo…

Espero que o sonho de Vítor Hugo não tenha sido em vão e caso se desvaneça… outras formas de sonho se encontrem de forma a que os Países vivam em harmonia geográfica, económica e política na perspectiva de uma saúde plena e estruturada. Harmonia que seja novamente pensada de uma forma acessível a todos, em termos de saúde mental, física, cultural, concebida e projectada na convivência saudável dos povos e que seja traduzida num valor social imensurável. (Rodrigues, I).

Bibliografia:
Fontaine, P. A Europa em 12 lições. Serviço de publicações oficiais das comunidades europeias. Comissão Europeia. Luxemburgo. 2007
Alberoni, Francesco. Valores. Pág 59-64, Nona Reflexão, Circulo de Leitores. 2002
Ribeiro, T. M. Maria (coord). Europa em Mutação. Cidadania, identidades. Diversidade Cultural. Ed. Quarteto. 2003

 

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